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Amigos de Infância

Falar de amigos de infância é falar de um laço único que resiste ao tempo e à distância. Quantas vezes não nos encontramos com amigos de infância apenas para recordar aventuras inconfessáveis, como quando, por exemplo, conspirámos para ir à discoteca pregar uma partida à professora de quem não gostávamos… Passaram-se só, 30 anos, mas, no entanto, estas memórias continuam tão vivas e emocionantes como se tivessem acontecido ontem.

Entre amigos de infância é frequente associar memórias a emoções fortes. Na verdade, trata-se de relações cimentadas durante a primeira infância, fortemente ancoradas na nossa memória e daí serem lembradas de forma tão intensa.

Na infância. A infância é um momento privilegiado para fazer amigos e as nossas primeiras e verdadeiras amizades iniciam-se entre os três e os seis anos de idade. Mas por que razão escolhemos os amigos que escolhemos? Na verdade, a seleção do nosso leque de amizades não é fruto do acaso. Ao eleger um amigo, a criança assume- se e inicia o seu processo de autonomização da família, com a qual não tem uma relação tão globalizante como a que tem com um amigo especial. No fundo, é ele o companheiro privilegiado de jogos e a melhor proteção para iniciar outras relações afetivas. Esta amizade vai enriquecer a sua visão do mundo e, muitas vezes, imprimir a coragem necessária para arriscar um pouco mais na descoberta do que está à sua volta. Mas não só. Nestes relacionamentos intensos, as crianças testam a capacidade de desempenhar papéis da vida de adulto, como o amor, o ciúme, a traição e o perdão. Preparam-se, assim, para enfrentar o longo processo que os aguarda de crescimento e interação com os outros. O período da adolescência faz-nos valorizar ainda mais esta relação de amizade. Num momento em que muitos aspetos da nossa vida parecem ter entrado em mudança e em que as crises de crescimento são dolorosas, este amigo é uma espécie de porto seguro.

Quantas vezes, depois de uma discussão em família, por exemplo, reconsiderámos a nossa posição conversando, barafustando e deixando sair toda a raiva com esse amigo? O conhecimento desenvolvido ao longo dos anos permite- nos confidenciar as fantasias mais estranhas e os desejos mais profundos.

Amizade ou amor? Na idade adulta é frequente elegermos o nosso amigo de infância para desenvolver projetos profissionais, justamente por se tratar de uma pessoa em quem confiamos incondicionalmente. De um modo geral são experiências bem conseguidas e não é raro encontrar empresas de sucesso que começaram baseadas nesta forma de amizade.

Se o sucesso profissional é frequente, o mesmo não se pode dizer no que respeita a relações amorosas. O amigo de infância pode ser do sexo oposto e a tentação de ir mais além neste relacionamento pode acontecer. Pode mesmo pôr- se a hipótese de casamento. Geralmente não funciona. À partida, a confiança e o conhecimento do outro seriam mais-valias para que tudo desse certo, mas a rutura que geralmente acontece advém precisamente da falta de novidade junto de alguém que conhecemos bem, muitas vezes em facetas que podemos aceitar enquanto amigos mas que temos dificuldade em integrar numa vida a dois. O relacionamento amoroso tem melhor prognóstico quando é assente numa boa amizade, mas uma grande proximidade prévia por vezes é de mais.

Alimentar a amizade. “Para além do tempo e da distância” poderia ser um lema associado às amizades de infância, mas nem sempre o ditado se confirma. Se queremos que a amizade perdure, temos que saber alimentá-la para que consiga sobreviver a períodos de separação. Existem momentos mais ou menos longos, mais ou menos definitivos, em que o nosso melhor amigo é posto “fora de jogo”. A intensidade e especificidade desta relação pode ser abalada pela complexa rede de relações que vamos estabelecendo ao longo da vida. E a promoção social é frequentemente a razão de uma rutura. A dificuldade de conjugar outras amizades, a alteração de valores e modos de estar resultam num afastamento definitivo.

Contudo, nalguns casos esta amizade mantém-se clandestina, resistindo num espaço de intimidade que é só nosso e que não partilhamos ou deixamos invadir por ninguém, nem mesmo pelo nosso companheiro. É como se fosse uma bolsa de oxigénio que nos permite retemperar forças, encontrar outras formas de encarar a vida e da qual não abdicamos.

Há quanto tempo! Outra característica das amizades de infância é resistirem à distância e ao tempo. Acontece perdermos o rasto do melhor amigo por dez anos, mas um novo encontro tem a atualidade de “como se nos tivéssemos visto ontem”. Paradoxalmente, tal significa que a relação evolui. É uma relação inteligente que mantém um forte laço afetivo e nos permite estar próximo do outro. É suficientemente flexível e curiosa para acolhermos as diferenças do outro como ponto de interesse que vale a pena descobrir.

A importância de um amigo de infância e de uma rede de amigos tem sido demonstrada em diversos estudos e traduz-se por melhor saúde física e melhor bem-estar psicológico. O que não é de estranhar, já que são estes amigos que nos dão suporte emocional, conselhos e ajuda prática, aliviando muito o stress da nossa vida de cada dia.

 

 

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