A gravidez é um período geralmente desejado e bem recebido pelos casais. Mas se para a mulher significa um tempo de transformação e novidade, para o homem é muitas vezes um período marcado por um misto de alegria e ansiedade.
Quanto à alegria, a sua razão parece-me evidente. Já a ansiedade está muitas vezes relacionada com a incapacidade em compreender e ajudar a mulher a ultrapassar as dificuldades decorrentes das transformações da gravidez.
Primeiro trimestre. Qualquer tipo de ajustamento gera stress e a preparação para um novo ser na família é uma enorme mudança no estilo de vida de cada um de nós. O espaço físico e mental vai ser alterado e partilhado por um bebé. Os próximos nove meses são momentos de incerteza e novidade para a mulher e para o homem.
Compreender as alterações que vão ocorrendo durante este período pode ajudar o casal a ultrapassar pequenos desentendimentos. Assim, durante o primeiro trimestre a mulher experimenta grandes mudanças no seu ambiente hormonal de maneira a preparar o corpo para gerar uma nova vida. Nesta fase é comum as mulheres mostrarem-se susceptíveis, com mudanças súbitas de humor, especialmente no sentido da irritabilidade e do humor depressivo. Os enjoos matinais não são comuns a todas as mulheres, mas aquelas que os sofrem referem que os mesmos desaparecem ao fim dos primeiros dois a três meses. Cheiros, habitualmente tolerados, como comida, tabaco, etc., podem tornar-se incómodos e despoletar situações de enjoo.
Para ajudar a ultrapassar estes incómodos, o marido pode ter em atenção os intervalos entre refeições, até porque um estômago vazio pode aumentar a sensação de náusea e uma ida ao cinema pode ser mais descansada e agradável para ambos se antes cuidarem do estômago antes de entrarem na sala.
Segundo trimestre. Durante o segundo trimestre o maior desafio surge com as alterações que o corpo da mulher começa a sofrer. A mulher pode ganhar peso de uma forma repentina e a presença do bebé torna-se mais evidente através de movimentos que são percebidos pela mãe e muitas vezes visíveis para o pai. Durante este trimestre torna-se possível ouvir o som do batimento cardíaco do bebé e vê-lo nas ecografias. Do ponto de vista psicológico, este é um período em que o bebé faz a sua aparição de forma mais evidente. Se até aí constituía uma ideia, um sonho bonito, agora a sua presença começa a condicionar ainda mais a vida do casal. Alguns dos futuros pais começam a notar que por volta do segundo trimestre a mulher começa a demonstrar alterações no apetite sexual. A resposta das mulheres às mudanças que estão a ocorrer é diferente. Algumas tornam-se sexualmente mais receptivas e alteram a sua frequência nas relações sexuais. Outras podem simplesmente estar demasiado cansadas ou preocupadas se o acto sexual irá prejudicar o bebé. As experiências relatadas deste segundo trimestre são muito diferentes de casal para casal mas a verdade é que não existem regras para encarar a vida sexual. Os casais devem apenas informar-se dos reais inconvenientes que podem estar relacionados com a sua gravidez em particular.
Falar abertamente acerca das mudanças que foram percebidas pode ser uma forma de evitar discussões e mal-entendidos entre alguém preocupado em criar o melhor ambiente para a nova vida e um futuro pai que começa a perceber que vai ter que partilhar a sua mulher com o bebé. Este é um momento único para o casal começar a experimentar novas formas de relacionamento, especialmente marcadas pelo compromisso entre o que quer, o que era habitual e as novas necessidades.
Terceiro trimestre. O terceiro trimestre é o período marcado pela preparação para o parto. As últimas semanas de gravidez parecem eternas para o futuro pai e para a mãe e os dois começam a verbalizar de forma mais intensa a sua preocupação com o bem-estar do bebé e se este será perfeito.
A aproximação do parto aumenta os receios dos futuros pais relativamente ao que irão encontrar. Outro problema que muitas vezes começa a ser verbalizado pelos futuros pais, com o nascimento eminente do filho, prende-se com as responsabilidades financeiras. Este pode ser um momento importante para o casal rever a sua forma de estar na vida e chegar a consensos relativamente ao que considera fundamental para a boa relação do casal e para a educação e bem—estar do seu filho. Para alguns casais, habituados a viverem para os dois, sem preocupações com o futuro, pode ser um assunto difícil. A preparação de um orçamento antecipado pode ter vantagens. Quando se aproxima o momento do parto é comum as mulheres expressarem o seu medo da dor ou do parto. Dizer-lhe apenas que “tudo irá correr bem”, geralmente não é muito eficaz. Importa perceber a dois, antes da “hora H” qual o papel do pai, como pode ser um elemento securizante e como pode participar neste momento, que, quer se queira ou não, vai ser vivido de forma muito intensa pela mulher. Principalmente, é necessário que ambos estejam conscientes das suas responsabilidades e limitações: a mulher não pode esperar que o marido não tenha dificuldades ou hesitações relativamente à sua conduta, ou mesmo que tenha dificuldade em presenciar o seu sofrimento. Não significa desinteresse, menor importância ou desprezo pelo momento, mas todos temos as nossas limitações.