A infidelidade tem ramificações importantes no estudo do comportamento humano. Do ponto de vista estritamente reprodutivo, a poligamia seria o ideal — mais exatamente a “poliginia”, ou seja, um homem para várias mulheres. Trata-se apenas de vantagens biológicas, na medida em que este tipo de comportamento aumenta a variabilidade genética, diminuindo a ocorrência de doenças geneticamente transmissíveis e tornando a humanidade mais adaptável a mudanças no ambiente.
Mas o Homem já evoluiu muito para além da mera biologia e hoje o comportamento é analisado como um todo, nomeadamente quando nos centramos na fidelidade nas relações amorosas. A ideia comum e vulgarmente aceite de que a monogamia é uma regra natural do casamento, ou de uma relação considerada não ocasional, é uma certeza que todos temos quando, durante a infância, adolescência e primeiros anos da vida adulta, imaginamos uma relação duradoura com alguém de quem gostamos. Aceitamos como uma certeza que o nosso casamento será monógamo. No entanto, a realidade é outra. Até há 20 anos quase todos os divórcios tinham como causa a infidelidade. Contudo, hoje em dia, a infidelidade não significa necessariamente o fim da relação.
Os motivos que levam a ter casos extraconjugais são mais complexos do que geralmente imaginamos. Quando existe uma satisfação plena dos cônjuges a nível sexual, as necessidades de cada um são valorizadas e atendidas, a monotonia consegue ser evitada, a cumplicidade, o respeito e o diálogo são uma constante. Muito provavelmente, este será um casal tendencialmente monógamo, pois existem diferentes formas de conceber a infidelidade consoante o género e as características de personalidade de cada um. É menos comum do que se imagina encontrar homens a viver casos extraconjugais que começaram simplesmente por não conseguir resistir a uma “tentação”, arrastando esse caso por anos ou décadas e formando verdadeiras famílias paralelas.
Com as mulheres as coisas passam-se de forma diferente. Geralmente precisam de um motivo forte para terem relações extraconjugais e a vingança de uma traição, o alcoolismo incurável ou a solidão no casamento aparecem no topo das razões que as levam a sucumbir mais facilmente ao amor romântico, imaginando que essa relação paralela irá suprir todas as carências do seu casamento. Quase sempre se apaixonam.
O senso comum mostra-nos facilmente como homens e mulheres são diferentes no campo da monogamia, independentemente da época a que nos reportamos. Os homens classificam com maior frequência as suas relações extraconjugais como pouco importantes, na medida em que o sexo prevalece e não se estabelece uma relação de proximidade e afecto.
Por sua vez, as mulheres referem que as suas infidelidades não são um problema, porque envolvem um estado de paixão e, como tal, não se trata de atos de hostilidade com o sentido de prejudicar o parceiro.
É muito claro que diferentes pessoas atribuem diferentes valores à fidelidade e infidelidade. Estas ideias não são verdades absolutas e daí não poderem ser a única forma de olhar para o fenómeno. Ser infiel no passado não determina um comportamento semelhante para sempre, com qualquer parceiro ou tipo de envolvimento. Mas há outros mitos.
Mito um: todas as pessoas são infiéis.
Trata-se de um comportamento natural e previsível. Dados estatísticos sobre a frequência da infidelidade, no entanto, mostram que cerca de metade das pessoas se envolvem em relações de infidelidade.
Tradicionalmente, este era um comportamento mais característico dos homens, mas atualmente-te as mulheres estão em situação de igualdade. A geração de mulheres mais novas tende a ser mais infiel do que as gerações anteriores. Muitas razões podem ser apontadas para esta mudança de comportamento, mas a ascensão económica e social, com a consequente autonomia financeira e pessoal, permite-lhes fazer escolhas que não as prendem ao medo de perder o casamento.
No entanto, a fidelidade conjugal continua a ser a norma, na medida em que a maior parte dos parceiros é fiel.
Mito dois: a infidelidade faz bem ao casal.
Não totalmente. Um affair pode fazer reviver um casamento monótono — aliás, este é um relato comum de muitos casais que me procuram após terem conhecimento de uma relação extraconjugal. Esta ideia parece assentar na convicção de que um casamento é forçosamente uma situação monótona, indutora de desinteresse e frágil. Se uma situação de crise, como uma relação extraconjugal, pode ajudar o casal a rever a sua relação, resolvendo problemas antigos e enquistados, a infidelidade pode ser a crise mais perigosa, pois atinge os parceiros naquilo que é mais difícil, mas não impossível, que é reconquistar a relação de confiança.
Mito três: quem é infiel não ama o parceiro.
As razões para o aparecimento de uma terceira pessoa na relação são variadas. A maioria relaciona-se diretamente com a satisfação de autoestima do que com as consequências diretas do estilo de relação no casamento. Não é invulgar a descrição de uma relação estável e gratificante no casamento (mesmo a nível sexual) e, ainda assim, o elemento infiel afirmar que, por natureza, precisava de outra pessoa para equilibrar a sua maneira de ser.
Mito quatro: o novo companheiro é mais sexy.
Sim e não! Depende do que o parceiro infiel procura na relação extraconjugal e do estilo de pessoa que é. Este mito decorre de uma realidade que existe e que é influenciada pelos valores transmitidos, por exemplo, pela publicidade, pelas novelas, etc. Mas também é verdade que o homem procura desde sempre a eterna juventude e, não podendo consegui-la para si, fá-lo através do contacto com quem a tem.
Por outro lado, a possibilidade de conseguir através do parceiro da relação de infidelidade algo que levaria muito anos a conquistar por si próprio (poder, prestigio social, segurança económica), faz com que a pessoa eleita seja mais velha. No que respeita ao sexo, muitas vezes o parceiro infiel reconhece que a relação sexual é globalmente mais gratificante em casa. A razão está muitas vezes relacionada com algo que só se consegue estabelecer numa relação de longo prazo.
Mito cinco: a culpa da infidelidade é do outro.
A crença verbalizada de que foi o marido ou a mulher que empurraram o companheiro para a situação de infidelidade é geralmente aceite pelos dois. Se a situação parece duplamente absurda, pois ninguém obriga o outro a fazer aquilo que não quer, a verdade é que nela reside a ideia de que o casamento “terminou” no dia em que decidiram casar. Ou seja, a partir do momento em que dão o nó, ambos os elementos do casal não acham necessária criatividade nem conquista entre os dois. Vêm na sua relação um processo que tem como objetivo a manutenção de uma situação descrita pela palavra “casamento”.
Mito seis: esconder a verdade evita a crise.
Não é uma forma eficaz de lidar com a situação. No entanto, o momento de partilhar a informação de uma relação extraconjugal não deve decorrer de forma precipitada. Esconder a verdade produz uma enorme sensação de destruição. A incapacidade de partilhar informação pode provocar sentimentos altamente destrutivos relacionados com a culpa e a desconfiança e conduzir a comportamentos ainda mais negativos para lidar com a situação. Quando confrontados com uma relação extraconjugal, a abordagem da situação deve ser marcada pela tentativa de compreensão e não culpabilização do contexto.
Assim, antes de confrontar o outro, devemos trabalhar os nossos sentimentos, tentando ganhar força para lidar com o que possa resultar. A ajuda de um profissional, como um terapeuta familiar, pode ser útil para levar a tarefa a “bom porto”.
Mito sete: a única saída é o divórcio.
Não necessariamente. Ultrapassar a situação da infidelidade relaciona-se com o tipo de personalidade de quem está envolvido. Geralmente, um casal em terapia não se divorcia em consequência direta da relação extraconjugal. Se o divórcio acontece, muitas vezes é porque aceitar falar da crise remete o casal para problemas preexistentes que constituem a verdadeira razão para a separação.