A timidez é uma forma ligeira de fobia social e traduz-se na dificuldade de adaptação a novas situações sociais.
Corar, gaguejar ou sentir que faltam recursos para lidar com determinadas situações são sintomas comuns da timidez. Parece que o corpo trai a mente e mostra a todos o que implicou tanto esforço a esconder, ou seja, a incapacidade em lidar com terceiros.
O que é? Uma pessoa tímida tem dificuldade em afirmar as suas necessidades, deixa-se ultrapassar na fila do supermercado sem reclamar, não consegue tomar a palavra em reuniões e costuma isolar- se a um canto em eventos sociais. A timidez é uma forma ligeira de fobia social, uma perturbação bastante mais grave que pode ser paralisante na vida de uma pessoa e deve ser tratada antes de conduzir ao isolamento e à depressão.
Um tímido é uma pessoa que demora mais tempo do que as outras a adaptar-se a novas situações sociais, que desencadeiam nele uma ansiedade forte e menos controlável do que na maioria das pessoas.
Tem geralmente uma imagem negativa de si mesmo e apresenta autoestima fraca. Não crê nas suas capacidades, o que resulta na falta de autoconfiança. Os mais tímidos passam a vida a adiar o cumprimento dos seus sonhos e a arrependerem-se amargamente dessa demora. Incapazes de dar o primeiro passo, não conseguem chegar aos outros, ficando sempre à espera que alguém dê o primeiro passo na sua direção.
Infância fragilizada. Uma leitura possível da timidez reporta- nos à intolerância perante a incapacidade de ser bem sucedido. É comum os tímidos não tomarem iniciativas com receio de estragarem tudo. Têm em si urna ansiedade antecipatória negativa, o que apenas lhes permite antever cenários extremamente derrotistas. Para eles, a critica é sinónimo de rejeição. E se as suas ideias são reprovadas, tal é sentido como humilhação. Estes sentimentos só vêm reforçar ainda mais a certeza de que não dar nas vistas é a melhor e mais saudável atitude. Outra explicação para este fenómeno remete para a infância. Por exemplo, uma criança que cresceu num ambiente familiar demasiado protegido, onde se sentiu sufocada ou excluída num ambiente demasiado adulto, ou ainda urna criança com falta de afecto ou compreensão que sofreu conflitos familiares, é uma boa candidata a comportar-se de forma tímida. Também o falhanço escolar e as frequentes mudanças de escola são fatores que não ajudam.
Falta de segurança. Geralmente, a timidez traduz-se por uma atitude receosa, urna perturbação excessiva e uma falta de segurança no comportamento perante terceiros. Mas pode também esconder-se por trás de um comportamento agressivo, que denota, muito simplesmente, ausência de autoconfiança.
As manifestações são simultaneamente fisiológicas e psicológicas. Entre as primeiras, contam-se transpirar excessivamente, sentir falta de ar, rubor ou palidez acentuados, gaguejar e alterações da voz (que se torna praticamente inaudível ou ininteligível), rigidez muscular e tremores. No plano psicológico destacam-se o sentimento de paralisia (que torna impossível a mais pequena reação) e atenção demasiado centrada no objecto do medo (neste caso, as outras pessoas).
Mas a timidez pode e deve ser encarada como uma perceção mental distorcida que só faz sentido em função da presença do outro. Ninguém é tímido sozinho! Daí que outra característica dos tímidos passe por pensarem que estão a ser constantemente observados ou julgados de forma negativa, desenvolvendo, assim, uma sensibilidade especial para qualquer tipo de crítica ou comentário sobre a sua aparência e conduta.
Acabar com a timidez. Ninguém é tímido na sua casa, consigo mesmo, no seu próprio meio, com a sua família mais próxima. A timidez desenvolve-se quando essa mesma pessoa ultrapassa os limites da sua intimidade e se envolve em situações desconhecidas e novas relações sociais. A insegurança e o mal-estar que assaltam o tímido manifestam-se unicamente quando se vê rodeado de estranhos. Para ele é muito difícil deixar de pensar em si mesmo. Leva-se “demasiado a sério”, pelo que se torna muito difícil concentrar-se em qualquer outra atividade. Não tira proveito de um jantar ou de uma festa, por exemplo, pois está constantemente preocupado com o que os outros estão a pensar dele. Também tem sérias dificuldades na esfera profissional, uma vez que se encontra mais preocupado em não destoar do que a brilhar.
No comportamento generalizado que todos temos de procura de aprovação — caracterizado pelas tentativas de causar boa impressão nos outros —, os tímidos não se sentem merecedores dessa aprovação e os seus esforços vão apenas no sentido de diminuir a desaprovação. A pressão social repercute-se especialmente sobre os tímidos que têm um baixo conceito de si mesmos e que consideram de forma muito modesta as suas capacidades.
Existe tratamento? A terapia cognitivo-comportamental é o tratamento preferencial para estas situações. Podem ser utilizados psicofármacos associados, especialmente quando a ansiedade ou os sintomas fisiológicos são muito intensos ou existem outras patologias associadas. Esta forma de terapia ajuda a despistar complexos, frustrações e cognições distorcidas da realidade. Adaptada a todas as idades, parece ser muito eficaz, pois permite afrontar progressivamente as situações ameaçadoras. A tónica é posta nas causas atuais do comportamento problemático e menos nas causas inconscientes.
Utilizam-se, para isso, técnicas de controlo da ansiedade, como relaxamento e controlo da respiração, treino de competências sociais, técnicas para corrigir pensamentos disfuncionais, outras inseridas num processo psicoterapêutico, geralmente de curta duração.
A prática de uma atividade desportiva é um meio de integração num grupo, onde se promovem trocas e companheirismos, que ajuda a lutar contra o isolamento em qualquer idade.
Virtudes e defeitos. A timidez não é necessariamente um inibi- dor da expressão de personalidade. Numerosos comediantes, cantores, personalidades públicas provam-no aparecendo em cena para melhor ultrapassar urna timidez que os angustia. Exprimir-se sem receios é aceitar o risco de sermos postos em questão, de enfrentarmos a desaprovação e de nos mostramos tal qual somos, com virtudes e defeitos. Mas é também partilhar e enriquecermo-nos no contacto com o outro: sermos reconhecidos como uma personalidade, como um todo que vale a pena conhecer.