Ouvimos falar com frequência da importância dos preliminares numa relação sexual bem sucedida. Contudo, muito pouca atenção tem sido dada ao “depois”, igualmente importante numa relação sexual gratificante e emocionalmente rica.
Ao darmos pouca importância aos momentos que se seguem ao orgasmo, estamos a perder uma parte muito rica do nosso relacionamento. Com o passar dos anos é muito frequente marido e mulher voltarem-se cada um para seu lado após a relação sexual, adormecendo quase de imediato. No entanto, podemos ficar agradavelmente surpreendidos com os efeitos agradáveis que o “depois” pode ter, mesmo a longo prazo, no relacionamento amoroso do casal.
Três fases. O acto sexual pode ser dividido em três componentes: os preliminares, o acto sexual propriamente dito e o “depois”. Os preliminares, acerca dos quais muito já foi dito e escrito, são geralmente aqueles momentos de intimidade, jogos amorosos e sexuais que antecedem o coito. Podem ter uma duração muito variável, que oscila entre alguns minutos e horas, e que tem apenas como limite a imaginação de cada um.
O acto sexual propriamente dito, que inclui a penetração, ou coito, é o que a maior parte das pessoas considera a relação sexual e os momentos de maior prazer sexual. No entanto, o que acontece após a penetração e o orgasmo pode ser tão agradável e emocionalmente gratificante quanto o que aconteceu antes. Infelizmente pouco se tem escrito ou dito acerca desta componente da relação sexual.
Um estudo desenvolvido nos Estados Unidos mostra que uma grande percentagem dos casais questionados adormecem no espaço de uma hora após a relação sexual. Surpreendentemente, quer o homem como a mulher expressam os mesmos desejos e expectativas em relação àquilo que gostariam que se passasse. Por outro lado, a maior parte dos entrevistados não se sente satisfeito com a sua vivência actual do “depois”.
Tabu? De um modo geral, a referência ao que corre bem na relação sexual exclui a fase pós-coital, o “depois”. Será este um assunto tabu? E se os resultados apresentados no referido estudo puderem ser extrapolados para a população em geral, porque será que o “depois” parece ser um momento tão pouco valorizado pelos amantes ou, pelo menos, não satisfatório? Essencialmente, duas explicações parecem ser plausíveis: fadiga e ignorância.
A fadiga ocorre como consequência do orgasmo, processo regulado pelo sistema nervoso parassimpático, o que significa que induz uma sensação intensa de relaxamento. Assim, é natural que o sono apareça rapidamente, particularmente no homem. Já a ignorância prende- se com a natureza fisiológica do homem e da mulher.
O ginecologista William Masters e a psicóloga Virginia Johnson, pioneiros em investigação de comportamento sexual e autores de várias obras sobre o tema, apresentam explicações que esclarecem estas diferenças de género. Dizem os especialistas que o homem retoma os batimentos cardíacos e a respiração mais rapidamente do que a mulher. Assim, enquanto o homem tem um período de resolução consideravelmente rápido, o da mulher é bastante mais longo, mantendo os sinais de excitação durante mais tempo na fase pós-coital.
Não ditos. Se o acto sexual for rápido, intenso e insatisfatório, os parceiros, em especial a mulher, podem experimentar um estado depressivo pós-coital. A sensação de vazio e ressentimento pode ser atenuada por um “depois” emocionalmente rico e envolvente. Já se durante a relação sexual ocorrer algo de inesperado ou negativo, nomeadamente num casal que tenha o hábito de valorizar o “depois”, a sensação de vergonha ou mal-estar pode ser atenuada nestes momentos.
O mesmo já deve ser encarado com alguma prudência se a vivência do “depois” não for habitual, para que não possa ser confundido com atitudes desencadeadas por sentimentos de piedade. Nestas situações, virar para o lado e dormir ou discutir abertamente o ocorrido pode ser penoso, mas certamente menos gerador de equívocos que, por decorrerem do não ditos, podem ser mais difíceis de esclarecer.
Não fazer. Algumas situações que deveriam estar definitivamente fora destes momentos incluem, entre outras:
- Demonstrar ao parceiro que um momento muito gratificante acabou de acontecer e o que resta é desinteressante.
- Aproveitar a boa disposição do parceiro para falar da relação ou dar conta de situações menos agradáveis no seu comportamento do dia-a-dia.
- Aproveitar o clima de intimidade para discutir problemas de emprego, de finanças caseiras ou relacionadas com os filhos.
- Não respeitar a possível vulnerabilidade do outro para criticar a sua performance ou compará-la com a de anteriores parceiros.
- Não sair da cama imediatamente após a relação sexual, coisa que impede totalmente a oportunidade de vivenciar o “depois”.
- Não implementar novas formas de estar na relação repentinamente, só porque lemos numa revista que seria a forma “correcta” de valorizar uma relação sexual.
Ser divertido. Alterar hábitos depende acima de tudo da sensibilidade do casal. Muitas pessoas optam apenas por permanecer com os seus corpos juntos, saboreando o toque, o cheiro, o sabor de cada um quase como o prolongar de uma satisfação, bastante mais emocional nesta fase. Outros preferem trocar carícias.
Qualquer que seja a opção do casal, ela deve ser divertida e agradável para ambos. É bom receber carícias, mas, lá por gostarmos tanto, não devemos sentirmo-nos magoados se o outro as rejeitar e preferir apenas permanecer junto.
Uma conversa centrada na intimidade do casal, daquilo que um valoriza no outro, pode potenciar os aspectos emocionais positivos da sexualidade e fortalecer os laços da relação — o que também acontece quando partilhamos uma história divertida, um sorriso de cumplicidade.
Outro factor muito importante para vivenciar bem o “depois” prende-se com a hora do dia geralmente escolhida para o relacionamento sexual. Os casais que escolhem a noite irão ceder mais facilmente à fadiga e adormecer. Optar por outras horas do dia para o relacionamento sexual é, por isso, uma forma de fugir ao silêncio e enriquecer uma parte muito importante do nosso relacionamento.