Ao longo da sua história, todos os casais passam por dificuldades no seu relacionamento e as causas nem sempre se relacionam com fenómenos “estranhos”. Podem resultar de crises naturais do desenvolvimento da relação, de circunstâncias externas como o desemprego, doença de um familiar ou mesmo de fatores de personalidade de ambos os cônjuges. As pessoas procuram a terapia de casal por muitas razões e cada casal é diferente, mas as queixas mais frequentes são falta de comunicação, discussões constantes, necessidades emocionais que não são atendidas, problemas financeiros e conflitos com as famílias de origem. Estes são problemas presentes em quase todas as relações e o pedido de ajuda surge como o resultado do aumento da frustração e desapontamento que progressivamente se vai instalando. Outras causas prendem-se com situações de infidelidade, sensação de perda de afeto, carinho ou um acontecimento traumático, como, por exemplo, a morte de um filho.
Influências. Não é novidade dizer que o casamento, a relação a dois, constitui uma realidade complexa e desafiadora, compensadora e dolorosa. A natureza das relações acaba por ser fruto da forma como o casal lida com os diversos fatores que a influenciam. Por exemplo, os casais não tradicionais (sem filhos ou com elementos do mesmo sexo) têm que se disponibilizar para ultrapassar obstáculos adicionais para que a relação funcione.
A sociedade influencia a forma como os relacionamentos se vão estruturando e estes acabam por sofrer o impacto das mudanças ao nível social. Por exemplo, no contexto atual e na sociedade ocidental os casais constituem-se e vivem os seus relacionamentos esperando uma intimidade emocional e sexual intensa, igualdade de sexos e tolerância em relação à diferença. Se recuarmos algumas dezenas de anos, tal seria não só impossível como estranho. Contudo, constatamos alguma contradição entre esta liberdade de escolha e o número de divórcios e muitas vezes perguntamo-nos porquê?
Na realidade, as mudanças que têm acontecido na sociedade, mesmo as positivas, ocorreram a um ritmo que se tornou perturbador, na medida em que as pessoas levam tempo a integrá-las no seu modo de pensar e agir, gerando-se assim um conflito entre a tradição c a necessidade de integração face às regras da sociedade. Se em teoria gostamos de poder ser livres e escolher o nosso companheiro em função da existência ou não de um laço amoroso, a verdade é que temos dificuldade em transformar em atos o respeito pelo autodeterminismo sem nos sentirmos menos família, pois, afinal, o modelo que ainda está fortemente enraizado nas nossas mentes diz-nos que um casal tem prazer em partilhar tudo.
Por sua vez, as importantes alterações económicas que aconteceram na sociedade e que levam ao desemprego, à dificuldade de arranjar o primeiro emprego ou às reformas antecipadas exigem que o casal se adapte àquilo que são desvios à evolução normal do seu ciclo de vida. Encontrar empregos adequados e casas compatíveis é difícil para os jovens, que permanecem em casa dos pais quando deveriam procurar desenvolver os seus relacionamentos. Os seus pais podem ambicionar a sua liberdade ou estar a atravessar mudanças importantes na sua vida e têm que partilhar esses momentos num regime alargado, quando era suposto voltarem a ser apenas dois. Também os media promovem o consumismo e a ideia de que o casamento e a vida em família é relativamente feliz e livre de conflitos, criando uma enorme pressão devido a expectativas que se revelam inatingíveis. Como resultado, o stress emocional e económico acaba por cobrar a sua parte na relação.
Adicionalmente, cada um dos elementos do casal pode estar a atravessar vivências individuais complexas no seu crescimento psicológico e emocional, o que nem sempre encaixa à primeira na vida do casal.
O que é? Antes de mais, importa dizer que não existe um modelo ideal e universal para uma relação. A “boa relação” é aquela que funciona para os dois elementos do casal e lhes permite alcançar os seus objetivos, individuais e de conjunto. Se isso não funciona, não significa necessariamente que o casal necessite de terapia.
Todas as relações passam por momentos difíceis e as fases de crise são também momentos privilegiados para o crescimento e introdução de novas regras de funcionamento. No entanto, um ou os dois elementos do casal podem sentir- se continuamente insatisfeitos, frustrados, incompreendidos e se não foi possível resolver os assuntos de forma aceitável para ambos, então é altura de pedir ajuda profissional.
A terapia de casal é um meio de resolver problemas e conflitos que os casais não conseguem trabalhar de forma eficaz entre si. Envolve os dois elementos na presença de um psicoterapeuta com treino específico para conversar com eles os seus pensamentos, sentimentos e emoções acerca da relação. O objetivo é permitir que cada um consiga um melhor entendimento de si e do seu parceiro, para decidirem se precisam ou querem fazer mudanças e, se assim for, ajudá-los a estabelecer e atingir objetivos.
Esta forma de terapia envolve apenas o casal. Podem discutir-se situações relacionadas com os filhos, mas sem a presença deles. Pretende-se que o casal possa desfrutar de um espaço e de um tempo para cuidar de si, longe das interferências dos filhos ou das famílias de origem. A terapia que envolve pais e filhos desenrola-se de forma diferente e geralmente é conhecida por terapia familiar.
Mediador. O papel do terapeuta é ouvir os intervenientes e ajudá-los a identificar e clarificar áreas problema. Começa por perceber como cada um vê o problema, qual a história do relacionamento e os aspectos relevantes da história com as famílias de origem. Após a discussão e avaliação da situação, é proposto um plano terapêutico. O terapeuta actua quase como um mediador, tentando, por exemplo, clarificar mal-entendidos na comunicação, promovendo novas formas de olhar para situações aparentemente sem saída.
Novas perspetivas resultam numa mudança de sentimentos e comportamentos, o que permite lidar com as dificuldades e criar disponibilidade para novas formas de estar.