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Solteiros e Felizes

Da mesma forma que a sociedade mudou para acolher os solteiros por opção, também a nossa cabeça tem que mudar, especialmente se ser solteiro resulta do fim de um casamento em que predominou a união e a não individualidade. Estar solteiro pode ser uma experiência produtiva e feliz, se essa for uma escolha consciente.

Três rostos. Existem pelo menos três formas de encarar a condição de solteiro. A primeira engloba pessoas que se sentem envergonhadas por terem de admitir que continuam sozinhas. Mostram-se desesperadas e anseiam por um companheiro. São facilmente aterrorizadas pelo medo de não terem ninguém que as ame, o que as leva frequentemente à depressão e à insatisfação, distanciando-as cada vez mais de um relacionamento.

Outras apregoam os benefícios de viverem sozinhas, mas não dispensam uma noitada, uma saída com amigos. Muitas delas estão a mentir a si próprias e aos outros, porque na realidade sentem-se sozinhas e percebem que estão tão desesperadas quanto as que sentem vergonha por estarem sozinhas. Para algumas destas pessoas a necessidade de um companheiro pode esconder uma dificuldade de relacionamento consigo próprias. Sentem esta fase como uma interrupção numa área da vida que não devia parar. O medo de ficarem sozinhas leva-as a passarem por relacionamentos desagradáveis. E ao rejeitarem ficarem sós, estas pessoas defendem-se da confrontação consigo mesmas, com as suas qualidades e insuficiências.

Por último, existem pessoas que, mesmo não sendo solteiras por opção, sentem-se felizes e sabem lidar com esse estado saboreando cada minuto da vida. São a melhor prova de que ser solteiro não é sinónimo de solidão. Mas porque viver a sós pode não ser voluntário, há que aprender a ser solteiro. Por vezes as pessoas que se encontram novamente solteiras após um divórcio sentem um grande alívio e rapidamente desfrutam das vantagens dessa situação. São geralmente casos de pessoas separadas cujos casamentos foram de tal maneira absorventes quase constituíram verdadeiras barreiras à realização pessoal. Tal não significa que os casamentos sejam por definição um impedimento à realização pessoal ou que os solteiros sejam mais felizes que os casados, pois nenhuma destas situações é perfeita. Estar bem connosco enquanto solteiros envolve três estádios básicos.

Autossuficiência. Ter prazer em estar solteiro envolve a capacidade de experimentar tudo através de nós próprios, em vez de o fazer através do parceiro. Significa cuidarmos de nós, mas também compreendermos a nossa personalidade. É neste trabalho de introspeção a sós que melhor percebemos e podemos explorar as nossas necessidades, gostos e objetivos individuais.

Ser solteiro pode ser visto como um estado que permite o crescimento pessoal, especialmente entre a adolescência e o casamento. Ao contrário do que geralmente acontece, ser solteiro podia até ser reconhecido como um estádio de maturação do indivíduo e não um motivo de pena ou estranheza, até porque permite aprender os princípios da responsabilidade e da autossuficiência, características difíceis de concretizar quando estamos envolvidos numa relação entre pais e filhos ou marido e mulher.

Infelizmente, muitas pessoas não vivem esta importante fase. Saem de casa dos seus pais diretamente para a sua família recém-constituída sem sequer considerarem que podiam ser felizes como solteiros por algum tempo.

Viver objetivos. Quando se casam, muitas pessoas deixam para trás muitos objetivos por cumprir e isso pode prejudicar o casamento. Daí que muitas pessoas divorciadas ou viúvas aproveitem a sua nova condição para viverem os seus sonhos: viver sós, aprender a conhecer os ritmos próprios, diversificar e aumentar o número de namoros, conhecer outro tipo de amigos e interesses, aprender a viver e a cuidar de si.

Antes de nos envolvermos numa relação de longo termo ou num casamento, geralmente preocupamo-nos em conhecer o outro, do que gosta, como é, que características nos atraem ou afastam. Se isso é importante quanto a terceiros, também o deveria ser em relação a nós próprios. Ser solteiro é especialmente indicado para nos envolvermos no conhecimento de nós mesmos, eventualmente colocando-nos as mesmas questões que colocaríamos quando conhecemos outras pessoas.

Muitos de nós fomos de tal forma influenciados pela família, pelos amigos e pelas normas sociais que que muitas vezes temos dificuldade em aceitarmo-nos e conhecermo-nos tal como somos.

Gerir o tempo. Se o estado de solteiro é consequência de uma relação desfeita, o tempo extra que advém pode ter de se tornar alvo de uma verdadeira aprendizagem. Se antes da separação, especialmente no caso das mulheres, o tempo livre entre a casa, o emprego e os filhos era quase nulo, agora pode não ser. E a tarefa por vezes mais difícil de encarar nesta nova condição é encontrar o que fazer nas horas livres. Saber tirar partido de ser solteiro significa aproveitar a liberdade para criar um estilo de vida excitante e recompensador. E vivê-lo sem a preocupação de não ser exatamente o que o outro gostaria. As possibilidades estão apenas limitadas pela imaginação e determinação.

Com a liberdade de gerir o tempo vem a liberdade de ação. Mesmo que ser solteiro tenha inconvenientes em termos financeiros, pelo menos podemos sempre adaptar os nossos sonhos ao tamanho do orçamento.

 

 

 

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