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A Pressão do Grupo

Pertencer a um grupo ajuda os adolescentes a moldarem a sua personalidade, mas também complementa a função dos pais como educadores. Importa que uns e outros falem sobre o assunto.

Recentemente uma dos nossas canais de televisão apresen­tou um programa sobre um pro­blema crescente e cada vez mais grave relacionado com o consu­mo de álcool em jovens adoles­centes. Estamos a falar de crian­ças, pois outro nome seria difícil de lhes dar quando começam a be­ber aos 12, 13 anos. Se deixarmos de lado explicações relacionadas com a moda ou os meios de ma­rketing dos empresários da noite, restam-nos algumas opções. Refi­ro-me a uma situação particular­mente importante para os jovens adolescentes, pois para eles a per­tença ao grupo pode ser uma im­portante ajuda para moldarem a sua personalidade.

Adolescentes e o grupo. Há medida que a criança vai crescen­do e entra na adolescência, o envolvimento com o grupo de pa­res (amigos, colegas da escola, do bairro, do surf, etc.) vai aumentan­do. Como pré-adolescente, inicia rápidas mudanças físicas, emo­cionais e sociais e começa a ques­tionar os referentes dos adultos e as regras parentais. A procura de conselhos junto dos pares, que o compreende e aceita, torna-se um hábito. Afinal, estes encontram-se na mesma posição e podem com­preendê-lo melhor que ninguém. Por sua vez, a experiência de no­vas situações dentro do grupo, al­gumas perfeitamente normais e inerentes ao crescimento, assegu­ra-lhes uma protecção do medo da crítica e da ridicularização. Contudo, quando mencionamos a expressão “pressão de grupo”, muitos de nós conotam negativa­mente a situação. A ideia de que alguém ou alguma coisa pode in­fluenciar o nosso filho a ter com­portamentos destrutivos ou perigosos fora de qualquer supervisão parental é muito assustadora. Contudo, a pressão de grupo po­de ser muito positiva. É ela que contribui para que os nossos filhos participem em actividades em grupo, desportivas, culturais, de entretenimento, mesmo quan­do não são os líderes desses mes­mos grupos.

Para que serve? O grupo forne­ce aos jovens um espaço protegido para experimentar novas facetas daquilo que virão a ser, permitin­do-lhes pôr em prática duas tare­fas fundamentais no seu desenvolvimento: responder à questão de “quem sou eu?”, que contribui pa­ra a construção da sua identidade, e experimentar novas formas de li­berdade, que conduzirão à cons­trução da sua autonomia. Assim, não é de espantar que os jovens gostem tanto de estar com o seu grupo de amigos.

Todavia, a convivência entre o grupo e a família nem sempre é pacífica, existindo mesmo algu­mas situações em que pode cons­tituir uma fonte de conflito e pre­ocupação.

Filho versus grupo. Os pais in­citam com frequência uma guer­ra cerrada ao grupo de pares como fonte de todos os males. Muitas vezes, no entanto, não compreendem que este afastamento é necessário e saudável e leva a que o grupo pas­se a ter uma importância decisiva na formação do filho.

Encarar esta fase como mais uma etapa da vida de uma família, en­contrar pontos comuns e renovar regras que não excluam a crescen­te presença do grupo pode ser uma tarefa difícil mas necessária para famílias com jovens adolescentes.

Família versus grupo. Em famí­lias que atravessam momentos de crise, como dificuldades económi­cas, divórcio, desemprego, etc., ve­mos com frequência que o suporte emocional do grupo se torna ainda mais importante para o adolescen­te. Lidar com os conflitos próprios da adolescência e da situação “ex­tra” obriga-nos, a todos, a man­ter a frequência e intensidade dos mesmos o mais baixo possível

Família versus gangs. É uma realidade muito actual e nem sem­pre restrita a bairros pobres e culturalmente diversificados. São factor de preocupação para a família, pois, na maioria (para não falar na totalidade das situações conheci­das), estes grupos de jovens dedi­cam-se a actividades reconhecida­mente perigosas e ilegais. Vencer a atracção do poder associado à pro­tecção do gang pode ser uma tare­fa muito difícil para a família.

Crescer com os filhos. Algu­mas destas situações podem não encaixar na nossa família, mas a responsabilidade de encarar pro­blemas que advenham desta fase normal do desenvolvimento deve ser partilhada entre diversos ele­mentos: o adolescente, a família e a microcomunidade em que estão inseridos (seja ela a escola, o bair­ro ou outros que constituam a fon­te do grupo).

Não me canso de referir para es­tarmos atentos, mas não encarar­mos o grupo como o “ser” maléfi­co que virá roubar o nosso precioso filho, destruindo todos os valores e ideias que tão afincadamente lhe procurámos transmitir. A estraté­gia mais acertada passa por cres­cer com os nossos filhos, aceitando sempre que se trata de um relação que se vai modificar ao longo dos anos.

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