Num mundo conturbado e apressado como o nosso ainda existem muitas pessoas que ainda acreditam na perfeição e que procuram o sucesso em tudo o que fazem. Mas será essa uma atitude acertada?
A palavra perfeição vem do latim perfectio e refere-se a uma acção levada até ao limite e que atingiu a sua plenitude. O perfeccionismo é muito bem-vindo até ao momento em que começa a atrapalhar o funcionamento natural da vida de um indivíduo. As áreas de procura de perfeição são as mais variadas e vão desde o âmbito profissional ao corpo e às relações. Mas esta realidade vem criando cada vez mais tensão, pois as pessoas vêem- se cada vez mais confrontadas com a incapacidade de corresponderem às expectativas que resultam de fasquias demasiado altas.
Absolutistas. Se superarmo-nos pode ser entendido como um desafio saudável que mantém os nossos objectivos, já quando ultrapassa determinados limites constitui-se numa doença. Os transtornos obsessivo compulsivos, aliás, são uma das facetas que a mania da perfeição levada ao extremo pode assumir, de tal modo que o seu controlo escapa aos doentes. Mas sem entrarmos na área da patologia psiquiátrica, as pessoas que têm uma forma de pensar muito rígida, com tendência a avaliar tudo numa dualidade do “branco ou preto”, dizem muito sobre a forma como se manifestam os seus sentimentos, mas também a sua saúde.
As pessoas que pensam em termos rígidos, absolutistas (AB), tal como os perfeccionistas e os maníacos do controlo, são mais susceptíveis de sofrer de problemas emocionais e físicos do que as que se mostram mais flexíveis e pensam de uma forma “não absolutista”. Os AB ficam preocupados se os acontecimentos não correm como planearam, o que os paralisa e impede de pôr em prática as suas capacidades para resolverem e lidarem com os problemas. Isso pode transformar-se em problemas de saúde, tais como insónia, palpitações cardíacas, fadiga crónica e tensão arterial elevada. O contínuo estado de stress em que se encontram aumenta a produção de uma hormona designada por cortisol, que, entre outros, provoca uma diminuição do funcionamento do sistema imunitário, tornando-os mais vulneráveis a infecções.
Dois tipos. Existem dois tipos de perfeccionistas: os que estão orientados para a sua performance e os que se preocupam com a dos outros. No primeiro caso o perfeccionismo pode ser extremamente valioso para ajudar em assuntos profissionais, o mesmo pode ser extremamente penoso quando se encontra um erro, considerado como perfeitamente inaceitável. Como muitos outros, preocupam-se com o que as pessoas possam pensar de si, do seu trabalho, contudo, perante o erro, sentem uma profunda humilhação, stress, insónia e isolam-se, pois têm dificuldade em ultrapassar o erro. Para estas pessoas é perfeitamente aceitável que os outros cometam erros, mas o mesmo é impensável para elas.
O segundo tipo de perfeccionistas sente-se bem consigo mesmo, mas experimenta frequentemente desilusão e frustração com os outros, que parecem fazer tudo para o deixar mal. Para estas pessoas parece que todos os dias existe algo de novo para se queixarem. Os outros estão sempre a falhar no que lhes é pedido e o que fazem nunca está bem feito. Torna- se tão frustrante que acabam por ser elas a fazer o trabalho sem pedir ajuda, só para não terem de lidar com argumentos e desculpas. Este tipo de perfeccionismo causa problemas nas relações com os outros, pois estas pessoas estão constantemente frustradas pela incapacidade dos outros em preencherem as suas expectativas. Quando tentam explicar a situação a terceiros, mesmo que de uma forma calma, geram tensão, mal-estar e, por vezes, conflito.
No casamento. Querer ser perfeito pode ser apenas uma questão pessoal. Contudo, a realidade mostra-nos que o perfeccionismo afecta quem está à volta. Geralmente, o perfeccionista tem muita dificuldade em ficar satisfeito com o que foi atingido e os bons resultados ou conquistas nunca são assinalados, e aqueles que chefiam ou têm responsabilidades educativas mostram uma imensa dificuldade em elogiar os resultados dos outros, gerando desmotivação, desânimo e revolta.
Outra dificuldade dos perfeccionistas passa por encobrirem os seus erros, na tentativa de conseguirem manter a imagem que criaram de super-pessoas.
No casamento, os perfeccionistas lutam para que tudo seja perfeito e com isso podem apenas conseguir uma relação marcada por uma profunda insatisfação e tristeza. Os elementos de um casal que consideram o seu parceiro perfeccionista têm mais tendência a utilizar o sarcasmo para lidarem com os problemas da relação. Estas reacções conduzem a menor satisfação no relacionamento. Geralmente as mulheres esperam mais dos seus parceiros do que o inverso e, consequentemente, expressam mais facilmente o desencanto e a tristeza por estes não estarem à altura das suas expectativas. A melhor forma de lidar com esta situação num casamento é procurar ajustar expectativas, encontrar objectivos realmente possíveis e aceitar a imperfeição e o erro.
Para escapar ao perfeccionismo é necessário compreender e desafiar as crenças que estão subjacentes a esta necessidade de fazer tudo muito bem. Por exemplo, muitas vezes as pessoas fazem depender a sua aceitação por terceiros da sua capacidade de corresponder e superar as expectativas que outros significativos têm em relação a ela. Geralmente são crenças enraizadas em aprendizagens feitas na infância. Por isso é tão importante os pais valorizarem, aplaudirem e conversarem, tentando compreender o processo do erro, dos feitos escolares e relacionais dos seus filhos.