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Terapia de Casal

Ao longo da sua história, todos os casais passam por dificuldades no seu relacionamento e as causas nem sempre se relacionam com fenómenos “estranhos”. Podem resultar de crises naturais do desenvolvimento da relação, de circunstâncias externas como o desemprego, doença de um familiar ou mesmo de fatores de personalidade de ambos os cônjuges. As pessoas procuram a terapia de casal por muitas razões e cada casal é diferente, mas as queixas mais frequentes são falta de comunicação, discussões constantes, necessidades emocionais que não são atendidas, problemas financeiros e conflitos com as famílias de origem. Estes são problemas presentes em quase todas as relações e o pedido de ajuda surge como o resultado do aumento da frustração e desapontamento que progressivamente se vai instalando. Outras causas prendem-se com situações de infidelidade, sensação de perda de afeto, carinho ou um acontecimento traumático, como, por exemplo, a morte de um filho.

Influências. Não é novidade dizer que o casamento, a relação a dois, constitui uma realidade complexa e desafiadora, compensadora e dolorosa. A natureza das relações acaba por ser fruto da forma como o casal lida com os diversos fatores que a influenciam. Por exemplo, os casais não tradicionais (sem filhos ou com elementos do mesmo sexo) têm que se disponibilizar para ultrapassar obstáculos adicionais para que a relação funcione.

A sociedade influencia a forma como os relacionamentos se vão estruturando e estes acabam por sofrer o impacto das mudanças ao nível social. Por exemplo, no contexto atual e na sociedade ocidental os casais constituem-se e vivem os seus relacionamentos esperando uma intimidade emocional e sexual intensa, igualdade de sexos e tolerância em relação à diferença. Se recuarmos algumas dezenas de anos, tal seria não só impossível como estranho. Contudo, constatamos alguma contradição entre esta liberdade de escolha e o número de divórcios e muitas vezes perguntamo-nos porquê?

Na realidade, as mudanças que têm acontecido na sociedade, mesmo as positivas, ocorreram a um ritmo que se tornou perturbador, na medida em que as pessoas levam tempo a integrá-las no seu modo de pensar e agir, gerando-se assim um conflito entre a tradição c a necessidade de integração face às regras da sociedade. Se em teoria gostamos de poder ser livres e escolher o nosso companheiro em função da existência ou não de um laço amoroso, a verdade é que temos dificuldade em transformar em atos o respeito pelo autodeterminismo sem nos sentirmos menos família, pois, afinal, o modelo que ainda está fortemente enraizado nas nossas mentes diz-nos que um casal tem prazer em partilhar tudo.

Por sua vez, as importantes alterações económicas que aconteceram na sociedade e que levam ao desemprego, à dificuldade de arranjar o primeiro emprego ou às reformas antecipadas exigem que o casal se adapte àquilo que são desvios à evolução normal do seu ciclo de vida. Encontrar empregos adequados e casas compatíveis é difícil para os jovens, que permanecem em casa dos pais quando deveriam procurar desenvolver os seus relacionamentos. Os seus pais podem ambicionar a sua liberdade ou estar a atravessar mudanças importantes na sua vida e têm que partilhar esses momentos num regime alargado, quando era suposto voltarem a ser apenas dois. Também os media promovem o consumismo e a ideia de que o casamento e a vida em família é relativamente feliz e livre de conflitos, criando uma enorme pressão devido a expectativas que se revelam inatingíveis. Como resultado, o stress emocional e económico acaba por cobrar a sua parte na relação.

Adicionalmente, cada um dos elementos do casal pode estar a atravessar vivências individuais complexas no seu crescimento psicológico e emocional, o que nem sempre encaixa à primeira na vida do casal.

O que é? Antes de mais, importa dizer que não existe um modelo ideal e universal para uma relação. A “boa relação” é aquela que funciona para os dois elementos do casal e lhes permite alcançar os seus objetivos, individuais e de conjunto. Se isso não funciona, não significa necessariamente que o casal necessite de terapia.

Todas as relações passam por momentos difíceis e as fases de crise são também momentos privilegiados para o crescimento e introdução de novas regras de funcionamento. No entanto, um ou os dois elementos do casal podem sentir- se continuamente insatisfeitos, frustrados, incompreendidos e se não foi possível resolver os assuntos de forma aceitável para ambos, então é altura de pedir ajuda profissional.

A terapia de casal é um meio de resolver problemas e conflitos que os casais não conseguem trabalhar de forma eficaz entre si. Envolve os dois elementos na presença de um psicoterapeuta com treino específico para conversar com eles os seus pensamentos, sentimentos e emoções acerca da relação. O objetivo é permitir que cada um consiga um melhor entendimento de si e do seu parceiro, para decidirem se precisam ou querem fazer mudanças e, se assim for, ajudá-los a estabelecer e atingir objetivos.

Esta forma de terapia envolve apenas o casal. Podem discutir-se situações relacionadas com os filhos, mas sem a presença deles. Pretende-se que o casal possa desfrutar de um espaço e de um tempo para cuidar de si, longe das interferências dos filhos ou das famílias de origem. A terapia que envolve pais e filhos desenrola-se de forma diferente e geralmente é conhecida por terapia familiar.

Mediador. O papel do terapeuta é ouvir os intervenientes e ajudá-los a identificar e clarificar áreas problema. Começa por perceber como cada um vê o problema, qual a história do relacionamento e os aspectos relevantes da história com as famílias de origem. Após a discussão e avaliação da situação, é proposto um plano terapêutico. O terapeuta actua quase como um mediador, tentando, por exemplo, clarificar mal-entendidos na comunicação, promovendo novas formas de olhar para situações aparentemente sem saída.

Novas perspetivas resultam numa mudança de sentimentos e comportamentos, o que permite lidar com as dificuldades e criar disponibilidade para novas formas de estar.

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Amigos de Infância

Falar de amigos de infância é falar de um laço único que resiste ao tempo e à distância. Quantas vezes não nos encontramos com amigos de infância apenas para recordar aventuras inconfessáveis, como quando, por exemplo, conspirámos para ir à discoteca pregar uma partida à professora de quem não gostávamos… Passaram-se só, 30 anos, mas, no entanto, estas memórias continuam tão vivas e emocionantes como se tivessem acontecido ontem.

Entre amigos de infância é frequente associar memórias a emoções fortes. Na verdade, trata-se de relações cimentadas durante a primeira infância, fortemente ancoradas na nossa memória e daí serem lembradas de forma tão intensa.

Na infância. A infância é um momento privilegiado para fazer amigos e as nossas primeiras e verdadeiras amizades iniciam-se entre os três e os seis anos de idade. Mas por que razão escolhemos os amigos que escolhemos? Na verdade, a seleção do nosso leque de amizades não é fruto do acaso. Ao eleger um amigo, a criança assume- se e inicia o seu processo de autonomização da família, com a qual não tem uma relação tão globalizante como a que tem com um amigo especial. No fundo, é ele o companheiro privilegiado de jogos e a melhor proteção para iniciar outras relações afetivas. Esta amizade vai enriquecer a sua visão do mundo e, muitas vezes, imprimir a coragem necessária para arriscar um pouco mais na descoberta do que está à sua volta. Mas não só. Nestes relacionamentos intensos, as crianças testam a capacidade de desempenhar papéis da vida de adulto, como o amor, o ciúme, a traição e o perdão. Preparam-se, assim, para enfrentar o longo processo que os aguarda de crescimento e interação com os outros. O período da adolescência faz-nos valorizar ainda mais esta relação de amizade. Num momento em que muitos aspetos da nossa vida parecem ter entrado em mudança e em que as crises de crescimento são dolorosas, este amigo é uma espécie de porto seguro.

Quantas vezes, depois de uma discussão em família, por exemplo, reconsiderámos a nossa posição conversando, barafustando e deixando sair toda a raiva com esse amigo? O conhecimento desenvolvido ao longo dos anos permite- nos confidenciar as fantasias mais estranhas e os desejos mais profundos.

Amizade ou amor? Na idade adulta é frequente elegermos o nosso amigo de infância para desenvolver projetos profissionais, justamente por se tratar de uma pessoa em quem confiamos incondicionalmente. De um modo geral são experiências bem conseguidas e não é raro encontrar empresas de sucesso que começaram baseadas nesta forma de amizade.

Se o sucesso profissional é frequente, o mesmo não se pode dizer no que respeita a relações amorosas. O amigo de infância pode ser do sexo oposto e a tentação de ir mais além neste relacionamento pode acontecer. Pode mesmo pôr- se a hipótese de casamento. Geralmente não funciona. À partida, a confiança e o conhecimento do outro seriam mais-valias para que tudo desse certo, mas a rutura que geralmente acontece advém precisamente da falta de novidade junto de alguém que conhecemos bem, muitas vezes em facetas que podemos aceitar enquanto amigos mas que temos dificuldade em integrar numa vida a dois. O relacionamento amoroso tem melhor prognóstico quando é assente numa boa amizade, mas uma grande proximidade prévia por vezes é de mais.

Alimentar a amizade. “Para além do tempo e da distância” poderia ser um lema associado às amizades de infância, mas nem sempre o ditado se confirma. Se queremos que a amizade perdure, temos que saber alimentá-la para que consiga sobreviver a períodos de separação. Existem momentos mais ou menos longos, mais ou menos definitivos, em que o nosso melhor amigo é posto “fora de jogo”. A intensidade e especificidade desta relação pode ser abalada pela complexa rede de relações que vamos estabelecendo ao longo da vida. E a promoção social é frequentemente a razão de uma rutura. A dificuldade de conjugar outras amizades, a alteração de valores e modos de estar resultam num afastamento definitivo.

Contudo, nalguns casos esta amizade mantém-se clandestina, resistindo num espaço de intimidade que é só nosso e que não partilhamos ou deixamos invadir por ninguém, nem mesmo pelo nosso companheiro. É como se fosse uma bolsa de oxigénio que nos permite retemperar forças, encontrar outras formas de encarar a vida e da qual não abdicamos.

Há quanto tempo! Outra característica das amizades de infância é resistirem à distância e ao tempo. Acontece perdermos o rasto do melhor amigo por dez anos, mas um novo encontro tem a atualidade de “como se nos tivéssemos visto ontem”. Paradoxalmente, tal significa que a relação evolui. É uma relação inteligente que mantém um forte laço afetivo e nos permite estar próximo do outro. É suficientemente flexível e curiosa para acolhermos as diferenças do outro como ponto de interesse que vale a pena descobrir.

A importância de um amigo de infância e de uma rede de amigos tem sido demonstrada em diversos estudos e traduz-se por melhor saúde física e melhor bem-estar psicológico. O que não é de estranhar, já que são estes amigos que nos dão suporte emocional, conselhos e ajuda prática, aliviando muito o stress da nossa vida de cada dia.

 

 

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Amor Platónico

O amor platónico ou o amor idealizado deve o seu nome a Platão (350 a.C.), filósofo grego que acreditava na existência de dois mundos: o das ideias, onde tudo era perfeito e eterno, e o mundo real, finito e imperfeito, cópia mal acabada do mundo ideal.

Nesse sentido, viver um amor platónico é viver em dois mundos simultaneamente: um onde estamos sozinhos e outro onde namoramos, somos felizes e realizados com a pessoa perfeita que é objeto do nosso amor.

Amor impossível. Este tipo de amor baseado no impossível envolve a mistificação do ser amado, que é geralmente colocado numa posição inatingível. Ocorre muito frequentemente durante a adolescência e em jovens adultos, principalmente em pessoas mais tímidas, introvertidas e que sentem mais dificuldade em aproximar-se de quem amam. A insegurança, imaturidade e inibição emocional estão muitas vezes na origem deste comportamento. A forte idealização do objeto amado gera o medo de não atender aos seus anseios, o que contribui para amar à distância e impede viver a experiência não só de amar mas também de nos sentirmos amados, não só de cuidarmos e nos preocuparmos mas também de nos sentirmos acolhidos e amparados. Esta troca de experiências emocionais é que permite o sentimento de que amar vale a pena, com a vantagem acrescida de poder ainda ajudar a superar conflitos e dificuldades do quotidiano.

Amar por medo. Muitas vezes as pessoas têm um amor platónico por medo de sofrer. Isto porque preferem viver um amor que nunca irá realizar-se do que lidar com os eventuais desapontamentos e tristezas inerentes à relação. Nada disto é necessariamente mau ou errado, desde que saibamos racionalmente que aquilo que julgamos ter não existe, até porque o outro desconhece totalmente os sentimentos que alguém nutre por ele.

A maioria das pessoas fantasia acerca das relações amorosas: “Um dia encontrarei o par ideal, que será capaz de me compreender, sem discussões, onde a compatibilidade será perfeita.

A magia do amor estará sempre presente e a paixão será eterna.” A realidade das relações amoro­sas, no entanto, é muito diferente. Todo o processo de namoro é uma situação tremendamente arrisca­da. Somos e sentimo-nos postos à prova, principalmente se aceitar­mos darmo-nos a conhecer tal co­mo somos, o que significa arriscar sermos amados, mas também re­jeitados. E a rejeição não é fácil de aceitar.

Uma relação amorosa é uma das melhores oportunidades de cres­cimento pessoal. E não há cres­cimento que não implique sofri­mento. Todavia, também inclui uma felicidade enorme. Tal co­mo noutras situações da nossa vi­da, aquilo que obtemos depende da vontade de lutar por essa relação, arriscando-nos a deixar o nosso “lugar seguro”. Geralmente, antes do fim do primeiro ano de relacionamento, os

elementos do casal começam a experimentar as primeiras discussões, desentendimentos e dificuldades. É normal. Resulta da necessidade de estabelecer regras de conduta na relação. A cultura familiar de cada elemento do casal permite-lhe crescer com regras, que são forçosamente diferentes do outro. Mas estas funcionam a um nível inconsciente, e muitas vezes não nos damos conta que estamos a tentar impô- las ao outro.

Herança cultural. Recordo a este propósito um casal constituído por um português e uma alemã, onde o trabalho inicial da terapia consistiu em perceber como a “importância de dormir com a roupa da cama entalada ou solta” não resultava da má vontade do outro, mas de uma herança cultural (para uma alemã, que geralmente dorme com um edredão não fazia sentido dormir presa pela roupa. Mas muitos de nós recorda como a mãe, na hora de irmos dormir, nos vinha aconchegar na cama, entalando a roupa debaixo do colchão).

Sem nos darmos conta, mantemo-nos fortemente leais à cultura e crenças da nossa família de origem e, geralmente, cada um acredita firmemente que a sua abordagem é a mais correta.

Este é um período importante na construção de uma relação. É frustrante e doloroso. Obriga- nos a fazer cedências, a olhar para o outro, não como o ser perfeito que imaginámos, mas alguém que “não nasceu ontem à espera de ser moldado pelo outro” e que tem uma história.

Arriscar e crescer. Todas as relações começam por ser platónicas. Todos os namorados começam por ser idealizados, imaculados. Mas tal como não podemos permanecer eternos adolescentes, necessitamos de nos envolver com o outro para podermos crescer.

Crescer também é arriscar. Se estivermos dispostos a arriscar, podemos crescer e tirar o prazer de desfrutar de uma relação amorosa dinâmica e partilhada.

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Medo de ser feliz

Todos procuramos ser felizes e, no entanto, raramente atingimos aquilo a que chamamos felicidade. Porque será este um objetivo raramente conseguido? Será a felicidade uma experiência tão complexa ou estranha que só é acessível a seres excecionais? E quando acedemos a ela, somos capazes de a reconhecer?

Aparentemente não existe uma definição universal de felicidade. Cada um é feliz à sua maneira, de acordo com as suas aspirações, necessidades e dificuldades. Assim, por exemplo, para aqueles que ficaram sozinhos, a felicidade pode passar por encontrar um companheiro que preencha mais ou menos as suas expectativas. Outras pessoas pensam que não teriam dificuldade em atingir a felicidade se ganhassem o euromilhões.

A nossa definição de felicidade pode mesmo mudar consoante as situações: quando somos atingidos por uma doença, parece-nos que a felicidade passa pelo bem-estar relativo em que nos encontrávamos antes, mas quando nos sentimos profundamente cansados uma boa cama seria o suficiente para nos tornar felizes.

Por toda esta relatividade, não é de espantar que seja tão difícil perceber quando atingimos a felicidade: é impossível defini-la de modo absoluto e verdadeiro para todos. Não há um padrão.

Cumprir. A felicidade não é de facto uma realidade estática, pois os seus conceitos e definições são bastante numerosos e variados. Este estado de alma não é de beatitude aprazível, durável no tempo ou uma satisfação total e definitiva. É sim uma experiência em que proliferam sentimentos e emoções, com uma forte intensidade e de sinal positivo. É algo intrinsecamente vivido, e como tal mutável. Mais detalhadamente, a felicidade depende da satisfação das nossas necessidades mais importantes. Mas como estas mudam continuamente, a experiência que procuramos é sempre diferente daquela que aconteceu na vez anterior.

Ainda, a felicidade não aparece de forma gratuita nem cai do céu: ela ganha-se e merece-se. O sentimento de ter cumprido algo de importante a que nos propusemos, é uma das facetas fundamentais da sensação de felicidade, pois contribui em muito para uma autoestima saudável.

Pessimismo. No final do século XIX, Freud denominou de expectativa angustiada a tendência de que a partir de um facto esperarmos sempre o pior. Entre várias situações, referiu o de uma mulher que sempre que o marido tossia, imediatamente pensava e agia como se este estivesse em vias de contrair uma pneumonia fatal. No entanto, salientou que nestes casos este tipo de angústia ultrapassava a simples tendência para o pessimismo plausível.

Encontramos com frequência pessoas que ultrapassam estes limites e que desenvolvem uma neurose marcada pela incapacidade para ver o lado bom das coisas. É como se para estas pessoas o ambiente externo fosse uma projeção daquilo que está dentro de si. Desta forma, o mundo passa a ser percebido como mau e ameaçador, enquanto que a pessoa se resguarda na posição de vítima.

Esta posição traz, aparentemente, algumas vantagens: atrai atenções, permite que adoptemos uma posição mais infantil caracterizada pela dependência, pelo desamparo e pela necessidade de cuidados dos outros.

É possível que a nossa tendência para competir na desgraça seja, no fundo, uma espécie de disputa pelo lugar de vítima, de incapaz e de impotente para assumir a responsabilidade pela própria vida. Obviamente é mais fácil atribuir as culpas dos nossos males a causas externas do que admitir a nossa simples incapacidade ou apenas falta de vontade.

Insatisfação. Para algumas pessoas, parece não haver escolha. As suas experiências de vida, a impossibilidade de desenvolver uma boa autoestima, o vazio que se criou, fazem de algumas delas pessoas constantemente insatisfeitas consigo e com os outros, ainda que o grau de exigência para si e para os outros seja sempre demasiado elevado.

Se observarmos com atenção aqueles que nos rodeiam, para não falar de nós próprios, existe, igualmente uma grande dificuldade em aceitar o que é bom. Muitos são aqueles que não conseguem aceitar um elogio, receber um presente sem sentir estranheza, sem saber como reagir. Experimentam um certo desconforto, como se as coisas boas apenas estivessem ao alcance dos outros. As questões da autoestima, do mérito, as dúvidas quanto ao ser ou não ser verdadeiramente amado e aceite, são as variáveis que fazem pender o nosso julgamento para uma visão mais ou menos favorável. Por outro lado, não podemos esquecer o factor cultural que enfatiza a ideia de que temos que ser bons para merecer coisas boas, como se a felicidade fosse algo exclusivamente exterior. E como temos consciência de que não somos perfeitos, acabamos por cultivar uma crença interna de que não merecemos o bom que nos acontece.

A verdade é que todos ambicionamos saúde, realização pessoal ou harmonia familiar. A dúvida é se não boicotamos com frequência a nossa vida baseados em crenças infundadas ou no medo de sermos felizes, por não sabermos o que fazer com este sentimento que achamos desconhecer. Correndo o risco de estar a recorrer a um cliché, está quase tudo dito na expressão “a felicidade não se compra no supermercado, mas cultiva-se no jardim”.

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Ciúme

Todos nós conhecemos ou vivemos histórias de ciúme pois não dizem respeito apenas às relações amorosas. O ciúme pode estar presente em qualquer tipo de relacionamento e a minha experiência como terapeuta prova isso mesmo.
Pedro, um exemplo comum, tem atualmente 33 anos e assume que lidou com o ciúme em quase todos os relacionamentos que teve. Para ele, o ciúme e uma experiência que remonta aos seus primeiros anos de escolaridade. Não só se mostra ciumento com a sua companheira atual, como com os seus amigos e colegas de trabalho. Faz o melhor que pode para esconder esta sua faceta, mas quando o ciúme ataca dá-se conta de que faz comentários e tem atitudes que invariavelmente vem a lamentar depois. Por vezes opta por se retirar e torna-se distante, como forma de tentar manter estes sentimentos extremamente dolorosos para si mesmo. O Pedro, quando me procura, sente-se profundamente frustrado, sem saber como proceder.

Ana e Vasco, outros exemplos, estão casados depois de cada um ter passado por divórcios relativamente calmos, que lhes permitiram a manutenção de um bom relacionamento com os ex-cônjuges. Vasco não teve filhos, mas Ana tem dois rapazes do casamento anterior. As queixas do casal relacionam-se com a incapacidade de Ana para lidar com o que considera serem os ciúmes do Vasco em relação aos dois miúdos. Nada tem a ver com o pai das crianças, mas com o tempo que a Ana dedica aos filhos. Ana começa a ver como única saída um novo divórcio e por isso consegue que Vasco valorize a questão e venham juntos à consulta.
Muitas vezes a procura de ajuda só acontece quando o parceiro se cansa da falta de confiança, dos infindáveis interrogatórios, dos gritos, das constantes acusações injustificadas e, por vezes, de uma intensa violência, psicológica ou mesmo física.
A iminência ou a concretização da perda faz muitas vezes com que o ciumento descubra da forma mais dolorosa que afinal nunca controlou nada, não evitou a perda, nem se mostrou insubstituível.

Onde começa o ciúme? Enquanto crianças todos começamos por acreditar que somos o centro do universo e que a nossa mãe é exclusivamente nossa. Podemos dizer que o primeiro ciúme que sentimos se refere ao momento em que tomamos consciência da existência do nosso pai, que passa a ter existência real e que, de alguma forma, nos “rouba” a nossa mãe.
Um outro momento importante que nos pode levar a sentir ciúmes tem a ver com o nascimento de um irmão mais novo. O amor e o colo, o carinho e atenção que até aí eram só nossos passam para este irmão mais novo e, muitas vezes, de uma forma muito intensa. Enquanto crescemos, quanto mais nos sentirmos seguros do amor dos nossos pais ou das figuras que os substituem e são igualmente importantes, mais nos sentimos imunes ao medo de uma futura perda, ainda que nem mesmo os pais mais atentos e dedicados nos possam proteger. Ou seja, é necessário ao nosso crescimento sabermos lidar com o sentimento de perda, não permitindo que a ausência do outro nos faça desaparecer ou sentir desvalorizados enquanto pessoas.
Não levamos muito tempo a perceber que o ciúme é um sentimento negativo mas, tal como as outras emoções que não podemos simplesmente eliminar, aprendemos a introjetar esse sentimento nefasto e a virá-lo contra nós próprios ou a virá-lo contra o objeto dos nossos sentimentos.

No primeiro caso o ciúme pode converter-se em auto-repulsa levando-nos a acreditar que não somos merecedores de amor ou, até, incapazes de obter o que desejamos da vida e, como tal, desistimos de tentar transformando-nos numa espécie de vítimas. Já o ciúme exteriorizado degenera com frequência em raiva. Interiorizamos os sentimentos maus e projetamo-los sobre a pessoa que julgamos ter roubado o nosso amor. E a raiva ciumenta pode destruir uma amizade, dar cabo de um amor e, em casos extremos, matar uma pessoa.

Afinal o que é o ciúme? O ciúme surge como um mecanismo inconsciente que procura controlar e reter o outro só para si. Tudo o que não se encontra dentro da relação simbiótica passa a representar uma ameaça para o parceiro que não suporta a ideia de ser abandonado.

No entanto, o ciúme é a expressão de uma emoção e, como tal, é normal senti-lo.
A habilidade reside em não nos deixarmos dominar por ele, tentando, pelo contrário, dominá-lo, controlando os comportamentos a ele associados para que não cause danos irreversíveis à pessoa e/ou ao relacionamento.
Está ligado a influências culturais, sociais e à história de vida de cada um.

O sentimento maior que motiva o ciúme é a desconfiança. Mas existem outras características de personalidade que estão presentes de forma mais ou menos vincada no ciumento. A necessidade de posse é um dos traços fortes do ciúme. Quem ama é capaz de dar espaço ao outro, de respeitar a sua individualidade não se sentindo ameaçado pela presença de terceiros. O medo de perder o ser amado para outra pessoa também pode ser devastador. Muitas vezes uma baixa auto-estima e falta de aceitação tal como somos, faz com que a pessoa se sinta diminuída e em constante perigo de ser trocada por outra mais interessante.

O egoísmo é uma das marcas mais gritantes de um ciúme doentio. Por oposição ao amor altruísta, estas pessoas são capazes de expressar sentimentos como “prefiro ver a minha mulher morta do que vê-la a viver com outro!”. Na realidade quando o ciúme nos toma nas suas garras, parece que o coração não nos cabe no peito, a respiração torna-se dolorosa enquanto lutamos para trazer um pouco de ar para os pulmões e as nossas emoções parecem oscilar entre uma raiva incontrolada e o pânico total. Este desequilíbrio no sistema nervoso faz aumentar o nível de adrenalina, interfere na dinâmica dos neurotransmissores e faz parecer que tudo desaba dentro do nosso corpo, rompendo-se o equilíbrio do bem-estar.

O ciúme hoje. Um dado interessante é o de que o ciúme parece estar cada vez mais presente nos relacionamentos actuais. No entanto não é uma doença contagiosa que se possa pegar através do contacto com os outros.
O estatuto do homem e da mulher tem vindo a alterar-se de forma muito intensa nas últimas décadas. Existem, especialmente para as mulheres, oportunidades de sucesso e realização profissional baseadas no seu próprio mérito. Ou seja, quer para a mulher como para o homem aumentaram as possibilidades de escolha. Hoje em dia as mulheres podem escolher ter uma relação, que condições esta deve ter para durar, se têm ou não filhos ou se investirem mais na carreira.

Mas se, por um lado, estas conquistas trouxeram mais-valias na relação homem/mulher, por outro também potenciaram a insegurança e o medo de perder o outro.
Atualmente são as pessoas que afirmam não conseguir lidar com a perda que mais facilmente se mostram ciumentas. Por oposição, aqueles que aceitam que existe sempre a possibilidade de perdermos aquilo que consideramos precioso e que sabem que tudo é efémero, que tendem a tirar melhor partido daquilo que vivem no presente: valorizam a relação, minoram as dificuldades, trabalham em equipa e aprendem com os outros.

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Amores de Verão

O período estival é sinónimo de liberdade do corpo e do espírito. Sinónimo de despreocupação, as férias são, para muitos, ricas em aventuras e encontros amorosos. Mas serão estes amores feitos para durar?

Mais do que a Primavera, o Verão é, por excelência, a época dos amores. E a razão por que isso acontece não deriva do acaso. Existem diversas teorias e condicionantes que parecem contribuir.

Redescobrir o corpo. Durante o ano os relacionamentos amorosos têm falta de sensualidade. As inquietações, o stress e a fadiga são os piores inimigos do desejo e a chegada do Verão revela-se o momento ideal para acordar uma libido adormecida pelos dias mais frios. O corpo, finalmente descoberto das roupas de Inverno, revela-se nas suas formas, cores e odores que despertam sensações e atracções. Geralmente apresentam-se peles bronzeadas, sem rugas de preocupações, distendidas pelo conforto da liberdade de movimentos.

Associada a esta exposição corporal parece estar a teoria que diz sermos ainda influenciados pelas feromonas, hormonas associadas à atração e disponibilidade sexuais, especialmente importantes nos animais não racionais. Para nós terão passado para segundo plano, mas muitos cientistas creem que ainda têm um papel muito importante nos mecanismos de atração entre humanos.

Verdade ou não, o que parece é que o calor favorece a libertação de odores corporais que incluem estas hormonas a que inconscientemente continuamos sensíveis.

Tempo livre. Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas, autorizar-se a fazer nada, tirar partido das horas extra de luz, sair e passear, tudo nesta altura parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas. A época de Verão é eleita pela maioria de nós para gozar as merecidas férias grandes. Sem imposição de horários, esquecemos os pequenos males do quotidiano que nos deixam de mau humor e subitamente descobrimos ter tempo para cuidar de nós, o que nos deixa agradavelmente felizes e bem dispostos. Interessa-nos pouco mais do que o dia-a-dia e mesmo as situações sociais daqueles que conhecemos são irrelevantes. Provavelmente travamos conhecimento com pessoas que nos agradam, mas que em circunstâncias normais nunca teríamos conhecido. A rotura do momento propicia a união de duas pessoas que fora deste tempo certamente nunca se encontrariam. O que conta é o prazer de estar junto.

Uma questão de luz. O sol influencia todos os nossos comportamentos. Dependemos totalmente da sua luz para o nosso metabolismo e biorritmos. Em países em que predominam as horas de luz e a presença do sol a expressão emocional é mais expansiva, como nos países latinos, enquanto que nos países do Norte da Europa, por exemplo, com menos horas de sol, essa característica é mais contida.

Estas são algumas das condições que o Verão e as férias reúnem para que o amor “ande no ar”, especialmente o amor romântico, efémero por natureza. Mas raramente estes amores perduram até à estação fria. Ainda que o amor de Verão seja intenso e muitas vezes recíproco, raramente resiste à prova do tempo, da distância e da realidade. Quando estas contingências regressam, muitas vezes assistimos a verdadeiras transmutações do outro. Aquele que tinha agradado pela sua espontaneidade, alegria de viver e capacidade de aventura modifica-se radicalmente. O seu penteado torna-se mais formal, as suas roupas transformam-se em verdadeiras carapaças, máscaras que tem de envergar para enfrentar a sua profissão.

Apenas alguns encontros extraordinários parecem resistir ao fim do Verão. Mas serão eles capazes de resistir à distância?

Longe da vista. Além do Verão ter acabado, a distância geográfica também é uma realidade em muitos amores de Verão e pode ser uma vantagem que ajuda a manter uma relação que tanto prazer deu, não só porque mantém o drama, como evita o desgaste. Permanece a incerteza, a impaciência da espera de um sinal do outro. A alegria dos reencontros predomina e muda o humor, pois são tão raros que há que aproveitá-los bem.

A distância tem ainda a virtude de não favorecer a rotina. Estar fora de contacto impede que os hábitos de casal se instalem, tornando cada encontro uma oportunidade para novas descobertas. Os assuntos de conversa nunca se esgotam. Mais: esta distância permite continuar uma vida de celibatário, sem a necessidade de estar comprometido ou de fazer cedências imediatas.

Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas e autorizar-se a fazer nada, tudo no Verão parece contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com outras pessoas.

E evita discussões, porque raramente os elementos do casal estão em “dia não”. Vêem-se tão pouco que não faz sentido estragarem tudo com críticas ou desentendimentos.

Mas o reverso da medalha existe e revela-se quando impede a criação de hábitos de partilha característicos e necessários numa vida de casal, como, por exemplo, conhecer verdadeiramente a pessoa por quem nos apaixonámos no Verão. Mesmo que a maioria dos romances de Verão não dure, a verdade é que não nos devemos privar deles, até porque nos permitem aprender a conhecer e experimentar outras características que desconhecíamos em nós.

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Lidar com a Doença Crónica

O diagnóstico de uma doença crónica obriga sempre a mudanças inevitáveis no estilo de vida do doente, de maneira a garantir não só a sobrevivência mas também a qualidade de vida. Independentemente da doença diagnosticada, este é sempre um momento de crise. Um desafio importante para o doente crónico é aderir a um tratamento que irá manter por toda a vida, o que para muitos vem reafirmar a sua condição de pessoa doente.

A família. A experiência do diagnóstico acaba inevitavelmente por ser partilhada pela família, pelos amigos e por todas as pessoas próximas do doente. Existe aqui uma dupla componente muito importante, pois os comportamentos adotados pelo paciente face à doença e as relações que estabelece a partir daí dependem da capacidade de adaptação da família às mudanças decorrentes do diagnóstico.

A doença tem estádios de evolução que influenciam as diferentes formas de lidar com ela: a fase aguda, a crónica e a terminal. A fase aguda é aquela que tem mais poder para mobilizar toda a família. Nestes momentos não é difícil encontrar diversos membros da família disponíveis como cuidadores. Já quando se estabelece a fase crónica, geralmente apenas um é designado para o efeito e é geralmente ele que acompanha o doente até à fase terminal.

As crises resultantes da convivência com uma doença crónica resultam muitas vezes da dificuldade que a família tem em adaptar-se ás mudanças naturais do ciclo de vida. Imaginemos uma situação em que um jovem adulto pronto a deixar a casa dos pais é inesperadamente diagnosticado com uma doença crónica. O momento do ciclo de vida desta família diz-lhe que está pronta para deixar o seu filho sair de casa e viver os dilemas do “ninho vazio”. Por sua vez, para este rapaz o momento ansiado de iniciar uma nova família fica comprometido.

Naturalmente, os pais procurarão cuidar do filho doente tal como cuidariam se ele fosse pequeno. O filho que se “treinou” para construir uma relação em que o controlo dos pais fosse cada vez menor pode ressentir-se desta atenção e cuidados, rebelando-se e adotando comportamentos que podem comprometer a sua saúde, tais como não fazer a medicação de forma adequada.

As famílias são, contudo, o recurso mais valioso para o entendimento e cuidado da doença crónica. Os médicos não tratam a doença, apenas recomendam tratamentos que devem depois ser seguidos pelo paciente e a sua família, de forma a mantê-lo equilibrado e com qualidade de vida. Os elementos da família e os profissionais de saúde precisam de estar atentos aos sintomas, à medicação e aos tratamentos em ambulatório e ainda providenciar suporte emocional. Acontece com frequência que estas tarefas recaem apenas sobre um membro da família, geralmente aquele que está mais próximo da doente.

O casal e a doença. Provavelmente acontecerá a todos os casais um dos cônjuges adoecer de forma crónica. O primeiro desafio que se coloca, para além do da doença, é lidar com os sentimentos que esta desperta. A cólera, a negação, a culpa, o medo, o desgosto e a preocupação com os filhos irão sobressair num momento em que, mais do que nunca, a atenção ao outro é necessária.

Quando os cuidadores são o marido ou a mulher, muitas vezes acontecem mudanças importantes na relação de casal. Por exemplo, as responsabilidades que antes pertenciam ao cônjuge doente passam a ser assumidas pelo cuidador. Tal pode envolver aprender novas competências num momento em que existe menos energia e disponibilidade mental. Muitas vezes sentimos que a inversão de papéis é frustrante e causadora de tensões numa relação já de si difícil. Existe também a perda de atividades que foram fonte de prazer, o que pode conduzir ao isolamento dos amigos ou a uma culpa muito intensa quando, ao satisfazer as necessidades de convívio, o cuidador sente que está a “trair” o doente.

Se a comunicação entre o casal se perde durante a doença, o relacionamento também se irá perder. A intimidade altera-se, o tema doença invade toda a vida do casal, mesmo enquanto pais, e ao deixar controlar-se por ela o casal corre o risco de estagnar o desenvolvimento da relação.

Outro problema que o casal enfrenta é a gestão das emoções e sentimentos decorrentes de necessidades emocionais não satisfeitas. A promoção do diálogo franco e aberto, sem mal entendidos e preconceitos, poderá ajudar a manter uma relação saudável.

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Mitos do corpo perfeito

Verão é uma altura propícia para o aparecimento de preocupações com a imagem corporal, excessos de peso e pequenas gordurinhas que estão fora do sítio. Somos educados para cultivarmos uma apresentação agradável, mas particularmente as mulheres consideram ter necessidade de uma determinada forma para serem consideradas atraentes. E não é difícil encontrar razões por que muitas delas consideram que uma boa aparência passa por ter um corpo bem delineado, magro e com as medidas certas. Na verdade, todos somos diariamente confrontados com formas corporais que a maior parte de nós não possui, mas senti-mos necessárias para assegurar uma relação amorosa ou íntima bem sucedida.
Muitas mulheres estão mesmo convencidas de que não conseguem encontrar o seu “príncipe encantado” se não forem louras, tiverem pernas longas e bem torneadas, um peito generoso e uma pele fabulosa. Também os homens sentem este peso, acreditando que chamam a atenção do sexo oposto mais facilmente se tiverem um corpo bem trabalhado, um cabelo magnífico e uma pele perfeita. A realidade, porém, não é necessariamente esta.

Padrões de beleza. Cada cultura tem padrões de beleza que mudam com os tempos. Os padrões de beleza que conhecemos e pretendemos atingir, e que estão na sua maioria presentes nas revistas, são a excepção — e por isso são escolhidos para as revistas. No entanto, muitas pessoas parecem esquecer esta realidade. Alguns estudos demonstram que enquanto as preferências expressas por um grupo de homens que indicavam gostarem de mulheres com uma figura bem equilibrada, muitas mulheres achavam que esses mesmos homens prefeririam mulheres mais magras. Um outro estudo mostrou que o tamanho do peito, que as mulheres consideram ter que ser grande, não correspondia à preferência dos homens que preferiam um peito bem dimensionado e firme, independentemente do tamanho. Outro ainda veio mostrar que a maioria dos homens inquiridos valorizava mais a atracção do olhar e dos olhos da mulher do que as outras partes do corpo, como as ancas, o peito ou as pernas. Algo que parece um pouco contraditório prende-se com o facto de as mulheres continuarem a considerar fundamental a sua aparência, em detrimento de qualidades como a beleza interior ou força de carácter. Mas na realidade o que desperta a atenção entre um homem e uma mulher?

Regras da atracção. A atracção entre homens e mulheres parece tratar-se de um fenómeno químico baseado nas secreções corporais conhecidas por fenormonas. Os cientistas sabem que os animais utilizam as fenormonas para cortejarem o sexo oposto, mas ainda não conseguiram determinar a sua real importância nos humanos, apesar de considerarem que parece funcionar da mesma forma e com objectivos semelhantes aos do reino animal. A considerarmos hipótese, coloca- se outra questão: será a atracção também o produto de um processo mental baseado na análise e escolha racionais das características corporais do companheiro, ou será o resultado de uma programação primária com milhões de anos? Na verdade, o ideal de beleza varia de cultura para cultura e tem sofrido um longo processo evolutivo. E o nosso conceito de beleza, o da sociedade ocidental, deve muito à cultura grega, a primeira a divulgar a ideia de que um corpo bonito tinha que ser alto e bem torneado. As proporções das suas estátuas marcaram toda a arte, desde a Idade Média até aos dias de hoje, em que os modelos são escolhidos para estarem presentes nas revistas continuam a obedecer a estes padrões. Mesmo assim, muitos dos modelos são ainda mais magros, uma tendência que parece ter-se desenvolvido na segunda metade do século XX.
Outro aspecto desta realidade parece estar relacionado com os media, onde encontramos mais facilmente a última dieta da artista X ou Y do que artigos acerca da forma como alguém conseguiu tornar-se uma mulher de negócios ou uma profissional bem sucedida.
Ponto de equilíbrio. A solução para quem se vê envolvido neste dilema passa por encontrar um ponto de equilíbrio. Se por um lado a pressão do exterior não pode ser ignorada, por outro sabemos no nosso íntimo que a beleza interior é um dos elementos fundamentais para que qualquer relação prospere. Apesar de a beleza exterior ajudar a que o romance dure e ambos os elementos do casal se sintam menos vulneráveis às diferenças entre eles e os modelos exteriores, nem a mulher nem o homem devem ser escravos dessa realidade ou terem necessidade de fazerem comparações. O melhor compromisso é não procurar soluções milagrosas ou fáceis, nem tentar ir para além daquilo que o nosso corpo, bem-estar pessoal e qualidade de vida permitem.A elegância física deve ser resultado de uma alimentação saudável e equilibrada.
Somos o produto dos nossos genes e (ainda!) não podemos alterar a compleição de base. Se a aparência física é determinante para o nosso bem-estar talvez seja preciso avaliarmos o nosso nível de auto-estima.Os modelos exteriores são apenas referências. Todos podemos sonhar, mas se o sonho substitui a realidade sobra-nos apenas a insatisfação constante.Costumamos dizer que os gordos são mais felizes. Gordura em excesso não é bom, mas a felicidade é muito saudável e estarmos a retraírmo-nos constantemente não faz ninguém feliz.

O exercício físico tem um duplo mérito: ajuda-nos a encontrar uma forma saudável e produz endorfinas que contribuem para o nosso bem-estar.

Lies-and-Truth

Mentiras Privadas

Na infância fomos educados para dizer a verdade e foi-nos ensinado que ser honesto compensa. Contudo, à medida que crescemos, damo-nos conta de que a verdade pode ser muito cruel e poucos relacionamentos poderiam sobreviver à realidade de uma honestidade brutal. Para evitar magoar outros, aprendemos a utilidade das “mentiras piedosas”. Por outro lado, as mentiras que construímos apenas em nosso benefício podem magoar e são frequentemente utilizadas apenas para evitar o castigo.

A generalidade das pessoas considera-se honesta, nomeadamente de acordo com os ditames da sociedade. Mas o que a sociedade considera honestidade e o que é a verdade são duas coisas completamente diferentes. Temos sido sistematicamente ensinados na nossa cultura a tornar a mentira uma parte das nossas vidas. Fazemo-lo com tanta frequência que nem nos damos conta disso.

Se honestidade é “dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade”, a versão politicamente aceite é “Dizer a verdade, e somente parte da verdade, na medida em que nos serve e ninguém se sente magoado”. E este é o raciocínio presente nas consistentes e persistentes mentiras piedosas, que dizemos aos outros todos os dias.

Parece-nos perfeitamente plausível esconder a verdade ou parte dela se julgamos que esta vai magoar os sentimentos de alguém, iniciar um conflito, deixar mal o outro ou fazer-nos parecer mal.

Porque mentimos?

Mentimos porque nem sempre podemos dizer toda a verdade. Porque precisamos que as pessoas gostem de nós, nos amem e nos aceitem. Quando não se trata de uma situação patológica ou de um distúrbio de personalidade, as razões mais frequentes por detrás de uma mentira podem ter como objectivos combater o medo de ser rejeitado, considerado ridículo ou indesejável; não perder o controlo da situação, o que na realidade não passa de uma ilusão já que ninguém tem o controlo de nada a não ser dos seus comportamentos com que responde ás situações; esconder aspectos da nossa maneira de ser que consideramos intoleráveis e, finalmente, combater a insegurança e a vulnerabilidade através de uma falsa imagem. Ironicamente se não dissermos a verdade e construirmos estes “falsos eus” as pessoas não conseguem gostar de nós! Logo, a única forma de sermos realmente amados, realmente aceites, é mostrando quem somos com verdade. Só dando-nos realmente a conhecer, é possível aos outros aceitar quem realmente somos. Se usamos uma máscara, uma realidade construída de quem nós somos, o outro só poderá amar, aceitar e relacionar- se com a máscara. E então sentimo-nos mais sozinhos do que nunca e, até mesmo, ressentidos com os outros por uma armadilha criada a nós mesmos.

Efeitos perversos.

As mentiras interferem nas nossas relações, sejam elas amorosas, de amizade ou profissionais.

Uma relação saudável baseia- se principalmente na confiança. Sem ela, não existe a tranquilidade necessária para que a relação se aprofunde e desenvolva. É muito difícil manter um relacionamento amoroso quando um dos parceiros perde a confiança no outro, conseguir uma promoção quando o patrão percebe que utilizamos sis­tematicamente as “desculpas de mau pagador” para justificarmos os nossos atos menos meritórios ou, ainda, ajudar os nossos filhos a crescer saudavelmente quando são sistematicamente confrontados com a “invenção da realidade” mostrando-lhes que é normal não assumirmos a responsabilidade plena dos nossos atos e pensamentos. E uma vez mais não estamos a falar de outras que não as mentiras piedosas.

A mentira tem efeitos perversos numa relação, que muitas vezes fica irremediavelmente afectada ou necessita de ajuda profissional para ser reciclada. Aqui fica um breve enunciado destes efeitos perversos:

Decepção — “afinal ele não é quem eu pensava!”, “preciso de saber se posso confiar”, “Será todo o nosso relacionamento uma mentira?”

Desconfiança — Este é um dos efeitos mais devastadores e mais difíceis de reconquistar numa relação, qualquer que seja a sua natureza, e mesmo quando estamos dispostos a lutar pelo relacionamento torna- se um dos objectivos mais desgastantes e difíceis de alcançar.

Desrespeito — Ao mentirmos tiramos ao outro a oportunidade de escolha, desrespeitamo-lo como ser inteligente autónomo, que necessita de agir de acordo com a sua interpretação do mundo.

Desinteresse — é uma das marcas que vai afectar mais o estilo de envolvimento na relação. O medo de voltar a ser enganado leva-nos investir cada vez menos e a afastar- nos dentro da relação.

Ruptura — Ironicamente,  muitas vezes foi o medo da ruptura que nos levou a utilizar as mentiras piedosas em primeiro lugar.

Mentir ou não mentir?

Em última análise a decisão será sempre individual, pesando os prós e os contras da situação que está em jogo.

Seja qual for a opção há que atender às necessidades mais básicas por detrás de uma pergunta ou afirmação.

Imaginemos que você está ao telefone com a sua melhor amiga que detesta o seu atual marido. Este por sua vez está desejoso de saber com quem você está ao telefone mas não ousa perguntar. Se você disser “A Ana manda cumprimentos” estaremos a usar uma mentira piedosa. Assim, respondemos a uma necessidade que reconhecemos, damos a informação desejada e evitamos uma situação em que a mentira é melhor que a ver­dade de saber que a Ana o detesta ou ignora.

Se estão na iminência de sair e a sua companheira lhe pergunta como lhe fica o vestido, a resposta poderá ser “muito bem, estás linda”. A oportunidade do momento e a necessidade de se sentir confiante, segura e apreciada justifica uma resposta como esta, mesmo se isso não corresponder exatamente à nossa apreciação pessoal ou gostássemos que o vestido fosse outro. Respeitar as necessidades básicas de segurança e aceitação foi mais importante do que ser brutalmente honesto, quem sabe egoísta, dizendo “o vermelho ficaria muito melhor”.

Por sua vez há que atender à seriedade do problema que está a ser abordado na situação em relação à qual não expressamos a nossa verdadeira opinião utilizando a mentira piedosa.

Mentir acerca da satisfação sexual não é uma boa ideia pois estará a comprometer a resolução daquilo que, com o tempo, pode tornar- se num grande problema. Mais vale escolher o momento e falar com o seu parceiro sobre formas de explorar outras alternativas mais satisfatórias para ambos.

Afirmar com toda a facilidade “tudo bem” quando somos questionados por alguém que gosta de nós e que percebe claramente que não está nada bem, também pode ser uma armadilha perigosa. Você sente-se péssimo(a) e embora não seja nada com o seu companheiro(a) ele já percebeu. Você não tem vontade de falar sobre o assunto enquanto não refletir melhor sobre o que se passou, mas também não é capaz de lho dizer desta maneira. O que pode acontecer é que este tipo de mentira sem importância poderá converter-se num drama de grandes dimensões. O seu companheiro(a) pensará que se trata de algo que tem a ver com ele ou com a vossa relação, que você tem segredos que não quer partilhar e não confia o suficiente para o ter como seu confidente. Será melhor dizer claramente qualquer coisa como “estou preocupada, mas não é nada contigo, e agora gostaria de refletir melhor sobre o assunto. Até lá não me apetece falar sobre isso. Mais logo, talvez”.

Finalmente, o povo diz que “se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo”, e a sabedoria popular dá que pensar como queremos construir a nossa rela­ção com os outros.

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Sim, podemos desligá-lo

Quando, em 1876, Alexander Graham Bell usou a sua mais recente engenhoca para chamar o assistente do último andar da estalagem em Boston, não sonhava o desenvolvimento ou a importância que tal descoberta viria a ter nos dias de hoje.

O telefone tornou-se o companheiro fiel das mulheres, adolescentes e profissionais. Chega a ser utilizado como um terapeuta, um confidente e até uma arma contra o aborrecimento ou a insegurança. Na sua versão mais moderna, o telemóvel fica mais complexo a cada novo lançamento, enquanto as suas funções e a sua influência na vida moderna aumentam a uma velocidade vertiginosa. Se há poucos anos este aparelho era considerado um sinal exterior de riqueza e de status, hoje é quase indispensável na vida pessoal e profissional de cada um de nós, transformando- se em pouco tempo numa necessidade quase básica.

Atualmente é uma visão vulgar, normal e aceitável o comportamento de pessoas gesticulando, parecendo que falam sozinhas, quando usam o auricular, enquanto conduzem ou andam na rua. Da mesma forma que também é vulgar encontrar um grupo de amigos reunidos num jantar ou à volta de uma mesa sendo que alguns deles estão entretidos em conversas distintas através dos seus aparelhos, ou fixados nos ecrãs dedilhando mensagens ou navegando no mundo da net. A dependência com os telemóveis é quase patológica, ou como diz o escritor italiano, Umberto Eco, estes tornaram-se numa “extensão das mãos”.

Ao telemóvel com os pais. Grande parte dos utilizadores dos telemóveis são crianças e adolescentes, apesar de o seu uso nem sempre estar relacionado com a sua principal função, que é a da comunicação, mas sim com a utilização de uma multiplicidade de características acessórias, como os jogos, as câmaras fotográficas e de filmar, as SMS’s, etc. No entanto, por vezes nem são os adolescentes ou as crianças que precisam por si só dos telemóveis, mas sim os seus pais: este aparelho consegue cumprir uma necessidade dos pais que é a de terem uma ama à distância, pois permite-lhes estar em contacto com os filhos sempre que precisem.

Esta parece ser uma das mais valias de tal aparelho, na medida em que aumentou a sensação de segurança daqueles que o possuem. O envio de um SOS ou apenas o pedido de prolongar a noite para além do combinado são facilidades únicas que o telemóvel proporciona.

No entanto, a facilidade e a impessoalidade de um contacto telefónico não promove a gestão/negociação de situações que necessitariam de uma conversa calma, face a face, com ambos os pais. Para não falar das famosas quebras de rede que permitem que o telefone não seja desligado, mas que impedem a continuação de uma conversa que não estava a agradar.

Dependência. Existe um desencontro entre os psicólogos e os utilizadores na forma de encarar tal instrumento. Se para os primeiros pode ser considerado a febre do século, já para os segundos é apenas uma necessidade muito premente.

É frequente sentirmo-nos completamente perdidos, quase isolados do mundo, como se mais nenhum outro meio de comunicação existisse, quando somos surpreendidos por uma bateria que acaba. Para alguns, e porque muitos destes aparelhos nos permitem guardar informações preciosas que vão desde a nossa agenda diária, agenda de contactos, entre outras coisas, o dia entra em stand by. Ficamos como loucos tentando encontrar uma forma de recuperar a nossa vida, recuperando a carga da bateria.

Um outro fenómeno associado aos telefones móveis, são as SMS’s. Milhões de mensagens são enviadas por ano, especialmente por adolescentes. Se estivermos atentos verificamos que a maioria deles adquire competências extraordinárias na utilização do teclado, que lhe permite escrever sem olhar, independentemente da marca do telefone, a velocidades alucinantes.

Nova linguagem. Esta nova tecnologia tem originado a organização de conferencias e debates acesos junto de linguistas, pois criou-se quase que um novo código linguístico próprio deste tipo de comunicação: “Kiduxo, hj keria mm star ctg. Xts sp cmgo.dec kk csa. Axu k gxto mt d ti perxebs. Bjs Sónia” (In”compreender os adolescentes”, Helena Fonseca). Tradução: “Queriducho, hoje queria mesmo estar contigo. Estás sempre comigo. Diz-me qualquer coisa. Acho que gosto muito de ti percebes. Beijos Sónia”.

Entre outras razões, nas quais se inclui um menor custo, a utilização das SMS’s permite ultrapassar situações de timidez e dificuldades na expressão adequada de sentimentos, tão características na idade da adolescência. Também os adultos já descobriram essa qualidade das SMS’s: quantas relações escondidas são alimentadas pelas mensagens escritas que permitem maior privacidade numa sala cheia de gente, em comparação com uma tradicional conversa telefónica.

Novos hábitos. Se por um lado os telemóveis aproximaram pessoas, facilitaram contactos, por outro alteraram e até prejudicaram algumas características únicas dos relacionamentos.

A incapacidade de adiar o prazer ou desprazer de comunicar uma notícia, boa ou má, parece ser uma das consequências. A facilidade com que pegamos num telemóvel para comunicar, por exemplo, uma situação desagradável, encurtou e não promove o tempo de reflexão necessário para que, muitas vezes o caminho até a casa ou a um local com um telefone fixo, permitiam e nos ajudava a estruturar uma conversa filtrando aquilo de facto precisava ser dito. Quantas vezes o telemóvel é usado para descarregar a nossa fúria, para alguns minutos depois nos darmos conta que teria sido mais proveitoso “dormir sobre o assunto”.

Verificamos com frequência que parece haver um alargamento da noção de intimidade. O onde e como falar de certos assuntos, parece ter sido esquecido, pois muitas vezes somos confrontados, em locais dos quais dificilmente nos podemos ausentar, como um transporte público ou uma sala de espera de consultório médico ou serviço público, com pessoas que utilizam esse tempo para falar daquilo que anteriormente só teríamos coragem de o fazer na privacidade da nossa casa, ou mesmo do nosso quarto. Esta violação da intimidade não é só para aqueles que estão envolvidos na conversa, mas também daqueles que têm de a ouvir. Curiosamente a primeira pergunta que surge numa chamada deste tipo, não é um cumprimento, o interesse pela saúde do interlocutor, mas “onde estás? “. Invariavelmente, mesmo que esta não seja uma informação pertinente para o desenrolar da conversa, esta questão vai surgir.

Como muitas coisas que são introduzidas a uma velocidade alucinante no nosso dia-a-dia do século XXI, o telemóvel tem aspectos positivos e negativos e outros aos quais é necessário habituarmo-nos. A reflexão individual, para além das regras exteriores que já nos vão sendo impostas ajudar-nos-ão a tirar partido das vantagens, mantendo- nos atentos de forma critica, questionando-nos continuamente como queremos posicionarmo-nos perante tais melhoramentos