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Money, Money, Money……..

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Este é um tema que , como consequência desta fase que estamos a atravessar, estará seguramente na “ordem do dia” de muitos casais.

Independentemente da saúde financeira da relação, o dinheiro e as finanças do casal são um dos principais preditores de divórcio e fonte de constantes discussões.

No nosso país, falar de dinheiro é quase um sacrilégio e para ultrapassar este obstáculo é necessário compreender do que estamos a falar, porque discutimos, para encontrar uma maneira de chegar a acordos.

Idealmente, antes de assumir uma união de facto ou um casamento, é importante definir como o dinheiro e o restante património será detido e gerido. Mas, se tal não acontecer antes do início da relação , não o fazer depois é um erro que muitos casais cometem.

Considero que um casamento é uma parceria, e para que esta seja saudável, convém conhecer e acordar os termos da mesma.

Então o que precisamos de saber para ter uma abordagem construtiva ao tema?

Gustavo Serbasi identifica 5 perfis (poupados, gastadores, descontrolados, desligados e financeiros), cada um com os seus pontos fortes e fracos.

Conhecê-los e identificar o nosso é algo que ajuda a perceber os hábitos de consumo de cada elemento do casal, e compreender como potenciar os pontos fortes e atenuar os fracos.

Mas existem outros fatores a considerar quando conversamos sobre gestão financeira no casal. Assim aqui ficam algumas dicas a ter em conta:

Seja transparente

Quando for necessário rever os hábitos de consumo de cada um, a honestidade é a melhor política. A análise dos registos de despesa de forma conjunta, com o compromisso da ausência de comentários depreciativos e críticas maliciosas, ajuda a definir metas , a encontrar zonas problemáticas que precisam ser reduzidas.

Se após a definição de um orçamento fizer uma despesa não programada ou num valor superior ao acordado, não tente escondê-la do parceiro mas converse sobre a forma de acomodar esse valor e como proceder no futuro.

Estabelecer um plano

As questões relativas à poupança são também um tema frequente discódia. Nos 5 perfis referidos anteriormente, um dos pontos fracos de 2 deles, relacionam-se com o valor excessivo atribuído à poupança, que impede usufruir a vida de forma variada (jantar fora, viajar, etc).

Assim, quando falamos de poupanças é importante estabelecer metas comuns para ajudar a calcular o montante a economizar cada mês.

Também temos que considerar um montante de poupança individual para situações futuras como a reforma. Existem fórmulas que ajudam a calcular o esforço financeiro adequado a cada casal e que podem ser encontradas com a ajuda de um consultor financeiro.

Conheça os hábitos da família de origem de cada um

A forma como encaramos a nossa relação com o dinheiro construiu-se ao longo do tempo, e com uma grande influência da nossa família e dos seus hábitos financeiros.

Conhecer esta história, permite-nos colocar no lugar do outro e compreender melhor as motivações para os gastos.

É muito importante perceber o valor atribuído ao dinheiro. Para algumas famílias os gastos com os filhos são sinónimo de amor e como tal prioridade, muitas vezes sem limites. Para outros, o dinheiro é fator de segurança, especialmente em famílias que passaram dificuldades ou em que circulava a mensagem de que o dinheiro seria a única forma de construir autonomia. Pode ainda ser significado de valorização pessoal, status, poder.

Não existe uma maneira certa ou errada na forma de interpretar o significado do dinheiro, mas conhecê-lo ajuda-nos a perceber os comportamentos do outro e ajuda o próprio a consciencializar-se das suas atitudes.

Quais os gatilhos que desencadeiam despesas

As compras por impulso são muitas vezes uma forma de atenuar a nossa ansiedade ou de promover um sentimento de reconhecimento e recompensa que não foi obtido de outra forma. Tentar compreender, em casal, qual o contexto emocional e de necessidades não satisfeitas, permite perceber aquilo que está subjacente e que verdadeiramente necessitamos.

A ansiedade e perturbações do foro mental, muitas vezes levam a este tipo de comportamentos e beneficiam de uma intervenção de um psicólogo.

Partilhar informação relativamente aos ganhos reais que cada um obteve

Com frequência, um dos parceiros ganha mais que o outro, ou tem proventos para além do seu salário. A partilha desta informação é essencial para determinar um orçamento equitativo.

A divisão de despesas a meias não é solução quando existe uma disparidade acentuada. Uma divisão proporcional, geralmente é a forma mais aceite e sentida como justa.

Partilhe com o parceiro como nos se sente quando o fator “diferença de salário” é uma realidade que impacta não só na nossa autoestima, como também pode alterar a relação de poder.

Decidir quem controla o quê

Haver um responsável pelo orçamento e pagamento de contas pode fazer sentido. Contudo, esta opção pode levar a excessos de poder ou falhas nos pagamentos.

Tal como noutras situação, tenham uma conversa aberta e honesta com o intuito de perceber como se processa o excesso de controle e encontrar soluções temporárias ou mais definitivas para cumprir prazos de pagamentos.

A alternância de papeis, se previamente estabelecida, pode ser uma solução para ambos os problemas, controle e esquecimento.

Planear o futuro

Ter filhos, dar assistência aos pais e/ou outros dependentes são questões que estarão presentes para muitos casais.

Uma conversa acerca do que pretendem proporcionar aos vossos filhos em termos educativos, como pretendem encarar eventuais necessidades de acompanhamento, financeiro ou outro, dos familiares mais idosos ou dependentes, também irá influenciar o vosso plano financeiro de curto prazo e permitirá perceber valores e formas de encarar o valor da vida.

Dívidas e encargos

Qual o montante de dívida, desde cartões de crédito a empréstimos ou pensões de alimentos, trazemos para a relação?

As dívidas que trazemos para uma relação são da nossa responsabilidade, moral e financeira. Contudo, irão afetar a capacidade do próprio e do casal para construir  e atingir as metas do orçamento.

Se necessário, procurem um plano de renegociação da dívida que permita acomodar as necessidades do orçamento conjunto. Mais uma vez, a transparência e um diálogo construtivo são muito importantes.

Não sendo o tema mais romântico para o início de uma relação, o contrato antenupcial, no caso dos casamentos, ajuda a que logo desde o princípio fiquem claras as questões relativas ao património.

Celebrar conquistas

Depois de alguns anos de rotinas os casais têm tendência a cair numa zona de conforto que potencia conflitos. Celebrar as conquistas, periodicamente, que refletem o esforço do casal, com pequenos gestos, ou simplesmente com o assinalar de mais uma meta alcançada, reforça e aproxima a relação de casal.

O tema dinheiro é difícil. Regra geral, não tivemos acesso a uma educação financeira o que nos deixa muitas vezes inseguros. ( já agora, é fundamental educar financeiramente os filhos, dar-lhes a conhecer o valor do dinheiro, o seu papel na família, a importância do aforro, etc).

Mas a noção do nós em casal é relativa a todas as áreas, as conquistas e dificuldades a este nível são para partilhar, a proximidade e cumplicidade, o amor também se constrói assim.

African American woman is sitting and contemplating something

Não me vou aborrecer …..

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O tédio parece chato ao princípio, mas,

 caso leve a um saudável desespero,

 acaba sempre por ser fértil e criativo.

Miguel Esteves Cardoso

Aviso:

Este texto não se destina aos muitos portugueses que não estão de todo entediados na medida em que se encontram extraordinariamente ocupados, desempenhando a sua profissão no local de trabalho, em teletrabalho ou lidando com crianças, parentes ou daqueles que mais necessitam. Para estes o meu respeito!

Estar fechado em casa é aborrecido e leva a que se instale uma sensação de tédio. E o tédio pode ser avassalador. Os minutos não passam, vemos e revemos os mesmos canais e séries, lemos os infindáveis posts sobre os mesmos temas nas redes sociais, sempre com a certeza de que há qualquer outra coisa mais interessante que poderíamos ou deveríamos estar a fazer.

O tédio surge quando temos um determinado nível de energia que não conseguimos direcionar. Pode acontecer também por falta de estímulo e satisfação naquilo que estamos a fazer. Esta situação em que os encontramos, coloca-nos precisamente o desafio de encontrar uma forma de gastar essa energia e oportunidade de o fazer com significado.

Donde vêm essa energia?

Muitos de nós vamos experimentar um aumento de ansiedade, que nos predispõe à ação. Quando não temos onde gastá-la, começamos a sentirmo-nos entediados e em vez de ficarmos satisfeitos e relaxados ao assistir àquela série há tanto desejada, estamos inquietos e desconfortáveis.

Um outro fator desencadeador do tédio, é a sensação de falta de controle. Quando não gostamos ou não estamos interessados numa tarefa, mudamos, fazemos de forma diferente, ou fazemos outra coisa. Se estamos fartos de estar em casa, saímos para tomar um café, estar com amigos e voltamos revigorados e motivados para retomar a tarefa. Agora não é possível e esta falta de liberdade e controle, promove o tédio.

É como alguém me dizia: “Estou sem rumo, apenas à espera que o distanciamento físico termine”.

Mas ainda que o tédio seja muito desconfortável, não tem que ser totalmente negativo. As pessoas entediadas podem optar por sentar-se no sofá e acabar de uma vez com um pacote de batatas fritas, mas também podem ser extremamente produtivas, como Isaac Newton que, durante a quarentena imposta pela grande praga de Londres, em 1665, utilizou o tempo de isolamento para descobrir o cálculo e a gravidade.

O tédio tem uma função adaptativa para os seres vivos. Assinala-nos que estamos a deixar ir o controle sobre as nossas vidas e empurra-nos para a ação.

Então como combater o tédio?

Aceite o tédio

Parte do desconforto do tédio sempre existiu, mas estava camuflado pelo ritmo quotidiano em que o valor pessoal era medido pela produtividade.

A paragem obrigatória leva a que muitas pessoas questionem os processos rotineiros e, na ausência deles, sobra o tempo e a falta de sentido.

Contudo, quando o nosso cérebro está “aborrecido”, dedica-se a encontrar novas conexões neuronais, gerar ideias, fazer planos, torna-se criativo.

Encontre o seu ritmo

As rotinas estruturam os nossos dias e dão-nos um sentimento de coerência que potencia o propósito da nossa vida. Agora que a rotina do quotidiano, que nos obrigava a deslocar para o trabalho/escola, que era uma das mais significantes para a nossa identidade social, desapareceu, abriu-se o espaço para o tédio, a menos que outras rotinas igualmente estruturantes sejam adotadas.

Experimente algo novo

O tédio empurra muitos de nós para a necessidade de algo novo. Aproveitar esse impulso para aprender uma receita, uma atividade, uma competência, não só ajuda a curto prazo como se torna numa mais-valia para o futuro e contribuiu para um sentimento de auto-satisfação.

Deixe-se levar

A necessidade de encontrar atividades suficientemente desafiantes é difícil. Tenha em mente que o que encontre para fazer como interessante de manhã pode deixar de sê-lo ao longo do dia, ou das semanas que passam. Não se mantenha nessa atividade se sentir que precisa de uma pausa, mesmo que a pressão social assim o imponha.

Viva sem culpa os momentos de lazer

Ao ficarmos sem fazer nada, parece que desperdiçamos o tempo que até aí, mesmo no lazer, foi ocupado por imensas atividades. A modernidade tornou-nos dependentes dos momentos únicos e singulares que impedem que o tédio se instale com a intensidade da novidade constante.

Não há problema em consumir séries dos canais de streaming se for tudo o que consegue fazer no momento. Se tem prazer em dedicar-se a nada, aceite esses momentos como o seu reset mental para o que se segue.

Recorde porque estamos em casa

Precisamos de atribuir sentido ao “não fazer nada”.

Tal como a emoção, o tédio é influenciado por aquele que é o nosso pensamento do momento. Ou seja, ficar em casa só tem sentido quando pensamos ativamente no bem maior que implica. Reenquadrar a forma como pensamos acerca do que fazemos muda o nosso sentir.

Ficar em casa é a forma mais eficaz de conter a transmissão do vírus, é o meu superpoder.

Young girl enjoys the early sun by the window

Ainda não é desta que vou ceder

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Não existe forma de “dourar a pílula”. Permanecer em isolamento com a família e/ou o companheiro por perto é fonte de stress e desgaste.

Por outro lado, a gestão do medo, da ansiedade associados à incerteza da situação, pode levar-nos a perturbados e com dificuldade de regressar a um estado de equilíbrio.

Se este fôr o caso, tente pôr em prática técnicas de relaxamento e exercício físico como forma de baixar a intensidade da ativação das emoções.

Existe um exercício de relaxamento, especialmente eficaz, conhecido por “4 elementosTerra, Ar, Água e Fogo” de Elan Shapiro, que ajuda, de forma rápida, a lidar com situações de vida negativas:

Os ativadores de stress internos e externos tem efeito cumulativo ao longo do dia e lidamos melhor com o stress quando ficamos dentro da “janela de tolerância” de ativação.

Um antídoto para ativadores de stress é a monitorização frequente e aleatória do nível de stress com ações simples de redução do mesmo para manter os seus níveis dentro da janela de tolerância.

Assim, use uma pulseira no pulso (de borracha, ou de cordel) e sempre que notar a presença, faça uma rápida leitura do nível atual de stress (por exemplo, numa escala de 0 a 10, sendo 0 a ausência de stress e o 10 o nível máximo de stress) e realize 3 ou 4 breves exercícios de relaxamento/autocontrole (os 4 elementos) e então avalie novamente o nível de stress (0 a 10).

O objetivo, modesto, é reduzir o nível de stress em 1 ou 2 pontos de cada vez e fazer isso pelo menos 10 vezes ao dia em momento aleatórios, a partir de diferentes níveis de stress inicial.

Ao evitar que as suas respostas de stress se acumulem, torna-se mais hábil a permanecer dentro da sua janela de tolerância.

Terra: ponha os pés no chão e tome consciência do local onde está. Sinta a textura do sofá onde está sentado. Seguidamente, repare em 3 objetos à sua volta (ex: “uma cadeira, uma mesa, um telemóvel”). O objetivo é sair da espiral de pensamentos perturbadores e intrusivos e trazer a sua atenção para o “aqui e agora”;

Ar: Vamos usar a “respiração quadrada”:respire fundo, pausadamente (conte 1-2-3-4 enquanto inspira; 1-2-3-4 enquanto retem o ar; 1-2-3-4 expire; 1-2-3-4 suspenda a respiração (antes de voltar a inspirar, reiniciando o ciclo), usando o diafragma.;

Água: beba água ou salive. Quando está ansioso, stressado, a sua boca fica seca, porque parte da resposta de emergência ao stress produzida pelo Sistema Nervoso Simpático, é desativar o sistema digestivo. Quando começa a produzir saliva, ativa novamente o sistema digestivo, pondo em ação o Sistema Nervoso Parassimpático, promovendo a resposta de relaxamento. É por isso que se oferece água, chá ou rebuçados às pessoas após uma experiência difícil. Quando há produção de saliva, a sua mente é capaz de controlar melhor os pensamentos e o corpo.

Fogo: Vamos “aquecer” a imaginação – procure uma imagem de um local agradável, real ou imaginado, inspirador de paz, confiança, segurança, relaxamento. Descreva-o em voz alta utilizando para tal os 5 sentidos: o que ouve? O que vê? O que cheira? O que sente? A que sabe? Simultaneamente vá respirando de forma profunda e pausada.

O exercício físico deverá ser adaptado às condições do espaço de cada um, e, de momento existem vários exemplos a circular na internet. Deixo-vos um, que estando em inglês, é fácil de fazer seguindo as instruções visuais

Este exercício, cross crawl, oferece uma maneira eficaz de reiniciar o sistema nervoso e reintegrar a mente e o corpo. Pode usá-lo regularmente para descarregar e recarregar a sua atenção e energia. Gera uma ótima oportunidade para distrair do foco em excesso e também funciona colocando o corpo e a mente alinhados. Além de um desactivador do stress ou como um aquecimento para se mexer melhor, o exercício traz benefícios sócio-emocionais significativos:

• Maior autoconsciência

• Melhor discernimento do contexto

• Mais clareza de pensamento

• Melhor controle de impulsos

• Melhorias na coordenação física geral

Estas são algumas ideias para ajudar a lidar com estes momentos diferentes e ansiogénicos que vivemos. Contudo são estratégias que podemos pôr em prática sempre que sentirmos necessidade de encontrar algum relaxamento e paz interior.

Fique bem, mantenha-se seguro(a)

Autor: Catarina Mexia (Psicóloga Clínica)

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Comunicar bem em casal – agora e sempre

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Com frequência sou questionada como comunicar melhor, quando, nas consultas de terapia de casal, a principal queixa é apresentada como “não sabemos comunicar”.

Nestes dias de quarentena que vão correndo, esta é uma capacidade fundamental. O potencial de conflito encerrado num processo comunicacional deficiente é enorme, e nesta situação de proximidade constante está exponenciado.

Comunicar é essencialmente ouvir!

Esta é uma das nossas competências mais subutilizadas . Na realidade, a maioria de nós acha que está a ouvir, quando na realidade está envolvido num diálogo interno que lhe permitirá refutar o que pensa que o outro lhe disse.

Quando não há envolvimento ativo no processo de escuta, muita informação não é rececionada (verbal e não verbal) e outra não é retida.

Para nos empenharmos num processo de escuta ativa precisamos utilizar os 5 sentidos. Esta prática não só nos informa sobre o outro, mas também sobre nós mesmos. A atenção ao corpo, a presença no “aqui e agora” permite-nos a construção de um feedback genuíno e que abre o diálogo incentivando uma comunicação positiva.

Assim devemos ter presente o seguinte:

·      Ouça para além do que é dito

Muitas discussões acontecem por razões que os casais descrevem como “tão pouco importantes que já nem se lembram”. Na realidade, a maioria dos conflitos começa com a “gota de água” que faz transbordar o mal estar de necessidades não satisfeitas. Queixar-me de que o meu companheiro não participa na confeção do jantar, na realidade pode ser uma queixa que poderia ser formulada como “Estive longe de ti todo o dia, queria a tua companhia, sentir que sou especial, que sentiste a minha falta também!” ( sim, a partilha das tarefas também aliviam o cansaço do outro)

·      Atente à linguagem não verbal

Compreenda e valorize a linguagem corporal do outro e atente na sua.

Muitas vezes o mal estar que sentimos numa conversa, pode ser explicado pela incongruência entre o que é dito e o comportamento, a linguagem corporal.

Quando estamos a falar com alguém que expressa verbalmente a sua preocupação pelo que lhes transmitimos e tem o olhar fixo no telefone, nas redes sociais, o mal estar que esse diálogo nos faz sentir é legitimo. As minhas palavras dizem “Interesso-me, preocupa-me com o que dizes”, o meu comportamento revela o contrário – e isso é irritante.

Tenha atenção à forma como se expressa e ao modo como se comporta no diálogo com o outro.

·      Time-out

Um diálogo pode estar imbuído de todo o tipo de respostas emocionais, desde a alegria à tristeza passando pela raiva e a zanga.

Quando em conflito, muitas vezes chegamos a um estado de ativação neurofisiológica e emocional que nos impede “manter a cabeça fria” e estar disponível para ouvir o outro.

Aceitem como estratégia o sinal de “time out” como forma de se retirarem da conversa o suficiente (20 minutos costuma ser o tempo adequado) para acalmar e permitir que o seu corpo e as suas emoções regressem a um nível gerível.

·      Realidade única?

A empatia e a bondade são dois elementos fundamentais para uma boa comunicação. A velha questão “queres ter razão ou ser feliz?” implica um equilíbrio entre a nossa visão e a compreensão do outro e da sua realidade. Ficar preso na busca da verdade absoluta só nos bloqueia. Admitir que existirão sempre 2 versões da realidade permite-nos construir pontes, processos de negociação.

·      Negociação

A maioria das negociações termina em compromisso de ambas as partes.

Numa boa conversa, ir mais além do “bater bolas” é fundamental.

Perdermo-nos nos pormenores, no ataque ao outro, não nos deixa perceber que muitas vezes ambos queremos o mesmo, mas temos caminhos diferentes para lá chegar.

Assim, procurem partilhar as vossas necessidades para além da queixa, para poderem passar à fase da resolução. Começar por aceitar que não terão uma solução boa, mas uma suficientemente boa para ambos é o primeiro passo para construir um compromisso partilhado.

Se o meu cansaço na relação se traduz na queixa de falta de iniciativa do outro para programar uma saída a dois, e o meu parceiro se queixa da minha falta de iniciativa para partilhar o sofá nas noites de semana, provavelmente ajuda assumir que o problema é o reconhecimento da necessidade da companhia do outro e da iniciativa de cada um para o demonstrar. Então encontrar um compromisso que permita satisfazer as necessidades especificas de cada um (ficar em casa, sair para jantar), dar-nos-á uma boa probabilidade de chegar a uma solução mutuamente satisfatória.

 Não existem relações perfeitas.

Como alguém dizia, “Casais felizes não são os que não discutem, mas aqueles que sabem resolver uma discussão”.

Autor: Catarina Mexia (Psicóloga Clínica)

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MAIS UM ESPAÇO DE CONSULTA – INTEGRITAS

NOVO CONSULTÓRIO:

Estou disponível para recebê-lo no meu novo espaço de consulta, ás terças e quintas feiras entre as 11H00 e as 19H00, em Carcavelos junto ao antigo espaço do mercado e do novo Santini.

Continuo a manter em funcionamento o consultório de Lisboa, às 2ª e 4ª  Feira, entre as 11H00 e as 19H00

Telemóvel  para marcações  914 155 562

Morada: Praça Dr. Manuel Rebelo de Andrade, 3-R/C Esq – 2775-603 Carcavelos

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Até que a morte nos separou

Fazer luto pela pessoa com quem partilhámos a vida é um processo extraordinariamente doloroso e difícil. O sofrimento da perda é normal e vai ocorrendo em diversas fases. É delas que aqui falamos.

“Até que a morte nos separe” é a fórmula pronunciada no casa­mento católico, mas também o pacto secreto que fazemos com o outro numa relação que preten­demos com futuro. É com ele que nos habituamos a contar para nos ajudar a superar os maus momen­tos, a partilhar os bons, no fundo a partilhar tudo o que constituiu uma vida. A sua morte é um enor­me choque.

Com esta morte, acontecem tam­bém inúmeras perdas. Alguém perdeu a mãe ou o pai, a irmã ou o irmão, a filha ou o filho e assim por diante, coisa que promove uma instabilidade em toda a fa­mília, envolvendo diferentes as­pectos, entre eles a difícil tarefa de incluir novos papéis familia­res. Assim, o cônjuge que sobrevive tem pela frente uma dupla tarefa, que é de superar a perda, fazendo o luto, e reconciliar-se na vida familiar.

O luto é um processo complexo de “deixar ir” e não simplesmen­te uma emoção. Se a relação dura­va há muitos anos, implica mesmo uma redefinição de quem somos sem o outro. E esta não é uma ta­refa fácil!

Fases do luto. O sofrimen­to da perda é normal e vai ocor­rendo em diversas fases. Começa por uma reacção inicial de cho­que e “entorpecimento” emocio­nal em que nos faltam as forças e não queremos nem podemos ver ninguém — ou, pelo contrário, em que nos envolvemos num frene­sim organizativo para preencher o tempo e impedir de pensar. Não há filhos, não há emprego, não há família que nos preocupe, apenas um fortíssimo e profundo desgos­to. Nestes momentos, os amigos, a família e mesmo os grupos de apoio são fundamentais para não cair no limbo.

A seguir vem a saudade, aque­la sensação terrível que magoa e parece não ter fim. A tentativa de reencontrarmos o ser amado le­va a rever locais que partilhados, a conversar com amigos comuns, sempre na tentativa de avivar sen­sações. Trata-se de um comporta­mento por vezes levado à exaustão e que deixa amigos e família preo­cupados. Começa, nesta fase, a ha­ver dificuldade em encontrar for­ças para lidar com a própria dor. À medida que a morte se torna mais aceite, seguem-se momentos de desespero, de desorgani­zação, de afastamento. É a fase que mais preocupa os que estão próximos, uma vez nem o conso­lo parece ajudar a recuperar. Con­tudo, este é um tempo necessário ao luto: estar só, integrar a forma socialmente aceite de luto, sentir que podemos rir de boas recorda­ções são pequenos passos que pre­cisam de ser dados a sós.

Finalmente, dá-se um proces­so de reorganização, que emerge gradualmente, permitindo um re­gresso pleno às actividades fami­liares, sociais e profissionais. A vi­da começa a ter outro sentido, o ser amado encontrou o seu espaço na nossa vida e os rituais de perpetu­ação da sua memória foram final­mente organizados.

Viver a tristeza. Infelizmen­te, hoje em dia muitos de nós te­mos dificuldade em tolerar a tris­teza, assumindo que deve ser um sentimento intenso mas de rápi­da resolução, coisa que permite um retorno imediato à vida nor­mal. Trata-se, no entanto, de um percurso enganador e prejudi­cial, uma vez que é uma etapa que necessita de tempo para decor­rer saudavelmente. Especialistas na matéria apontam mesmo pa­ra um período entre um a quatro anos para realizar o luto.

Geralmente, o luto só se torna pro­blemático quando se prolonga com as mesmas características e tonali­dade emocional por muito tempo, quando é acompanhado por mani­festações de hostilidade aberta em relação a algumas pessoas, quan­do a recusa de contactos sociais e laborais se prolonga, quando, em situações quase limite, existe re­cusa em aceitar a morte.

Poucos acontecimentos nas nos­sas vidas mexem tanto connosco como a morte do nosso marido ou mulher. Geralmente não nos limi­tamos a perder o nosso marido ou a nossa mulher, mas o nosso me­lhor amigo. É normal sentirmos que perdemos uma parte de nós, uma relação amorosa intensa.

Recomeçar. A idade da viuvez pode ser importante para a for­ma de encarar a hipótese de uma nova relação. Se para os mais no­vos parece ser mais fácil optar por um novo companheiro, pa­ra os mais velhos não é tão claro que tal seja necessário ou mesmo adequado.

No que diz respeito aos homens idosos, as estatísticas mostram que voltam a casar mais vezes do que as mulheres da mesma faixa etária e, geralmente, com mulhe­res mais novas. A mulher mantém o seu estado de viuvez até à mor­te mais frequentemente do que o homem.

Quando se trata de jovens adultos,reiniciar uma relação é mais com­plicado. Encontrar um novo com­panheiro sem sentir que está a trair a memória do falecido, ou mesmo os familiares do seu lado que, ao contrário do que se passa no divórcio, mantêm uma relação próxima como sobrevivente, nem sempre é fácil.

Ser capaz de suportar a solidão sem “saltar” de imediato para uma relação como forma de evitar o sofrimento de fazer o luto não é uma boa ideia. Aquele que escolhermos para partilhar a nos­sa vida deve merecer uma rela­ção completa, em que a memó­ria do outro, ainda que presente, não seja um obstáculo para o ple­no desenvolvimento do relaciona­mento. Neste caso isso passa, por exemplo, por darmos tempo para decidir o que queremos fazer com objectos que foram da relação an­terior. Pode parecer uma preocu­pação prosaica, mas é uma ques­tão que habitualmente se coloca: “desmanchar ou não a mobília de quarto, pintar ou não as paredes, renovar ou não a casa?” Para po­dermos tomar essas decisões de forma consequente, precisamos de nos dar tempo.

 

Algumas ideias para ajudar a recuperar a morte do conjuge

Estimar as memórias Inicialmente às memórias estará mais associado o sofrimento, mas, com o tempo, a recordação do que se passou de bom fará soltar uma boa gargalhada.

Não sofrer sózinho Procurar encontrar uma rede de apoio, seja os amigos, a igreja, os grupos de apoio.

Falar dos sentimentos Os outros estão disponíveis para ouvir e falar com eles ajuda a “arrumar”o nosso mundo interior

Sentir Raiva Nem só a tristeza está envolvida no processo de luto. A raiva, a zanga com o outro que faleceu são também normais e precisam de ser sentidas.

Procurar aliados A tristeza é única e nunca ninguém conseguirá compreender a perda, mas os amigos, familiares e outros elemen­tos da comunidade serão bons aliados para “manter o contacto”.

Permitir-se “estar triste” É uma situação particularmente difícil quando há filhos envolvidos, mas também eles precisam de olhar para si e sentirem-se acompanhados na tristeza.

 

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Perfeccionismo – A armadilha perfeita

Num mundo conturbado e apressado como o nosso ainda existem muitas pessoas que ainda acreditam na perfeição e que procuram o sucesso em tudo o que fazem. Mas será essa uma atitude acertada?

A palavra perfeição vem do latim perfectio e refere-se a uma acção le­vada até ao limite e que atingiu a sua plenitude. O perfeccionismo é muito bem-vindo até ao momen­to em que começa a atrapalhar o funcionamento natural da vida de um indivíduo. As áreas de procu­ra de perfeição são as mais varia­das e vão desde o âmbito profissio­nal ao corpo e às relações. Mas es­ta realidade vem criando cada vez mais tensão, pois as pessoas vêem- se cada vez mais confrontadas com a incapacidade de corresponderem às expectativas que resultam de fasquias demasiado altas.

Absolutistas. Se superarmo-nos pode ser entendido como um desa­fio saudável que mantém os nos­sos objectivos, já quando ultra­passa determinados limites constitui-se numa doença. Os transtor­nos obsessivo compulsivos, aliás, são uma das facetas que a mania da perfeição levada ao extremo po­de assumir, de tal modo que o seu controlo escapa aos doentes. Mas sem entrarmos na área da patolo­gia psiquiátrica, as pessoas que têm uma forma de pensar mui­to rígida, com tendência a avaliar tudo numa dualidade do “bran­co ou preto”, dizem muito sobre a forma como se manifestam os seus sentimentos, mas também a sua saúde.

As pessoas que pensam em ter­mos rígidos, absolutistas (AB), tal como os perfeccionistas e os maníacos do controlo, são mais susceptíveis de sofrer de proble­mas emocionais e físicos do que as que se mostram mais flexíveis e pensam de uma forma “não absolutista”. Os AB ficam preocupa­dos se os acontecimentos não cor­rem como planearam, o que os pa­ralisa e impede de pôr em prática as suas capacidades para resolve­rem e lidarem com os problemas. Isso pode transformar-se em pro­blemas de saúde, tais como insó­nia, palpitações cardíacas, fadi­ga crónica e tensão arterial eleva­da. O contínuo estado de stress em que se encontram aumenta a pro­dução de uma hormona designa­da por cortisol, que, entre outros, provoca uma diminuição do fun­cionamento do sistema imunitá­rio, tornando-os mais vulnerá­veis a infecções.

Dois tipos. Existem dois tipos de perfeccionistas: os que estão orientados para a sua performan­ce e os que se preocupam com a dos outros. No primeiro caso o perfeccionismo pode ser extre­mamente valioso para ajudar em assuntos profissionais, o mesmo pode ser extremamente penoso quando se encontra um erro, con­siderado como perfeitamente ina­ceitável. Como muitos outros, pre­ocupam-se com o que as pessoas possam pensar de si, do seu traba­lho, contudo, perante o erro, sen­tem uma profunda humilhação, stress, insónia e isolam-se, pois têm dificuldade em ultrapassar o erro. Para estas pessoas é perfeita­mente aceitável que os outros co­metam erros, mas o mesmo é im­pensável para elas.

O segundo tipo de perfeccionis­tas sente-se bem consigo mesmo, mas experimenta frequentemente desilusão e frustração com os ou­tros, que parecem fazer tudo para o deixar mal. Para estas pesso­as parece que todos os dias existe algo de novo para se queixarem. Os outros estão sempre a falhar no que lhes é pedido e o que fazem nunca está bem feito. Torna- se tão frustrante que acabam por ser elas a fazer o trabalho sem pe­dir ajuda, só para não terem de li­dar com argumentos e desculpas. Este tipo de perfeccionismo causa problemas nas relações com os ou­tros, pois estas pessoas estão cons­tantemente frustradas pela inca­pacidade dos outros em preenche­rem as suas expectativas. Quando tentam explicar a situação a tercei­ros, mesmo que de uma forma cal­ma, geram tensão, mal-estar e, por vezes, conflito.

No casamento. Querer ser per­feito pode ser apenas uma ques­tão pessoal. Contudo, a realida­de mostra-nos que o perfeccionis­mo afecta quem está à volta. Geral­mente, o perfeccionista tem muita dificuldade em ficar satisfeito com o que foi atingido e os bons resul­tados ou conquistas nunca são as­sinalados, e aqueles que chefiam ou têm responsabilidades educa­tivas mostram uma imensa difi­culdade em elogiar os resultados dos outros, gerando desmotiva­ção, desânimo e revolta.

Outra dificuldade dos perfeccio­nistas passa por encobrirem os seus erros, na tentativa de con­seguirem manter a imagem que criaram de super-pessoas.

No casamento, os perfeccionis­tas lutam para que tudo seja per­feito e com isso podem apenas conseguir uma relação marcada por uma profunda insatisfação e tristeza. Os elementos de um ca­sal que consideram o seu parcei­ro perfeccionista têm mais ten­dência a utilizar o sarcasmo para lidarem com os problemas da re­lação. Estas reacções conduzem a menor satisfação no relaciona­mento. Geralmente as mulheres esperam mais dos seus parceiros do que o inverso e, consequentemente, expressam mais facilmen­te o desencanto e a tristeza por es­tes não estarem à altura das suas expectativas. A melhor forma de lidar com esta situação num casa­mento é procurar ajustar expec­tativas, encontrar objectivos real­mente possíveis e aceitar a imper­feição e o erro.

Para escapar ao perfeccionismo é necessário compreender e desa­fiar as crenças que estão subjacen­tes a esta necessidade de fazer tu­do muito bem. Por exemplo, mui­tas vezes as pessoas fazem depen­der a sua aceitação por terceiros da sua capacidade de corresponder e superar as expectativas que outros significativos têm em relação a ela. Geralmente são crenças en­raizadas em aprendizagens feitas na infância. Por isso é tão impor­tante os pais valorizarem, aplau­direm e conversarem, tentando compreender o processo do erro, dos feitos escolares e relacionais dos seus filhos.

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A Pressão do Grupo

Pertencer a um grupo ajuda os adolescentes a moldarem a sua personalidade, mas também complementa a função dos pais como educadores. Importa que uns e outros falem sobre o assunto.

Recentemente uma dos nossas canais de televisão apresen­tou um programa sobre um pro­blema crescente e cada vez mais grave relacionado com o consu­mo de álcool em jovens adoles­centes. Estamos a falar de crian­ças, pois outro nome seria difícil de lhes dar quando começam a be­ber aos 12, 13 anos. Se deixarmos de lado explicações relacionadas com a moda ou os meios de ma­rketing dos empresários da noite, restam-nos algumas opções. Refi­ro-me a uma situação particular­mente importante para os jovens adolescentes, pois para eles a per­tença ao grupo pode ser uma im­portante ajuda para moldarem a sua personalidade.

Adolescentes e o grupo. Há medida que a criança vai crescen­do e entra na adolescência, o envolvimento com o grupo de pa­res (amigos, colegas da escola, do bairro, do surf, etc.) vai aumentan­do. Como pré-adolescente, inicia rápidas mudanças físicas, emo­cionais e sociais e começa a ques­tionar os referentes dos adultos e as regras parentais. A procura de conselhos junto dos pares, que o compreende e aceita, torna-se um hábito. Afinal, estes encontram-se na mesma posição e podem com­preendê-lo melhor que ninguém. Por sua vez, a experiência de no­vas situações dentro do grupo, al­gumas perfeitamente normais e inerentes ao crescimento, assegu­ra-lhes uma protecção do medo da crítica e da ridicularização. Contudo, quando mencionamos a expressão “pressão de grupo”, muitos de nós conotam negativa­mente a situação. A ideia de que alguém ou alguma coisa pode in­fluenciar o nosso filho a ter com­portamentos destrutivos ou perigosos fora de qualquer supervisão parental é muito assustadora. Contudo, a pressão de grupo po­de ser muito positiva. É ela que contribui para que os nossos filhos participem em actividades em grupo, desportivas, culturais, de entretenimento, mesmo quan­do não são os líderes desses mes­mos grupos.

Para que serve? O grupo forne­ce aos jovens um espaço protegido para experimentar novas facetas daquilo que virão a ser, permitin­do-lhes pôr em prática duas tare­fas fundamentais no seu desenvolvimento: responder à questão de “quem sou eu?”, que contribui pa­ra a construção da sua identidade, e experimentar novas formas de li­berdade, que conduzirão à cons­trução da sua autonomia. Assim, não é de espantar que os jovens gostem tanto de estar com o seu grupo de amigos.

Todavia, a convivência entre o grupo e a família nem sempre é pacífica, existindo mesmo algu­mas situações em que pode cons­tituir uma fonte de conflito e pre­ocupação.

Filho versus grupo. Os pais in­citam com frequência uma guer­ra cerrada ao grupo de pares como fonte de todos os males. Muitas vezes, no entanto, não compreendem que este afastamento é necessário e saudável e leva a que o grupo pas­se a ter uma importância decisiva na formação do filho.

Encarar esta fase como mais uma etapa da vida de uma família, en­contrar pontos comuns e renovar regras que não excluam a crescen­te presença do grupo pode ser uma tarefa difícil mas necessária para famílias com jovens adolescentes.

Família versus grupo. Em famí­lias que atravessam momentos de crise, como dificuldades económi­cas, divórcio, desemprego, etc., ve­mos com frequência que o suporte emocional do grupo se torna ainda mais importante para o adolescen­te. Lidar com os conflitos próprios da adolescência e da situação “ex­tra” obriga-nos, a todos, a man­ter a frequência e intensidade dos mesmos o mais baixo possível

Família versus gangs. É uma realidade muito actual e nem sem­pre restrita a bairros pobres e culturalmente diversificados. São factor de preocupação para a família, pois, na maioria (para não falar na totalidade das situações conheci­das), estes grupos de jovens dedi­cam-se a actividades reconhecida­mente perigosas e ilegais. Vencer a atracção do poder associado à pro­tecção do gang pode ser uma tare­fa muito difícil para a família.

Crescer com os filhos. Algu­mas destas situações podem não encaixar na nossa família, mas a responsabilidade de encarar pro­blemas que advenham desta fase normal do desenvolvimento deve ser partilhada entre diversos ele­mentos: o adolescente, a família e a microcomunidade em que estão inseridos (seja ela a escola, o bair­ro ou outros que constituam a fon­te do grupo).

Não me canso de referir para es­tarmos atentos, mas não encarar­mos o grupo como o “ser” maléfi­co que virá roubar o nosso precioso filho, destruindo todos os valores e ideias que tão afincadamente lhe procurámos transmitir. A estraté­gia mais acertada passa por cres­cer com os nossos filhos, aceitando sempre que se trata de um relação que se vai modificar ao longo dos anos.

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Geração Canguru

Os anos 70 e 80 caracterizaram-se pela procura de independência e autonomia dos jovens perante os seus pais. Hoje, no entanto, muitos jovens adultos não vivem como os pais. Vivem com eles.

Ao contrário do que se passou há algumas décadas, encontramos hoje jovens adultos na casa dos 25, 30 anos, solteiros a viver em casa dos pais e sem pressa de lá sair. Es­ta nova situação passou a vigorar de forma natural a partir do mo­mento em que os sonhos, objec­tivos e anseios de independência tradicionais dos jovens — que pas­sam por conquistar autonomia fi­nanceira, ter casa própria, casar e ter filhos — deixaram de ter a im­portância de antes. Assim, o que parecia estranho há 4o anos atrás — jovens adultos com mais de 25 anos a viver com os pais — é hoje culturalmente aceite. O crescente número de divórcios também con­tribui para esta realidade, uma vez que o cônjuge que fica sem a cus­tódia dos filhos e sem a casa da fa­mília tende a regressar ao lar dos seus pais.

A casa dos pais. A liberdade dos actuais jovens adultos, filhos dos “aventureiros” das gerações de 70 e 80, é encontrada na privacidade do seu quarto. Não têm pressa em deixar, qual canguru bebé, a bolsa marsupial da mãe, o que lhes per­mite ter casa, comida, roupa lava­da e a possibilidade de juntar al­gum dinheiro. Mas se o dinhei­ro permite ter uma qualidade de vida melhor, o pleno desfrute das possibilidades de viajar e de lazer também pode ser a razão da per­manência em casa dos pais.

Na verdade é cada vez mais difí­cil nos dias de hoje um jovem as­sumir a responsabilidade de com­prar um apartamento ou criar uma família. Mas será este fenó­meno — genericamente aceite co­mo “geração canguru” — conse­quência da conjectura económica ou apenas a resistência em assumir as responsabilidades da vida adulta independente? E que papel têm os pais nesta dinâmica?

O papel dos pais. No que diz respeito aos pais, enquanto uns não vêem o momento de usufru­írem do seu espaço, do seu tem­po e das suas reformas, desfru­tando da possibilidade de deixa­rem de ser pais para passarem a ser avós, outros parecem acentu­ar as dificuldades da vida “lá fo­ra” e tirar partido da permanên­cia dos filhos em casa. Para estes pais, o conflito de gerações já não faz sentido. Ao permitirem esta liberdade confortável, coisa que muitos não tiveram no seu tem­po, nada cobram em troca da boa companhia e da possibilidade de evoluírem em permanente contac­to com os filhos.

O divórcio ou a morte de um dos progenitores, especialmente no caso das mulheres mães, pode promover a manutenção dos fi­lhos em casa. É uma forma de preencher o vazio, de continuar a dar um sentido à vida, sem que tal implique envolverem-se em no­vas relações, com todas as dificul­dades e decepções que implica ini­ciar uma nova vida com outro ho­mem, por exemplo. Estas mulhe­res são geralmente jovens, pois também era comum a geração de 70, 80 serem pais muito cedo, sau­dáveis e autónomas, constituindo­-se num importante e eficaz apoio para os filhos.

Perfil. O estilo canguru parece predominar na classe média e no género masculino, em jovens adul­tos com idades compreendidas en­tre 25 e 35 anos, solteiros ou divor­ciados . São geralmente profissionais bem sucedidos, com autono­mia financeira, mas que têm difi­culdade em enfrentar a vida sem a companhia de uma mulher. Cul­turalmente são o fruto de uma educação super protectora, com pais empenhados em dar-lhes o melhor.

Por sua vez, uma explicação possí­vel para a existência de menos mu­lheres nestas condições reside na necessidade que têm de continuar a terem que lutar pela definição do seu espaço na sociedade, tanto a nível pessoal como profissional, o que apesar de ainda ser sentido como uma diferença negativa tem permitido, na verdade, um cresci­mento individual e emocional que as torna mais independentes. O regresso a casa dos pais após um divórcio pode nem sempre estar relacionado com questões finan­ceiras. Se muitas vezes o pretexto encontrado para que isso aconteça é de ordem financeira, na realida­de o aconchego parental pode ser um bom meio de lidar com a baixa auto-estima, a frustração e o me­do de encarar novas relações, sen­timentos comuns após o divórcio. É como se houvesse um retorno ao estado da adolescência sem os in­cómodos da falta de autonomia. O mimo e as atenções estão lá, mas já não há o controlo apertado.

Desafio. Contudo, o cenário nem sempre é tão agradável. Mui­tos pais vêem-se na contingência de receber novamente os seus filhos, ainda que tal decisão este­ja cheia de contrariedades e com­promissos de ambas as partes. O retorno a casa vem interromper um momento do ciclo de vida fa­miliar em que normalmente os pais têm novamente a oportuni­dade de se organizar em função de outras prioridades. Desta for­ma são novamente puxados para uma situação em que as tarefas do­mésticas redobram, a intimidade é alterada, os conflitos de proximi­dade reaparecem e o jogo entre os sentimentos de culpa e a realidade de serem a única alternativa para os filhos muitas vezes abre feridas antigas entre o casal e mesmo en­tre pais e filhos.

Se por um lado a sociedade aco­lheu bem a geração canguru, por outro há que saber onde termina a linha ténue que separa os jovens adultos promissores daqueles que sofrem da síndrome de Peter Pan — que se traduz no medo de crescer e encarar os desafios da vida. O corte do cordão umbilical, que antes era feito de forma brusca, ocorre hoje de modo progressivo. Há diferença entre quem já passou dos 3o e ain­da mora com os pais, mostrando dificuldade em planear e execu­tar projectos pessoais e sabotan­do a sua vida afectiva e profissio­nal, e quem continua a investir no futuro, acumulando conquistas, estabelecendo metas e acabando por deixar a casa dos pais.

De qualquer forma, o maior desa­fio é preparar os filhos para os lan­çar no mundo, procurando provi­denciar uma educação voltada pa­ra autonomia, liberdade, respon­sabilidade e crescimento emocio­nal, para que a adolescência não se estenda para além do necessá­rio. Até os cangurus acabam por deixar a bolsa marsupial ao fim de um ano

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Mania das Pressas

A pressa é inimiga da perfeição e da nossa saúde. Aceite como um facto consumado do estilo de vida dos nossos dias, pode atingir intensidade que até já é classificada como uma síndrome.

Cada pessoa tem o seu ritmo. Uns são mais lentos, outros mais dinâ­micos, mas se a rapidez é tão extrema que qualquer um se torna preguiçoso por comparação con­sigo mesmo, então essa forma de estar resulta de uma perturba­ção psicológica e comportamen­tal que atinge cada vez mais pes­soas e pode causar não só a perda de qualidade de vida, como tam­bém problemas cardíacos, gástri­cos e outros decorrentes da queda de imunidade do organismo.

Saúde comprometida. A sín­drome da pressa foi definida nos anos 5o por dois cardiologistas americanos ao perceberem que os pacientes com problemas cardía­cos se podiam encaixar num per­fil específico. Assim, determina­ram os perfis A e o B. No caso que nos interessa, as pessoas com es­ta problemática encaixam-se no tipo A e caracterizam-se por serem ansiosas, apressadas, anda­rem num ritmo rápido, comerem as refeições quase sem dar conta de que o fizeram, comunicarem com os outros com rapidez, economia e com tendência para completa­rem a ideia do outro para apressar a conclusão. São geralmente hos­tis a situações que parecem levá- los a perder tempo e têm a capaci­dade de executar diversas tarefas ao mesmo tempo, exigindo muito de si mesmas.

A saúde destas pessoas geralmen­te fica comprometida. Estão mais sujeitas a doenças auto-imunes, problemas cardíacos, de pele e de estômago. Existe também uma li­gação entre o stress e doenças do foro psicológico, como a síndro­me de pânico e a depressão. Estas pessoas não admitem o fracasso, nem o ócio e apenas se valorizam através de feitos realizados. Aca­bam por se armadilhar a elas pró­prias, na medida em que também não são capazes de delegar, o que as sobrecarrega ainda mais de tra­balho e responsabilidade. A inca­pacidade de delegar está relaciona­da à imagem que têm de si mesmas e que lhes mostra que são capazes de fazer tudo mais rápido e melhor do que qualquer outro.

Influência na família. Assim, os portadores da síndrome da pressa acabam por dificultar a convivên­cia com os que estão à sua volta. Por serem impacientes e perfec­cionistas, têm dificuldades em li­dar com pessoas tipo B – aquelas que conseguem resistir à pressão. As áreas de dificuldade vão desde as amizades, passando pelo cam­po profissional e até sexual. A família dos apressados patológi­cos também sofre, na medida em que os ritmos de cada um dificil­mente são respeitados. Numa so­ciedade que se movimenta a uma velocidade meteórica, em que a novidade e a informação são ca­da vez mais difíceis de apreender e integrar, os pais começam a dar sinais da síndrome da pressa e os filhos têm que fazer o maior nú­mero de coisas no menor tempo possível. Hoje em dia um jovem  que se mostre contemplativo, que demonstre o gosto pela meditação ou, pura e simplesmente, consiga parar para introduzir um momen­to de relaxamento no seu dia é, no mínimo, estranho. O normal será estar a fazer alguma coisa! Nunca como hoje se falou em nas questões do prazer sexual. As ra­zões para que isso suceda são mui­tas, mas uma delas pode estar re­lacionada com o aumento do número de pessoas que, sofrendo da síndrome da pressa, se queixam cada vez mais da sua incapacida­de em sentir prazer nas relações. Na realidade, muitas delas enca­ram frequentemente o relacio­namento sexual como mais uma tarefa em que a boa performan­ce preenche a sua necessidade de perfeccionismo, não se permitin­do nem permitindo ao outro des­frutar calmamente do prazer de estar junto.

Slow food. A síndrome da pres­sa acabou por gerar uma reacção da sociedade. Na Europa de ho­je há um movimento significati­vo, com base em Itália e ramifica­ções na França, Espanha e noutros países, conhecido por slowfood. Os seus seguidores atestam as vantagens de comer e beber devagar, de apreciara preparação dos alimen­tos, partilhando-os no convívio dos amigos ou da família (sem te­levisão). Mas este movimento transcen­de a comida, tentando promover um estilo de vida mais tranqui­lo. A base desta nova forma de es­tar está em questionar a “pressa” e a “loucura” geradas pela globalização, através do apelo consumista, por oposição à qualidade de vi­da e à qualidade do “ser”.

Parar. Não é fácil lidar com pes­soas que sofrem da síndrome da pressa. Contudo, se elas forem capazes de aceitarem que são ví­timas desta perturbação, então a forma de estar das pessoas tipo B, em que predomina a calma e a pla­nificação com uma hierarquia de prioridades centrada nas suas ne­cessidades, também pode ser contagioso. Contudo, o objectivo não é que a pessoa tipo A se transforme numa do tipo B. Importa é que es­tas pessoas sejam capazes de pa­rar e compreender os motivos que geram este comportamento, e não esperar que a doença se instale pa­ra reduzir a velocidade e redefinir as prioridades e objectivos.

Parar permite-nos cultivar o afec­to nos relacionamentos por oposi­ção à funcionalidade, permite-nos conversar, ouvir e conhecer o ou­tro. Se tivermos que lidar com al­guém tipo A, a estratégia passa por não desistir e tentar opor a quali­dade à quantidade e a velocidade à persistência.