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Sedução e Sedutores

Don Juan e Casanova são exemplos clássicos de sedutores inquietantes, bem falantes e mal pensantes que precipitam as senhoras no mau caminho. Hoje, no mundo das SMS, da Internet e de outras tecnologias, existirá ainda lugar para sedutores?

Terá o sedutor desaparecido da nossa sociedade tendencial e se­xualmente igualitária? Não me parece. Aliás, a curta duração de muitas relações, que morrem nas suas fases mais iniciais, comprovam o domínio do reino da sedução.

Em 1995, o filme Don Juan Demar­co, de Jeremy Leven, interpretado por dois grandes sedutores do cinema, Marlon Brando e Johnny Deep, veio reanimar o persona­gem literário de Don Juan, tido como símbolo de sedução e liber­tinagem. Este personagem, cuja existência real ainda hoje é discu­tida mas largamente representada nas mais variadas formas de arte, procura representar um padrão de personalidade narcísica, sem escrúpulos, amada e odiada e que não olha a meios para conquistar uma mulher. Curiosamente, este protótipo não é descrito para o sexo feminino – tido sempre co­mo vítima do sedutor, ainda que muitas mulheres sejam mestras na arte de seduzir.

Triunfo da conquista. Actual­mente a referência ao Don Juanis­mo serve para caracterizar uma situação que muitas vezes se torna patológica para o sedutor e para aqueles com quem ele se relaciona. Trata-se de uma forma de estar caracterizada por uma forte com­pulsão para a sedução de alguém que procura enamorar-se da pes­soa mais difícil de conquistar para a abandonar em seguida. São pes­soas que não conseguem manter uma relação por muito tempo, partindo logo em busca de novas conquistas.

Para o Don Juan apenas interessa o instante do prazer e o triunfo so­bre a sua conquista, principalmen­te quando o alvo do seu interesse tem uma situação relacional e ci­vil proibida. É o aspecto do desafio que o mobiliza, fazendo com que a conquista amorosa tenha contor­nos de desporto e competição. O narcisismo destas pessoas é um aspecto que melhor as caracteri­za, ao ponto de se amarem muito mais a si mesmas que a qualquer outra pessoa.

Estes Don Juan não são obriga­toriamente mais viris ou sexual­mente activos. A sedução contínua nem sempre se dá à custa de um eventual desempenho sexual ex­cepcional, mas devido à habilida­de em oferecer sempre às mulheres aquilo que elas mais desejam. São, por isso, o protótipo do príncipe encantado, tão valorizado pelo sexo feminino desde a mais tenra infância, e têm a capacidade de perceber rapidamente os gostos e fraquezas das suas vítimas, sendo muito rápidos em satisfazer as mais diversas expectativas. Não é de estranhar, por isso, que as mulheres que se envolvem em ligações deste tipo saem muito magoadas e com uma profunda sensação de raiva e abandono.

Arte de seduzir. Para além da faceta negativa da capacidade de seduzir, geralmente instalada em personalidades imaturas, já o uso da sedução no dia-a-dia deveria ser uma arte a desenvolver e a aplicar com frequência, qualquer que seja a nossa condição. Muitos casais beneficiariam desta arte se a praticassem mais e melhor, que­brando assim rotinas maçadoras e espevitando relações mornas. O dia de São Valentim tornou-se na festa instituída para pôr em prática a capacidade de agradar ao outro, de lhe mostrar que nos importa a sua presença. É o amor com dia e hora marcada. Mas porque hoje nos casamos ou nos unimos a alguém por amor, sen­timento muito pouco racional, feito de ternura e sexo, a sedução está cada vez mais que nunca na ordem do dia.

O objectivo da sedução é obter a atenção da pessoa por todos os meios possíveis para conseguir o controlo emocional e criar uma fonte de prazer. As etapas e ri­tuais de sedução são universais, com poucas nuances, geralmente de natureza cultural. Por exem­plo, quer no mundo dos huma­nos como no animal, é sempre a fêmea que é o sujeito da sedução e o macho o sedutor. Mas o sedu­tor nem sempre é aquilo que julga­mos. Se um homem tentar sedu­zir uma mulher que não o queira, rapidamente compreenderá quem tem o poder no processo de sedu­ção. Mas quais são as famosas eta­pas de sedução?

Etapas da sedução. O primei­ro passo é prender a atenção do outro. Geralmente as mulheres valorizam os atributos físicos (ao contrário do mundo animal), enquanto os homens ostentam o seu poder e riqueza. Os homens exibem-se e as mulheres provo­cam. E vem o momento em que os olhares se cruzam. Se o olhar perscrutador do homem encon­tra o olhar receptivo da mulher, produz-se uma faísca repleta de promessas. Se a mulher sorri, revolve o seu cabelo com os dedos, o homem tem permissão para avançar. Caso contrário as suas hi­póteses são reduzidas. O olhar é o instrumento de sedução mais efi­caz no ser humano e tem o poder de decidir o sucesso ou insucesso de uma potencial relação.

A seguir há que iniciar uma con­versação. A naturalidade e curio­sidade em conhecer o outro um pouco melhor criam melhores probabilidades de gerar uma con­versação, cujo conteúdo até nem é muito importante. A manuten­ção do interesse do outro é extre­mamente importante e para tal temos que ser observadores, estar atentos, esquecermo-nos de nós. A conversação é o ponto de ruptura: a sedução passa ou acaba, o encan­tamento permanece ou parte-se. De acordo com os antropólogos, é geralmente a mulher que gera o primeiro contacto físico, através de um leve aflorar da mão com a mão, sempre de forma fortuita e ingénua, ainda que premeditada e calculada quanto aos seus fins. É aí que começa o verdadeiro teste às capacidades de sedução. Com este ligeiro toque foi dito “sim interes­sas-me, continua a seduzir-me.”

Reacender a paixão. A arte da sedução não diz respeito apenas àqueles que se querem envolver numa relação. Ela permite fazer durar um amor e reacender mo­mentos de paixão numa relação ameaçada pelo tempo e pelas crises.

A sedução e o amor necessitam de manutenção, no sentido de ha­ver uma ajuda mútua na satisfa­ção das nossas necessidades de afeição, crescimento pessoal, ne­cessidades sexuais, sonhos, pro­jectos conjugais. Em suma, a ser felizes.

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Até que a morte nos separou

Fazer luto pela pessoa com quem partilhámos a vida é um processo extraordinariamente doloroso e difícil. O sofrimento da perda é normal e vai ocorrendo em diversas fases. É delas que aqui falamos.

“Até que a morte nos separe” é a fórmula pronunciada no casa­mento católico, mas também o pacto secreto que fazemos com o outro numa relação que preten­demos com futuro. É com ele que nos habituamos a contar para nos ajudar a superar os maus momen­tos, a partilhar os bons, no fundo a partilhar tudo o que constituiu uma vida. A sua morte é um enor­me choque.

Com esta morte, acontecem tam­bém inúmeras perdas. Alguém perdeu a mãe ou o pai, a irmã ou o irmão, a filha ou o filho e assim por diante, coisa que promove uma instabilidade em toda a fa­mília, envolvendo diferentes as­pectos, entre eles a difícil tarefa de incluir novos papéis familia­res. Assim, o cônjuge que sobrevive tem pela frente uma dupla tarefa, que é de superar a perda, fazendo o luto, e reconciliar-se na vida familiar.

O luto é um processo complexo de “deixar ir” e não simplesmen­te uma emoção. Se a relação dura­va há muitos anos, implica mesmo uma redefinição de quem somos sem o outro. E esta não é uma ta­refa fácil!

Fases do luto. O sofrimen­to da perda é normal e vai ocor­rendo em diversas fases. Começa por uma reacção inicial de cho­que e “entorpecimento” emocio­nal em que nos faltam as forças e não queremos nem podemos ver ninguém — ou, pelo contrário, em que nos envolvemos num frene­sim organizativo para preencher o tempo e impedir de pensar. Não há filhos, não há emprego, não há família que nos preocupe, apenas um fortíssimo e profundo desgos­to. Nestes momentos, os amigos, a família e mesmo os grupos de apoio são fundamentais para não cair no limbo.

A seguir vem a saudade, aque­la sensação terrível que magoa e parece não ter fim. A tentativa de reencontrarmos o ser amado le­va a rever locais que partilhados, a conversar com amigos comuns, sempre na tentativa de avivar sen­sações. Trata-se de um comporta­mento por vezes levado à exaustão e que deixa amigos e família preo­cupados. Começa, nesta fase, a ha­ver dificuldade em encontrar for­ças para lidar com a própria dor. À medida que a morte se torna mais aceite, seguem-se momentos de desespero, de desorgani­zação, de afastamento. É a fase que mais preocupa os que estão próximos, uma vez nem o conso­lo parece ajudar a recuperar. Con­tudo, este é um tempo necessário ao luto: estar só, integrar a forma socialmente aceite de luto, sentir que podemos rir de boas recorda­ções são pequenos passos que pre­cisam de ser dados a sós.

Finalmente, dá-se um proces­so de reorganização, que emerge gradualmente, permitindo um re­gresso pleno às actividades fami­liares, sociais e profissionais. A vi­da começa a ter outro sentido, o ser amado encontrou o seu espaço na nossa vida e os rituais de perpetu­ação da sua memória foram final­mente organizados.

Viver a tristeza. Infelizmen­te, hoje em dia muitos de nós te­mos dificuldade em tolerar a tris­teza, assumindo que deve ser um sentimento intenso mas de rápi­da resolução, coisa que permite um retorno imediato à vida nor­mal. Trata-se, no entanto, de um percurso enganador e prejudi­cial, uma vez que é uma etapa que necessita de tempo para decor­rer saudavelmente. Especialistas na matéria apontam mesmo pa­ra um período entre um a quatro anos para realizar o luto.

Geralmente, o luto só se torna pro­blemático quando se prolonga com as mesmas características e tonali­dade emocional por muito tempo, quando é acompanhado por mani­festações de hostilidade aberta em relação a algumas pessoas, quan­do a recusa de contactos sociais e laborais se prolonga, quando, em situações quase limite, existe re­cusa em aceitar a morte.

Poucos acontecimentos nas nos­sas vidas mexem tanto connosco como a morte do nosso marido ou mulher. Geralmente não nos limi­tamos a perder o nosso marido ou a nossa mulher, mas o nosso me­lhor amigo. É normal sentirmos que perdemos uma parte de nós, uma relação amorosa intensa.

Recomeçar. A idade da viuvez pode ser importante para a for­ma de encarar a hipótese de uma nova relação. Se para os mais no­vos parece ser mais fácil optar por um novo companheiro, pa­ra os mais velhos não é tão claro que tal seja necessário ou mesmo adequado.

No que diz respeito aos homens idosos, as estatísticas mostram que voltam a casar mais vezes do que as mulheres da mesma faixa etária e, geralmente, com mulhe­res mais novas. A mulher mantém o seu estado de viuvez até à mor­te mais frequentemente do que o homem.

Quando se trata de jovens adultos,reiniciar uma relação é mais com­plicado. Encontrar um novo com­panheiro sem sentir que está a trair a memória do falecido, ou mesmo os familiares do seu lado que, ao contrário do que se passa no divórcio, mantêm uma relação próxima como sobrevivente, nem sempre é fácil.

Ser capaz de suportar a solidão sem “saltar” de imediato para uma relação como forma de evitar o sofrimento de fazer o luto não é uma boa ideia. Aquele que escolhermos para partilhar a nos­sa vida deve merecer uma rela­ção completa, em que a memó­ria do outro, ainda que presente, não seja um obstáculo para o ple­no desenvolvimento do relaciona­mento. Neste caso isso passa, por exemplo, por darmos tempo para decidir o que queremos fazer com objectos que foram da relação an­terior. Pode parecer uma preocu­pação prosaica, mas é uma ques­tão que habitualmente se coloca: “desmanchar ou não a mobília de quarto, pintar ou não as paredes, renovar ou não a casa?” Para po­dermos tomar essas decisões de forma consequente, precisamos de nos dar tempo.

 

Algumas ideias para ajudar a recuperar a morte do conjuge

Estimar as memórias Inicialmente às memórias estará mais associado o sofrimento, mas, com o tempo, a recordação do que se passou de bom fará soltar uma boa gargalhada.

Não sofrer sózinho Procurar encontrar uma rede de apoio, seja os amigos, a igreja, os grupos de apoio.

Falar dos sentimentos Os outros estão disponíveis para ouvir e falar com eles ajuda a “arrumar”o nosso mundo interior

Sentir Raiva Nem só a tristeza está envolvida no processo de luto. A raiva, a zanga com o outro que faleceu são também normais e precisam de ser sentidas.

Procurar aliados A tristeza é única e nunca ninguém conseguirá compreender a perda, mas os amigos, familiares e outros elemen­tos da comunidade serão bons aliados para “manter o contacto”.

Permitir-se “estar triste” É uma situação particularmente difícil quando há filhos envolvidos, mas também eles precisam de olhar para si e sentirem-se acompanhados na tristeza.

 

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Perfeccionismo – A armadilha perfeita

Num mundo conturbado e apressado como o nosso ainda existem muitas pessoas que ainda acreditam na perfeição e que procuram o sucesso em tudo o que fazem. Mas será essa uma atitude acertada?

A palavra perfeição vem do latim perfectio e refere-se a uma acção le­vada até ao limite e que atingiu a sua plenitude. O perfeccionismo é muito bem-vindo até ao momen­to em que começa a atrapalhar o funcionamento natural da vida de um indivíduo. As áreas de procu­ra de perfeição são as mais varia­das e vão desde o âmbito profissio­nal ao corpo e às relações. Mas es­ta realidade vem criando cada vez mais tensão, pois as pessoas vêem- se cada vez mais confrontadas com a incapacidade de corresponderem às expectativas que resultam de fasquias demasiado altas.

Absolutistas. Se superarmo-nos pode ser entendido como um desa­fio saudável que mantém os nos­sos objectivos, já quando ultra­passa determinados limites constitui-se numa doença. Os transtor­nos obsessivo compulsivos, aliás, são uma das facetas que a mania da perfeição levada ao extremo po­de assumir, de tal modo que o seu controlo escapa aos doentes. Mas sem entrarmos na área da patolo­gia psiquiátrica, as pessoas que têm uma forma de pensar mui­to rígida, com tendência a avaliar tudo numa dualidade do “bran­co ou preto”, dizem muito sobre a forma como se manifestam os seus sentimentos, mas também a sua saúde.

As pessoas que pensam em ter­mos rígidos, absolutistas (AB), tal como os perfeccionistas e os maníacos do controlo, são mais susceptíveis de sofrer de proble­mas emocionais e físicos do que as que se mostram mais flexíveis e pensam de uma forma “não absolutista”. Os AB ficam preocupa­dos se os acontecimentos não cor­rem como planearam, o que os pa­ralisa e impede de pôr em prática as suas capacidades para resolve­rem e lidarem com os problemas. Isso pode transformar-se em pro­blemas de saúde, tais como insó­nia, palpitações cardíacas, fadi­ga crónica e tensão arterial eleva­da. O contínuo estado de stress em que se encontram aumenta a pro­dução de uma hormona designa­da por cortisol, que, entre outros, provoca uma diminuição do fun­cionamento do sistema imunitá­rio, tornando-os mais vulnerá­veis a infecções.

Dois tipos. Existem dois tipos de perfeccionistas: os que estão orientados para a sua performan­ce e os que se preocupam com a dos outros. No primeiro caso o perfeccionismo pode ser extre­mamente valioso para ajudar em assuntos profissionais, o mesmo pode ser extremamente penoso quando se encontra um erro, con­siderado como perfeitamente ina­ceitável. Como muitos outros, pre­ocupam-se com o que as pessoas possam pensar de si, do seu traba­lho, contudo, perante o erro, sen­tem uma profunda humilhação, stress, insónia e isolam-se, pois têm dificuldade em ultrapassar o erro. Para estas pessoas é perfeita­mente aceitável que os outros co­metam erros, mas o mesmo é im­pensável para elas.

O segundo tipo de perfeccionis­tas sente-se bem consigo mesmo, mas experimenta frequentemente desilusão e frustração com os ou­tros, que parecem fazer tudo para o deixar mal. Para estas pesso­as parece que todos os dias existe algo de novo para se queixarem. Os outros estão sempre a falhar no que lhes é pedido e o que fazem nunca está bem feito. Torna- se tão frustrante que acabam por ser elas a fazer o trabalho sem pe­dir ajuda, só para não terem de li­dar com argumentos e desculpas. Este tipo de perfeccionismo causa problemas nas relações com os ou­tros, pois estas pessoas estão cons­tantemente frustradas pela inca­pacidade dos outros em preenche­rem as suas expectativas. Quando tentam explicar a situação a tercei­ros, mesmo que de uma forma cal­ma, geram tensão, mal-estar e, por vezes, conflito.

No casamento. Querer ser per­feito pode ser apenas uma ques­tão pessoal. Contudo, a realida­de mostra-nos que o perfeccionis­mo afecta quem está à volta. Geral­mente, o perfeccionista tem muita dificuldade em ficar satisfeito com o que foi atingido e os bons resul­tados ou conquistas nunca são as­sinalados, e aqueles que chefiam ou têm responsabilidades educa­tivas mostram uma imensa difi­culdade em elogiar os resultados dos outros, gerando desmotiva­ção, desânimo e revolta.

Outra dificuldade dos perfeccio­nistas passa por encobrirem os seus erros, na tentativa de con­seguirem manter a imagem que criaram de super-pessoas.

No casamento, os perfeccionis­tas lutam para que tudo seja per­feito e com isso podem apenas conseguir uma relação marcada por uma profunda insatisfação e tristeza. Os elementos de um ca­sal que consideram o seu parcei­ro perfeccionista têm mais ten­dência a utilizar o sarcasmo para lidarem com os problemas da re­lação. Estas reacções conduzem a menor satisfação no relaciona­mento. Geralmente as mulheres esperam mais dos seus parceiros do que o inverso e, consequentemente, expressam mais facilmen­te o desencanto e a tristeza por es­tes não estarem à altura das suas expectativas. A melhor forma de lidar com esta situação num casa­mento é procurar ajustar expec­tativas, encontrar objectivos real­mente possíveis e aceitar a imper­feição e o erro.

Para escapar ao perfeccionismo é necessário compreender e desa­fiar as crenças que estão subjacen­tes a esta necessidade de fazer tu­do muito bem. Por exemplo, mui­tas vezes as pessoas fazem depen­der a sua aceitação por terceiros da sua capacidade de corresponder e superar as expectativas que outros significativos têm em relação a ela. Geralmente são crenças en­raizadas em aprendizagens feitas na infância. Por isso é tão impor­tante os pais valorizarem, aplau­direm e conversarem, tentando compreender o processo do erro, dos feitos escolares e relacionais dos seus filhos.

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Maldita Internet

As novas tecnologias estão a mudar a forma como nos relacionamos. Os casais acrescentaram a Internet ao seu longo rol de maneiras de se afastarem um do outro.

Sou cada vez mais procurada por casais onde não há uma relação extraconjugal consumada com um ser humano, mas com uma máquina chamada computador e um modo de estar chamado “na­vegar no ciberespaço”.

Há algum tempo atrás recebi em consulta um casal jovem casado há 12 anos e com dois filhos. Des­creveram-me uma relação conju­gal interessante e estável para am­bos até há um ano atrás, altura em que a mulher despendia cada vez mais tempo no chat do FB, desenvolvendo o que pa­reciam ser relacionamentos on-line. O marido acreditava que as relações com diversos homens se estavam a tornar progressivamen­te mais íntimas, acontecendo mes­mo o uso de calão sexual “pesado”, nada habitual no comportamento dela. A relação de casal começou a piorar com um progressivo afasta­mento: o marido começou a passar cada vez mais tempo fora de casa, o que fez aumentar a neces­sidade da sua mulher em recorrer à Internet.

Este é um caso em que o problema da Internet é secundário aos pro­blemas do casamento. O chat do FB  servia apenas como escape para não falar sobre situa­ções desconfortáveis para o casal. Contudo, nem sempre a adição à Internet assume estes contornos, havendo pessoas que, apesar de não estarem envolvidas em rela­ções amorosas, desenvolvem com­portamentos problemáticos no que respeita ao ciberespaço. É o ca­so da adição à pornografia, uma si­tuação que me foi descrita por um bem sucedido profissional na casa dos 3o anos. Despendia muitas ho­ras no computador durante e após o horário laboral, procurando sites de pornografia, fotos e filmes, uti­lizando de forma desregrada o car­tão de crédito para aceder aos conteúdos. Descrevia a situação como estando “fora de controlo” (o que o incomodava porque contrastava com a sua capacidade de decisão), já que por várias vezes tinha ten­tado suspender por si próprio este comportamento. A vontade de le­var avante o casamento com a na­morada de há dois anos parecia constituir a motivação para pro­curar ajuda.

Trabalho ou adição? Esta for­ma de adição concretiza-se numa apetência de frequentar “espaços virtuais” e de estabelecer relações igualmente irreais. Mas nem to­dos os aditos da net procuram a mesma coisa. Os jogos, as salas de conversação, os sites de porno­grafia ou financeiros, etc., podem ser apenas alguns temas que levam estas pessoas a despender, por vezes, mais de sete horas diá­rias frente ao monitor. Ou seja, en­quanto que algumas adições estão orientadas para o jogo e a competi­ção, outras preenchem necessidades sociais ou são apenas uma ex­tensão da profissão.

Quando um jovem compromete os seus estudos, uma mulher ne­gligencia o marido e os filhos ou um marido começa a isolar-se pro­gressivamente de todos para nave­gar no ciberespaço, então há uma adição patológica. Contudo, como em muitos casos de adição, pode ser difícil estabelecer o limite en­tre o normal, resultante do entu­siasmo inicial, e o patológico. Mesmo que seja muito intenso, o gosto que sentimos por determi­nada actividade não é obrigato­riamente uma forma de adição. Inclusive, há um grau de entrega a determinadas acções que podem ser consideradas extremamente saudáveis, sem que isso constitua numa adição. No entanto, sempre que os problemas ultrapassam os benefícios dessa actividade, po­de estar em causa um comporta­mento aditivo — que leva à liberta­ção de serotonina, uma substância neuroquímica que produz euforia e sensação de prazer. Embora se­ja de curta duração, este processo é muito intenso e agradável, mas gera habituação.

Combater o tédio. A vida do dia-a-dia pode ser muito monótona e os comportamentos aditivos estão muitas vezes relacionados com a necessidade de combater esse té­dio. Muitos comportamentos au­todestrutivos, como são geralmen­te os aditivos, começam como uma tentativa de combater o tédio.

As adições também podem ser en­tendidas como uma forma de ten­tarmos controlar a ansiedade e a depressão, reflectindo inseguran­ças profundas e sentimentos de va­zio interior. A Internet é cada vez mais um meio ideal para o fazer, uma vez que permite expressar emoções e sentimentos sob a pro­tecção do anonimato.

Determinar a existência de uma adição pode não ser fácil. A In­ternet é usada por muitas pessoas como uma componente essencial da profissão e determinar se a sua utilização é excessiva não pode ter apenas como critério o número de horas dispcndidas on-line. Os utilizadores normais, por muito tem­po que estejam on-line, não sentem um desejo irresistível de entrar no ciberespaço e não negligenciam as suas tarefas profissionais, relações com a família e amigos só para es­tar à frente de um computador, coisa que acontece em casos de adição.

Provavelmente, o tipo de sociali­zação que a Internet permite é o que a torna tão apetecível. Sejam as redes sociais, salas de conversação ou jo­gos on-line, as pessoas despendem tempo a comunicar, o que não é forçosamente uma adição no que respeita a comportamentos com­pulsivos, mas uma fuga para situ­ações que recusamos enfrentar no “mundo real”.

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A Pressão do Grupo

Pertencer a um grupo ajuda os adolescentes a moldarem a sua personalidade, mas também complementa a função dos pais como educadores. Importa que uns e outros falem sobre o assunto.

Recentemente uma dos nossas canais de televisão apresen­tou um programa sobre um pro­blema crescente e cada vez mais grave relacionado com o consu­mo de álcool em jovens adoles­centes. Estamos a falar de crian­ças, pois outro nome seria difícil de lhes dar quando começam a be­ber aos 12, 13 anos. Se deixarmos de lado explicações relacionadas com a moda ou os meios de ma­rketing dos empresários da noite, restam-nos algumas opções. Refi­ro-me a uma situação particular­mente importante para os jovens adolescentes, pois para eles a per­tença ao grupo pode ser uma im­portante ajuda para moldarem a sua personalidade.

Adolescentes e o grupo. Há medida que a criança vai crescen­do e entra na adolescência, o envolvimento com o grupo de pa­res (amigos, colegas da escola, do bairro, do surf, etc.) vai aumentan­do. Como pré-adolescente, inicia rápidas mudanças físicas, emo­cionais e sociais e começa a ques­tionar os referentes dos adultos e as regras parentais. A procura de conselhos junto dos pares, que o compreende e aceita, torna-se um hábito. Afinal, estes encontram-se na mesma posição e podem com­preendê-lo melhor que ninguém. Por sua vez, a experiência de no­vas situações dentro do grupo, al­gumas perfeitamente normais e inerentes ao crescimento, assegu­ra-lhes uma protecção do medo da crítica e da ridicularização. Contudo, quando mencionamos a expressão “pressão de grupo”, muitos de nós conotam negativa­mente a situação. A ideia de que alguém ou alguma coisa pode in­fluenciar o nosso filho a ter com­portamentos destrutivos ou perigosos fora de qualquer supervisão parental é muito assustadora. Contudo, a pressão de grupo po­de ser muito positiva. É ela que contribui para que os nossos filhos participem em actividades em grupo, desportivas, culturais, de entretenimento, mesmo quan­do não são os líderes desses mes­mos grupos.

Para que serve? O grupo forne­ce aos jovens um espaço protegido para experimentar novas facetas daquilo que virão a ser, permitin­do-lhes pôr em prática duas tare­fas fundamentais no seu desenvolvimento: responder à questão de “quem sou eu?”, que contribui pa­ra a construção da sua identidade, e experimentar novas formas de li­berdade, que conduzirão à cons­trução da sua autonomia. Assim, não é de espantar que os jovens gostem tanto de estar com o seu grupo de amigos.

Todavia, a convivência entre o grupo e a família nem sempre é pacífica, existindo mesmo algu­mas situações em que pode cons­tituir uma fonte de conflito e pre­ocupação.

Filho versus grupo. Os pais in­citam com frequência uma guer­ra cerrada ao grupo de pares como fonte de todos os males. Muitas vezes, no entanto, não compreendem que este afastamento é necessário e saudável e leva a que o grupo pas­se a ter uma importância decisiva na formação do filho.

Encarar esta fase como mais uma etapa da vida de uma família, en­contrar pontos comuns e renovar regras que não excluam a crescen­te presença do grupo pode ser uma tarefa difícil mas necessária para famílias com jovens adolescentes.

Família versus grupo. Em famí­lias que atravessam momentos de crise, como dificuldades económi­cas, divórcio, desemprego, etc., ve­mos com frequência que o suporte emocional do grupo se torna ainda mais importante para o adolescen­te. Lidar com os conflitos próprios da adolescência e da situação “ex­tra” obriga-nos, a todos, a man­ter a frequência e intensidade dos mesmos o mais baixo possível

Família versus gangs. É uma realidade muito actual e nem sem­pre restrita a bairros pobres e culturalmente diversificados. São factor de preocupação para a família, pois, na maioria (para não falar na totalidade das situações conheci­das), estes grupos de jovens dedi­cam-se a actividades reconhecida­mente perigosas e ilegais. Vencer a atracção do poder associado à pro­tecção do gang pode ser uma tare­fa muito difícil para a família.

Crescer com os filhos. Algu­mas destas situações podem não encaixar na nossa família, mas a responsabilidade de encarar pro­blemas que advenham desta fase normal do desenvolvimento deve ser partilhada entre diversos ele­mentos: o adolescente, a família e a microcomunidade em que estão inseridos (seja ela a escola, o bair­ro ou outros que constituam a fon­te do grupo).

Não me canso de referir para es­tarmos atentos, mas não encarar­mos o grupo como o “ser” maléfi­co que virá roubar o nosso precioso filho, destruindo todos os valores e ideias que tão afincadamente lhe procurámos transmitir. A estraté­gia mais acertada passa por cres­cer com os nossos filhos, aceitando sempre que se trata de um relação que se vai modificar ao longo dos anos.

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Geração Canguru

Os anos 70 e 80 caracterizaram-se pela procura de independência e autonomia dos jovens perante os seus pais. Hoje, no entanto, muitos jovens adultos não vivem como os pais. Vivem com eles.

Ao contrário do que se passou há algumas décadas, encontramos hoje jovens adultos na casa dos 25, 30 anos, solteiros a viver em casa dos pais e sem pressa de lá sair. Es­ta nova situação passou a vigorar de forma natural a partir do mo­mento em que os sonhos, objec­tivos e anseios de independência tradicionais dos jovens — que pas­sam por conquistar autonomia fi­nanceira, ter casa própria, casar e ter filhos — deixaram de ter a im­portância de antes. Assim, o que parecia estranho há 4o anos atrás — jovens adultos com mais de 25 anos a viver com os pais — é hoje culturalmente aceite. O crescente número de divórcios também con­tribui para esta realidade, uma vez que o cônjuge que fica sem a cus­tódia dos filhos e sem a casa da fa­mília tende a regressar ao lar dos seus pais.

A casa dos pais. A liberdade dos actuais jovens adultos, filhos dos “aventureiros” das gerações de 70 e 80, é encontrada na privacidade do seu quarto. Não têm pressa em deixar, qual canguru bebé, a bolsa marsupial da mãe, o que lhes per­mite ter casa, comida, roupa lava­da e a possibilidade de juntar al­gum dinheiro. Mas se o dinhei­ro permite ter uma qualidade de vida melhor, o pleno desfrute das possibilidades de viajar e de lazer também pode ser a razão da per­manência em casa dos pais.

Na verdade é cada vez mais difí­cil nos dias de hoje um jovem as­sumir a responsabilidade de com­prar um apartamento ou criar uma família. Mas será este fenó­meno — genericamente aceite co­mo “geração canguru” — conse­quência da conjectura económica ou apenas a resistência em assumir as responsabilidades da vida adulta independente? E que papel têm os pais nesta dinâmica?

O papel dos pais. No que diz respeito aos pais, enquanto uns não vêem o momento de usufru­írem do seu espaço, do seu tem­po e das suas reformas, desfru­tando da possibilidade de deixa­rem de ser pais para passarem a ser avós, outros parecem acentu­ar as dificuldades da vida “lá fo­ra” e tirar partido da permanên­cia dos filhos em casa. Para estes pais, o conflito de gerações já não faz sentido. Ao permitirem esta liberdade confortável, coisa que muitos não tiveram no seu tem­po, nada cobram em troca da boa companhia e da possibilidade de evoluírem em permanente contac­to com os filhos.

O divórcio ou a morte de um dos progenitores, especialmente no caso das mulheres mães, pode promover a manutenção dos fi­lhos em casa. É uma forma de preencher o vazio, de continuar a dar um sentido à vida, sem que tal implique envolverem-se em no­vas relações, com todas as dificul­dades e decepções que implica ini­ciar uma nova vida com outro ho­mem, por exemplo. Estas mulhe­res são geralmente jovens, pois também era comum a geração de 70, 80 serem pais muito cedo, sau­dáveis e autónomas, constituindo­-se num importante e eficaz apoio para os filhos.

Perfil. O estilo canguru parece predominar na classe média e no género masculino, em jovens adul­tos com idades compreendidas en­tre 25 e 35 anos, solteiros ou divor­ciados . São geralmente profissionais bem sucedidos, com autono­mia financeira, mas que têm difi­culdade em enfrentar a vida sem a companhia de uma mulher. Cul­turalmente são o fruto de uma educação super protectora, com pais empenhados em dar-lhes o melhor.

Por sua vez, uma explicação possí­vel para a existência de menos mu­lheres nestas condições reside na necessidade que têm de continuar a terem que lutar pela definição do seu espaço na sociedade, tanto a nível pessoal como profissional, o que apesar de ainda ser sentido como uma diferença negativa tem permitido, na verdade, um cresci­mento individual e emocional que as torna mais independentes. O regresso a casa dos pais após um divórcio pode nem sempre estar relacionado com questões finan­ceiras. Se muitas vezes o pretexto encontrado para que isso aconteça é de ordem financeira, na realida­de o aconchego parental pode ser um bom meio de lidar com a baixa auto-estima, a frustração e o me­do de encarar novas relações, sen­timentos comuns após o divórcio. É como se houvesse um retorno ao estado da adolescência sem os in­cómodos da falta de autonomia. O mimo e as atenções estão lá, mas já não há o controlo apertado.

Desafio. Contudo, o cenário nem sempre é tão agradável. Mui­tos pais vêem-se na contingência de receber novamente os seus filhos, ainda que tal decisão este­ja cheia de contrariedades e com­promissos de ambas as partes. O retorno a casa vem interromper um momento do ciclo de vida fa­miliar em que normalmente os pais têm novamente a oportuni­dade de se organizar em função de outras prioridades. Desta for­ma são novamente puxados para uma situação em que as tarefas do­mésticas redobram, a intimidade é alterada, os conflitos de proximi­dade reaparecem e o jogo entre os sentimentos de culpa e a realidade de serem a única alternativa para os filhos muitas vezes abre feridas antigas entre o casal e mesmo en­tre pais e filhos.

Se por um lado a sociedade aco­lheu bem a geração canguru, por outro há que saber onde termina a linha ténue que separa os jovens adultos promissores daqueles que sofrem da síndrome de Peter Pan — que se traduz no medo de crescer e encarar os desafios da vida. O corte do cordão umbilical, que antes era feito de forma brusca, ocorre hoje de modo progressivo. Há diferença entre quem já passou dos 3o e ain­da mora com os pais, mostrando dificuldade em planear e execu­tar projectos pessoais e sabotan­do a sua vida afectiva e profissio­nal, e quem continua a investir no futuro, acumulando conquistas, estabelecendo metas e acabando por deixar a casa dos pais.

De qualquer forma, o maior desa­fio é preparar os filhos para os lan­çar no mundo, procurando provi­denciar uma educação voltada pa­ra autonomia, liberdade, respon­sabilidade e crescimento emocio­nal, para que a adolescência não se estenda para além do necessá­rio. Até os cangurus acabam por deixar a bolsa marsupial ao fim de um ano

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Mania das Pressas

A pressa é inimiga da perfeição e da nossa saúde. Aceite como um facto consumado do estilo de vida dos nossos dias, pode atingir intensidade que até já é classificada como uma síndrome.

Cada pessoa tem o seu ritmo. Uns são mais lentos, outros mais dinâ­micos, mas se a rapidez é tão extrema que qualquer um se torna preguiçoso por comparação con­sigo mesmo, então essa forma de estar resulta de uma perturba­ção psicológica e comportamen­tal que atinge cada vez mais pes­soas e pode causar não só a perda de qualidade de vida, como tam­bém problemas cardíacos, gástri­cos e outros decorrentes da queda de imunidade do organismo.

Saúde comprometida. A sín­drome da pressa foi definida nos anos 5o por dois cardiologistas americanos ao perceberem que os pacientes com problemas cardía­cos se podiam encaixar num per­fil específico. Assim, determina­ram os perfis A e o B. No caso que nos interessa, as pessoas com es­ta problemática encaixam-se no tipo A e caracterizam-se por serem ansiosas, apressadas, anda­rem num ritmo rápido, comerem as refeições quase sem dar conta de que o fizeram, comunicarem com os outros com rapidez, economia e com tendência para completa­rem a ideia do outro para apressar a conclusão. São geralmente hos­tis a situações que parecem levá- los a perder tempo e têm a capaci­dade de executar diversas tarefas ao mesmo tempo, exigindo muito de si mesmas.

A saúde destas pessoas geralmen­te fica comprometida. Estão mais sujeitas a doenças auto-imunes, problemas cardíacos, de pele e de estômago. Existe também uma li­gação entre o stress e doenças do foro psicológico, como a síndro­me de pânico e a depressão. Estas pessoas não admitem o fracasso, nem o ócio e apenas se valorizam através de feitos realizados. Aca­bam por se armadilhar a elas pró­prias, na medida em que também não são capazes de delegar, o que as sobrecarrega ainda mais de tra­balho e responsabilidade. A inca­pacidade de delegar está relaciona­da à imagem que têm de si mesmas e que lhes mostra que são capazes de fazer tudo mais rápido e melhor do que qualquer outro.

Influência na família. Assim, os portadores da síndrome da pressa acabam por dificultar a convivên­cia com os que estão à sua volta. Por serem impacientes e perfec­cionistas, têm dificuldades em li­dar com pessoas tipo B – aquelas que conseguem resistir à pressão. As áreas de dificuldade vão desde as amizades, passando pelo cam­po profissional e até sexual. A família dos apressados patológi­cos também sofre, na medida em que os ritmos de cada um dificil­mente são respeitados. Numa so­ciedade que se movimenta a uma velocidade meteórica, em que a novidade e a informação são ca­da vez mais difíceis de apreender e integrar, os pais começam a dar sinais da síndrome da pressa e os filhos têm que fazer o maior nú­mero de coisas no menor tempo possível. Hoje em dia um jovem  que se mostre contemplativo, que demonstre o gosto pela meditação ou, pura e simplesmente, consiga parar para introduzir um momen­to de relaxamento no seu dia é, no mínimo, estranho. O normal será estar a fazer alguma coisa! Nunca como hoje se falou em nas questões do prazer sexual. As ra­zões para que isso suceda são mui­tas, mas uma delas pode estar re­lacionada com o aumento do número de pessoas que, sofrendo da síndrome da pressa, se queixam cada vez mais da sua incapacida­de em sentir prazer nas relações. Na realidade, muitas delas enca­ram frequentemente o relacio­namento sexual como mais uma tarefa em que a boa performan­ce preenche a sua necessidade de perfeccionismo, não se permitin­do nem permitindo ao outro des­frutar calmamente do prazer de estar junto.

Slow food. A síndrome da pres­sa acabou por gerar uma reacção da sociedade. Na Europa de ho­je há um movimento significati­vo, com base em Itália e ramifica­ções na França, Espanha e noutros países, conhecido por slowfood. Os seus seguidores atestam as vantagens de comer e beber devagar, de apreciara preparação dos alimen­tos, partilhando-os no convívio dos amigos ou da família (sem te­levisão). Mas este movimento transcen­de a comida, tentando promover um estilo de vida mais tranqui­lo. A base desta nova forma de es­tar está em questionar a “pressa” e a “loucura” geradas pela globalização, através do apelo consumista, por oposição à qualidade de vi­da e à qualidade do “ser”.

Parar. Não é fácil lidar com pes­soas que sofrem da síndrome da pressa. Contudo, se elas forem capazes de aceitarem que são ví­timas desta perturbação, então a forma de estar das pessoas tipo B, em que predomina a calma e a pla­nificação com uma hierarquia de prioridades centrada nas suas ne­cessidades, também pode ser contagioso. Contudo, o objectivo não é que a pessoa tipo A se transforme numa do tipo B. Importa é que es­tas pessoas sejam capazes de pa­rar e compreender os motivos que geram este comportamento, e não esperar que a doença se instale pa­ra reduzir a velocidade e redefinir as prioridades e objectivos.

Parar permite-nos cultivar o afec­to nos relacionamentos por oposi­ção à funcionalidade, permite-nos conversar, ouvir e conhecer o ou­tro. Se tivermos que lidar com al­guém tipo A, a estratégia passa por não desistir e tentar opor a quali­dade à quantidade e a velocidade à persistência.

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Privacidade Global

Somos cada vez mais invadidos por reality shows e blogues, um fenómeno se iniciou na televisão norte-americana com o Candid Camera e está actualmente em plena expansão. Mais do que nunca, a privacidade está na ordem do dia.

As noções de privacidade e inti­midade são aquisições recentes na evolução da cultura ocidental. Aliás, a título da curiosidade, an­tigamente as camas tinham dos­sel porque não existia uma depen­dência da casa reservada ao casal, podendo esta estar colocada num local de passagem ou partilha­do por outros. Até há pouco tem­po nas comunidades mais peque­nas as portas não se fechavam e era comum partilhar as casas de acor­do com as necessidades e o prazer da companhia. O mundo ociden­tal tem vindo a evoluir de uma di­mensão pública para a privada. O fim dos anos 8o e o início dos anos 90, com o aparecimento da geração cocam, foi a expressão mais clara deste movimento, que atinge actualmente contornos patológicos no Japão, com os ado­lescentes capazes de passar dois, três ou até sete anos fechados no seu quarto sem qualquer contacto directo com o mundo exterior. O aparecimento do teletrabalho, da Internet, da televisão interac­tiva vieram favorecer este movi­mento centrípeto na vida das pes­soas, do qual os portugueses não são excepção.

Paradoxalmente, ou talvez não, e na medida em que nos refugia­mos cada vez mais no nosso canto, cresce o interesse por programas designados por reality shows e pro­liferam os blogues, verdadeiros diários online acessíveis a qualquer um na Internet. Os blogues, ali­ás, podem ser sinónimo de liber­dade de expressão e possibilidade de exercer um direito da democra­cia, mas a verdade é que revolucio­nam o conceito de privacidade e o que podemos fazer com ela.

Quanto às “novelas da vida real”, onde um punhado de pessoas são pagas para conviverem num espa­ço confinado, com regras especí­ficas e num tempo determinado, com frequência me questiono o que leva estas pessoas a fazê-lo e porque tem tanto impacto junto do público?

Definição. O processo de cons­trução da noção de privacidade ocorre simultaneamente com o da construção da identidade e do conceito de si próprio face aos ou­tros. É um conceito que vai sen­do alicerçado em normas, valo­res e crenças da cultura em que vamos evoluindo e que vamos ab­sorvendo através do meio familiar e social desde a mais tenra infân­cia. Este é uma das características que mais cedo começa a ser estru­turada na construção da persona­lidade do ser humano.

Muitos dos comportamentos que o bebé e mais tarde a criança desen­volvem, voltados para o auto-conhecimento do seu corpo e associa­dos a necessidades fisiológicas, vão ser remetidos para a esfera do privado por modelação do meio social e familiar, nomeadamente no que respeita aos sentimentos de pudor. A forma como cada um vai viver a sua intimidade e privacidade são o resultado da forma como a afec­tividade é estimulada, como é res­peitada a sua autonomia e como a família lida com os limites do pró­prio face aos pais e ao exterior. Recordo-me de que há algum tem­po atrás senti a necessidade de tra­balhar com uma mãe e um filho pré-adolescente os limites e noção de privacidade, pois havia alguma dificuldade em compreender que o espaço da casa de banho era pri­vado e, como tal, não era o melhor local para se entrar e contar his­tórias ou fazer pedidos. Mas esta mãe levou cerca de dez anos para sentir que precisava de demarcar este espaço da sua privacidade.

Olhar de terceiros. Existem algumas situações de desvio à normalidade e que podem cons­tituir-se em áreas do foro da psi­copatologia. Nestas, alterações no desenvolvimento harmonioso da esfera afectiva da pessoa enquan­to criança traz alterações à forma de vivenciar o desejo e a sua capacidade de se envolver numa rela­ção afectiva plena, gerando-se, no limite, uma dissociação entre o ac­to sexual, a afectividade e a rela­ção interpessoal. Subjacente está muitas vezes o medo de entrega e problemas sérios de auto-imagem e autoconfiança.

Qualquer um de nós, no entan­to, tem características de voyeur e ou exibicionista em maior ou me­nor grau sem estarem associadas ao acto sexual. Contudo, uma das questões que se coloca na actua­lidade remete para que as nossas vidas possam ser alvo dos olhares de terceiros, sem o nosso conhe­cimento ou consentimento. E es­te é um assunto polémico, na me­dida em que ao fazê-lo atentamos contra uma das necessidades mais básicas do indivíduo, que é a segu­rança e a noção de controlo da sua vida. Mais uma vez, e paradoxal­mente, fazêmo-lo em nome da se­gurança, sendo indiscutível o seu valor em casos de violência.

Mas, num sentido da perversi­dade, ser espiado pode ter conse­quências sérias ao nível de um au­mento da ansiedade, alterações de humor e um crescente senti­mento de insegurança por desconhecimento das intenções e con­sequências quem o faz. Se existir uma exposição dos factos espia­dos, pode haver um comporta­mento do indivíduo no sentido do isolamento, evitando ou re­cusando mesmo o contacto com terceiros.

Exibicionismo voluntário. Mas o que nos atrai nas pessoas que aceitam expor a sua vida priva­da? Na realidade todos somos di­ferentes em público e em priva­do. O comportamento humano é produto da personalidade, mas também do meio em que nos en­contramos. E a situação contém normas, rituais, regras, crenças, etc., que são interiorizadas atra­vés do nosso processo de sociali­zação e que nos orientam para o que pode ou não ser feito em pú­blico e em privado.

Se para cada um de nós esta é uma verdade que reconhecemos com facilidade, ficamos sempre na dúvida se o mesmo se passa com outros, especialmente quan­do se tratam de figuras muito me­diatizadas. Assim, quando pensa­mos nas “novelas da vida real” ou mesmo nos blogues que prolife­ram pela Internet, estamos a fa­lar da outra face da moeda, ou seja, do exibicionismo mais ou menos voluntário. Como diria Andy Warhol, todos temos direi­to a “15 minutos de fama”, mas es­ta só acontece se for testemunha­da por outros e, para tal, algumas pessoas esforçam-se activamente para a conseguirem. A procura da visibilidade pública através da di­vulgação de pormenores do âmbi­to da nossa intimidade e privaci­dade está muitas vezes associada a ganhos secundários, sejam eles dinheiro ou o reconhecimento social. Tal permite recuperar algu­ma da auto-estima perdida, que se vai reconstruindo aos poucos pe­lo reconhecimento do público, de amigos, dos outros. Afinal, a nossa auto-estima é também resultado de um processo interactivo.

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Novas famílias, novos papeis

As configurações familiares no início deste milénio são muito variadas e complexas. O casamento transforma- se em casamentos e muitas crianças experimentam duas vivências familiares distintas: a casa da mãe e a casa do pai.

As configurações familiares no fi­nal deste milénio são muito varia­das e complexas. Ao longo de uma vida é cada vez mais frequente “o casamento” transformar-se em “casamentos”. A família tradicio­nal transforma-se noutra de con­tornos maleáveis e dinâmicos. As crianças podem experimentar du­as vivências familiares distintas, a casa da mãe e a casa do pai. E os fi­lhos da nova união poderão ter ir­mãos residentes e irmãos de fim- de-semana… E todos acabam por desempenhar uma multiplicidade de papéis que algumas vezes não desejaram, ou sobre os quais pos­suem pouca informação.

Período crítico. A fase de transi­ção, da ruptura de uma célula fa­miliar à organização da nova es­trutura, é um período crítico, em que a definição das novas rotinas quotidianas, da gestão das emo­ções e dos medos e de encontrar o lugar de cada um na família se traduzem num esforço relacional e emocional que fragiliza todos os intervenientes. É neste período crítico que o nível de inseguran­ça emocional se acentua, como é de esperar nos processos de mu­dança. E as crianças são, infeliz­mente, os alvos preferenciais dos medos e angústias desencadeados pelas modificações profundas no seu universo socioafectivo.

Mas é sobre os adultos que gosta­ria de reflectir, pois a sua actuação pode ser determinante para que esta mudança resulte bem para as crianças, marcando a diferença entre uma “saudadezinha do pa­pá” ao adormecer, que se cura com um telefonema tranquilizante, ou o medo do abandono e do confli­to entre os pais que vão minando a tranquilidade dos mais novos. A verdade é que a qualidade da ac­tuação dos adultos depende muito da forma como gerem os seus pró­prios receios e fantasmas.

E se o novo companheiro não gosta das minhas crianças? Mui­tas vezes esta inquietação surge quando o convívio entre o novo parceiro e as crianças se intensifi­ca, nomeadamente quando come­çam a coabitar. A expectativa dos adultos em relação à intensidade dos laços afectivos é, por vezes, desadequada e origina respostas muito reactivas aos contratem­pos e ajustes que inevitavelmen­te surgem. Os afectos também se constroem e para isso é preci­so tempo.

Definir papéis. As mudanças abruptas são as mais violentas. Se já existem laços de convívio,se já pudemos observar a crian­ça a interagir com o novo compa­nheiro e gostámos do que vimos, talvez não haja motivo para gran­de inquietação. O planeamento é uma estratégia óptima para re­duzir a incerteza e os mal-enten­didos. Uma vez tomada a decisão de viverem todos juntos, é impor­tante que o novo casal se sente pa­ra conversar, definindo o papel de cada um, o exercício da autorida­de e do poder, as regras, as tare­fas, os limites a respeitar do es­paço individual. Principalmente, como agir em matérias susceptí­veis de serem fonte de desenten­dimentos — oportunidade que os mais novos geralmente aprovei­tam para “dividir para reinar” e obter coisas que de outra forma não teriam. Idealmente, e em sin­tonia com as idades das crianças, deveríamos ser capazes de dialo­gar com elas e torná-las parte in­tegrante deste processo.

Devemos deixar sempre claro pa­ra o outro o lugar que as crianças ocupam na sua vida e o quanto são importantes para si. Se o novo companheiro também tiver filhos, entenderá do que estamos a falar. Mas terá igualmente necessida­des, inquietações e expectativas relativamente aos seus próprios filhos. Um processo de negocia­ção intensa torna-se quase obri­gatório, nomeadamente enquan­to predomina o encantamento do enamoramento, que poderá facili­tar a conversa destes assuntos.

Conquista afectiva. Ser tole­rante perante uma situação que é nova para todos, onde ainda se en­saiam papéis e é natural que o ou­tro não seja perfeito, pode ser meio caminho andado para o sucesso. Para isso temos de esquecer a ten­dência generalizada entre muitos casais de fazer comparações com o “ex”, porque, apesar de desem­penhar funções parentais, o novo companheiro não é, de facto, o pai ou a mãe das crianças.

A madrasta má e o vilão também têm medos. O grande medo é ser considerado como um intruso que será rejeitado. Como tornar-se, en­tão, parte integrante da família? E se a criança não o aceita? Qual o impacto que isto vai ter na relação de casal? Estas inquietações con­tribuem para uma atitude hipervigilante, que, por sua vez, pode condicionar condutas muito reac­tivas em resposta a comportamen­tos infantis de oposição ou hosti­lidade. Estes comportamentos da criança são de esperar em qual­quer família — ainda mais numa estrutura familiar em mudança, na qual a criança ainda se sente insegura e até ameaçada — e po­dem ser interpretados numa pers­pectiva catastrófica em que é cer­to que “o miúdo vai-me odiar para sempre!”. Provavelmente a crian­ça está apenas a testar limites, ou a tentar perceber o que fazer com este tipo que, quer ela, quer even­tualmente outros adultos signifi­cativos no seu universo socioafec­tivo, responsabilizam por tomar o lugar do pai.

Conquistar estas crianças a qual­quer preço não é uma boa estraté­gia. A sedução “em esforço” não consegue ser sustentada por mui­to tempo e das duas, uma: a crian­ça sente-a como falsa e rejeita-a ou torna-se manipuladora em respos­ta à sua própria tentativa de ma­nipulação. Se encararmos logo à partida a relação com naturalida­de e com respeito, respeito por nós próprios, pela criança e pelos sen­timentos que necessitam de tem­po para amadurecer, então esta­remos a lançar as bases saudáveis para um bom relacionamento.

Direito de errar. O encontro dos sentimentos de medo da criança com as ansiedades e receios dos adultos tem que ser gerido pelo adulto. Somos nós que temos a capacidade de reflexão objectiva, que somos capazes de descentrar das nossas emoções, de sermos tolerantes e de transmitir segu­rança, de agir reflectidamente, com bom senso, ajustando as nos­sas expectativas e desejos às limi­tações e exigências da realidade, de auto-regular o nosso compor­tamento e, finalmente, exercer o poder. E como tudo isto não é fácil, temos também direito às fragilidades que habitam em to­dos nós e temos direito a errar! Não podemos é esperar que se­ja a criança a ter uma atitude ca­racterística de um adulto, mes­mo que estejamos a falar de adolescentes.

O papel do pai ou mãe é funda­mental para criar harmonia na nova família. São o seu compor­tamento e as suas atitudes que vão fornecer pistas às crianças do lugar do novo elemento na família, da sua importância, do que é e não é permitido. E é do diálogo entre o casal que nas­cem soluções criativas para as dificuldades que forem surgin­do. O grande truque talvez se­ja transformar potenciais con­flitos e agressões em problemas que necessitam de resoluções concretas. Porque este é o seu projecto e é pelo casal que a fa­mília existe.

 

Bebés. Levar um bebé para ca­sa do novo companheiro é uma situação que desencadeia medos profundos, tanto mais graves se estiverem associados a separa­ções conflituosas. Sentimentos de perda, rejeição e ciúme rela­tivos à ruptura do casal podem ser projectados nos filhos e no acto de os cuidar e partilhar.

A frustração ou sentimentos de impotência e abandono, comuns nas primeiras etapas do luto da relação, geram a necessidade de agredir aquele que “traiu” o projecto de vida a dois. Esta ne­cessidade leva a que se “instru­mentalizem” as crianças e que se façam muitas asneiras. Uma das tentações mais irresistíveis costuma ser criar aversão ao “ri­val” e ao novo lar. Ou enfatizar o distanciamento do outro pai co­mo uma troca, um abandono, sa­lientado as desvantagens de es­tar no “outro lado”.

Este tipo de estratégia tem nor­malmente dois resultados: a curto prazo a criança parece aderir e há uma recusa em estar com a “concorrência”; ou, a médio/longo prazo, se a pos­tura do “outro lado” for de to­lerância e amor, o feitiço vira­-se contra o feiticeiro. Há perda de relação e desvalorização de quem implementou esta estra­tégia. Entretanto, muito prova­velmente, viveram-se momen­tos dolorosos, alimentaram-se conflitos, criou-se desarmonia e sofrimento, pois atiçou-se o lu­me do caldeirão dos medos, dos adultos e crianças.

Contudo, devemos lembrar que ninguém pode ocupar o seu lu­gar no coração do nosso bebé, sermos o seu porto de abrigo. Ajudá-lo a enfrentar estes per­cursos com tranquilidade, não o sujeitando à violência das es­colhas impossíveis, é fundamen­tal, pois ele ama e necessita dos dois, mesmo que os dois já não sejam um.

Medos. Para neutralizar a an­gústia de não o termos sob a nossa asa protectora, devemos lembrarmo-nos de que quando escolhemos ou aceitámos ter um filho com aquele companheiro, com o qual podemos estar mui­to zangados, demos-lhe um vo­to de confiança como pai/mãe. Devemos lembrarmo-nos que o outro tem recursos que lhe per­mitiram tratar do filho conjun­to, e este precisa muito de estar com o pai/mãe em condições na­turais, em paz.

Nos pais que deixaram de viver com as crianças a tempo inteiro costuma observar-se uma ten­dência para espaçar os momen­tos de convívio com elas. Pare­ce uma reacção paradoxal, pois estamos a falar de pessoas res­ponsáveis e amantes dos seus fi­lhos. Mais uma vez, o medo tem um papel dominante na origem deste comportamento. O medo de não sermos competentes nes­te novo cenário, o medo da per­da de afecto, o medo da dor no momento da separação acciona mecanismos de defesa psicológi­cos, dos quais fazem parte a fu­ga. Ainda que fugindo ao con­fronto directo com a situação, o medo não desaparece, conti­nua lá, como que adormecido. De facto, conseguimos uma es­pécie de “alívio” imediato, mas a escassez de convívio continu­ado com os filhos acaba por tra­zer mais sofrimento e perda pa­ra nós e para eles.

O contacto com as nossas crian­ças tem um efeito psicologica­mente equilibrador. Ao vencer as primeiras etapas mais difí­ceis, a criança reafirmará o afec­to e a necessidade que tem de nós, confirmando o que sempre soubemos: que, para ela, nós somos insubstituíveis.

 Dicas para os pais:

  • Devemos ser previsíveis. Devemos evitar a todo o custo faltar aos encontros prometidos. Por, vezes as expectativas criadas são muito elevadas porque o pai ou a mãe vão estar presentes e os filhos precisam  de saber que podem continuar a contar com os pais
  • Se não pudermos de todo comparecer ao encon­tro devemos telefonar e explicar-lhe directamente a razão. Mas estas devem ser situações de excepção. É também importante deixar claro quando vai acontecer o próximo encontro.
  • Sempre que se despedirem, devemos referir “até sexta-feira!”,   para que a criança tenha uma referência concreta
  • Utilizar linguagem positiva leva-nos no reencontro, em vez de nos mostrarmos tristes porque tivemos muitas saudades da criança, transmitir-lhe a alegria que sentimos por estarem juntos
  • O importante é interagir naturalmente. Não é preciso estar continuamente a fazer programas fantásticos, que muitas vezes obrigam a esforços financeiros e psicológicos que “contaminam” os estados de espírito, deixando-nos ansiosos e criando na criança o sentimento de que tem que se divertir.

Usufruam do momento!