Don Juan e Casanova são exemplos clássicos de sedutores inquietantes, bem falantes e mal pensantes que precipitam as senhoras no mau caminho. Hoje, no mundo das SMS, da Internet e de outras tecnologias, existirá ainda lugar para sedutores?
Terá o sedutor desaparecido da nossa sociedade tendencial e sexualmente igualitária? Não me parece. Aliás, a curta duração de muitas relações, que morrem nas suas fases mais iniciais, comprovam o domínio do reino da sedução.
Em 1995, o filme Don Juan Demarco, de Jeremy Leven, interpretado por dois grandes sedutores do cinema, Marlon Brando e Johnny Deep, veio reanimar o personagem literário de Don Juan, tido como símbolo de sedução e libertinagem. Este personagem, cuja existência real ainda hoje é discutida mas largamente representada nas mais variadas formas de arte, procura representar um padrão de personalidade narcísica, sem escrúpulos, amada e odiada e que não olha a meios para conquistar uma mulher. Curiosamente, este protótipo não é descrito para o sexo feminino – tido sempre como vítima do sedutor, ainda que muitas mulheres sejam mestras na arte de seduzir.
Triunfo da conquista. Actualmente a referência ao Don Juanismo serve para caracterizar uma situação que muitas vezes se torna patológica para o sedutor e para aqueles com quem ele se relaciona. Trata-se de uma forma de estar caracterizada por uma forte compulsão para a sedução de alguém que procura enamorar-se da pessoa mais difícil de conquistar para a abandonar em seguida. São pessoas que não conseguem manter uma relação por muito tempo, partindo logo em busca de novas conquistas.
Para o Don Juan apenas interessa o instante do prazer e o triunfo sobre a sua conquista, principalmente quando o alvo do seu interesse tem uma situação relacional e civil proibida. É o aspecto do desafio que o mobiliza, fazendo com que a conquista amorosa tenha contornos de desporto e competição. O narcisismo destas pessoas é um aspecto que melhor as caracteriza, ao ponto de se amarem muito mais a si mesmas que a qualquer outra pessoa.
Estes Don Juan não são obrigatoriamente mais viris ou sexualmente activos. A sedução contínua nem sempre se dá à custa de um eventual desempenho sexual excepcional, mas devido à habilidade em oferecer sempre às mulheres aquilo que elas mais desejam. São, por isso, o protótipo do príncipe encantado, tão valorizado pelo sexo feminino desde a mais tenra infância, e têm a capacidade de perceber rapidamente os gostos e fraquezas das suas vítimas, sendo muito rápidos em satisfazer as mais diversas expectativas. Não é de estranhar, por isso, que as mulheres que se envolvem em ligações deste tipo saem muito magoadas e com uma profunda sensação de raiva e abandono.
Arte de seduzir. Para além da faceta negativa da capacidade de seduzir, geralmente instalada em personalidades imaturas, já o uso da sedução no dia-a-dia deveria ser uma arte a desenvolver e a aplicar com frequência, qualquer que seja a nossa condição. Muitos casais beneficiariam desta arte se a praticassem mais e melhor, quebrando assim rotinas maçadoras e espevitando relações mornas. O dia de São Valentim tornou-se na festa instituída para pôr em prática a capacidade de agradar ao outro, de lhe mostrar que nos importa a sua presença. É o amor com dia e hora marcada. Mas porque hoje nos casamos ou nos unimos a alguém por amor, sentimento muito pouco racional, feito de ternura e sexo, a sedução está cada vez mais que nunca na ordem do dia.
O objectivo da sedução é obter a atenção da pessoa por todos os meios possíveis para conseguir o controlo emocional e criar uma fonte de prazer. As etapas e rituais de sedução são universais, com poucas nuances, geralmente de natureza cultural. Por exemplo, quer no mundo dos humanos como no animal, é sempre a fêmea que é o sujeito da sedução e o macho o sedutor. Mas o sedutor nem sempre é aquilo que julgamos. Se um homem tentar seduzir uma mulher que não o queira, rapidamente compreenderá quem tem o poder no processo de sedução. Mas quais são as famosas etapas de sedução?
Etapas da sedução. O primeiro passo é prender a atenção do outro. Geralmente as mulheres valorizam os atributos físicos (ao contrário do mundo animal), enquanto os homens ostentam o seu poder e riqueza. Os homens exibem-se e as mulheres provocam. E vem o momento em que os olhares se cruzam. Se o olhar perscrutador do homem encontra o olhar receptivo da mulher, produz-se uma faísca repleta de promessas. Se a mulher sorri, revolve o seu cabelo com os dedos, o homem tem permissão para avançar. Caso contrário as suas hipóteses são reduzidas. O olhar é o instrumento de sedução mais eficaz no ser humano e tem o poder de decidir o sucesso ou insucesso de uma potencial relação.
A seguir há que iniciar uma conversação. A naturalidade e curiosidade em conhecer o outro um pouco melhor criam melhores probabilidades de gerar uma conversação, cujo conteúdo até nem é muito importante. A manutenção do interesse do outro é extremamente importante e para tal temos que ser observadores, estar atentos, esquecermo-nos de nós. A conversação é o ponto de ruptura: a sedução passa ou acaba, o encantamento permanece ou parte-se. De acordo com os antropólogos, é geralmente a mulher que gera o primeiro contacto físico, através de um leve aflorar da mão com a mão, sempre de forma fortuita e ingénua, ainda que premeditada e calculada quanto aos seus fins. É aí que começa o verdadeiro teste às capacidades de sedução. Com este ligeiro toque foi dito “sim interessas-me, continua a seduzir-me.”
Reacender a paixão. A arte da sedução não diz respeito apenas àqueles que se querem envolver numa relação. Ela permite fazer durar um amor e reacender momentos de paixão numa relação ameaçada pelo tempo e pelas crises.
A sedução e o amor necessitam de manutenção, no sentido de haver uma ajuda mútua na satisfação das nossas necessidades de afeição, crescimento pessoal, necessidades sexuais, sonhos, projectos conjugais. Em suma, a ser felizes.