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Money, Money, Money……..

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Este é um tema que , como consequência desta fase que estamos a atravessar, estará seguramente na “ordem do dia” de muitos casais.

Independentemente da saúde financeira da relação, o dinheiro e as finanças do casal são um dos principais preditores de divórcio e fonte de constantes discussões.

No nosso país, falar de dinheiro é quase um sacrilégio e para ultrapassar este obstáculo é necessário compreender do que estamos a falar, porque discutimos, para encontrar uma maneira de chegar a acordos.

Idealmente, antes de assumir uma união de facto ou um casamento, é importante definir como o dinheiro e o restante património será detido e gerido. Mas, se tal não acontecer antes do início da relação , não o fazer depois é um erro que muitos casais cometem.

Considero que um casamento é uma parceria, e para que esta seja saudável, convém conhecer e acordar os termos da mesma.

Então o que precisamos de saber para ter uma abordagem construtiva ao tema?

Gustavo Serbasi identifica 5 perfis (poupados, gastadores, descontrolados, desligados e financeiros), cada um com os seus pontos fortes e fracos.

Conhecê-los e identificar o nosso é algo que ajuda a perceber os hábitos de consumo de cada elemento do casal, e compreender como potenciar os pontos fortes e atenuar os fracos.

Mas existem outros fatores a considerar quando conversamos sobre gestão financeira no casal. Assim aqui ficam algumas dicas a ter em conta:

Seja transparente

Quando for necessário rever os hábitos de consumo de cada um, a honestidade é a melhor política. A análise dos registos de despesa de forma conjunta, com o compromisso da ausência de comentários depreciativos e críticas maliciosas, ajuda a definir metas , a encontrar zonas problemáticas que precisam ser reduzidas.

Se após a definição de um orçamento fizer uma despesa não programada ou num valor superior ao acordado, não tente escondê-la do parceiro mas converse sobre a forma de acomodar esse valor e como proceder no futuro.

Estabelecer um plano

As questões relativas à poupança são também um tema frequente discódia. Nos 5 perfis referidos anteriormente, um dos pontos fracos de 2 deles, relacionam-se com o valor excessivo atribuído à poupança, que impede usufruir a vida de forma variada (jantar fora, viajar, etc).

Assim, quando falamos de poupanças é importante estabelecer metas comuns para ajudar a calcular o montante a economizar cada mês.

Também temos que considerar um montante de poupança individual para situações futuras como a reforma. Existem fórmulas que ajudam a calcular o esforço financeiro adequado a cada casal e que podem ser encontradas com a ajuda de um consultor financeiro.

Conheça os hábitos da família de origem de cada um

A forma como encaramos a nossa relação com o dinheiro construiu-se ao longo do tempo, e com uma grande influência da nossa família e dos seus hábitos financeiros.

Conhecer esta história, permite-nos colocar no lugar do outro e compreender melhor as motivações para os gastos.

É muito importante perceber o valor atribuído ao dinheiro. Para algumas famílias os gastos com os filhos são sinónimo de amor e como tal prioridade, muitas vezes sem limites. Para outros, o dinheiro é fator de segurança, especialmente em famílias que passaram dificuldades ou em que circulava a mensagem de que o dinheiro seria a única forma de construir autonomia. Pode ainda ser significado de valorização pessoal, status, poder.

Não existe uma maneira certa ou errada na forma de interpretar o significado do dinheiro, mas conhecê-lo ajuda-nos a perceber os comportamentos do outro e ajuda o próprio a consciencializar-se das suas atitudes.

Quais os gatilhos que desencadeiam despesas

As compras por impulso são muitas vezes uma forma de atenuar a nossa ansiedade ou de promover um sentimento de reconhecimento e recompensa que não foi obtido de outra forma. Tentar compreender, em casal, qual o contexto emocional e de necessidades não satisfeitas, permite perceber aquilo que está subjacente e que verdadeiramente necessitamos.

A ansiedade e perturbações do foro mental, muitas vezes levam a este tipo de comportamentos e beneficiam de uma intervenção de um psicólogo.

Partilhar informação relativamente aos ganhos reais que cada um obteve

Com frequência, um dos parceiros ganha mais que o outro, ou tem proventos para além do seu salário. A partilha desta informação é essencial para determinar um orçamento equitativo.

A divisão de despesas a meias não é solução quando existe uma disparidade acentuada. Uma divisão proporcional, geralmente é a forma mais aceite e sentida como justa.

Partilhe com o parceiro como nos se sente quando o fator “diferença de salário” é uma realidade que impacta não só na nossa autoestima, como também pode alterar a relação de poder.

Decidir quem controla o quê

Haver um responsável pelo orçamento e pagamento de contas pode fazer sentido. Contudo, esta opção pode levar a excessos de poder ou falhas nos pagamentos.

Tal como noutras situação, tenham uma conversa aberta e honesta com o intuito de perceber como se processa o excesso de controle e encontrar soluções temporárias ou mais definitivas para cumprir prazos de pagamentos.

A alternância de papeis, se previamente estabelecida, pode ser uma solução para ambos os problemas, controle e esquecimento.

Planear o futuro

Ter filhos, dar assistência aos pais e/ou outros dependentes são questões que estarão presentes para muitos casais.

Uma conversa acerca do que pretendem proporcionar aos vossos filhos em termos educativos, como pretendem encarar eventuais necessidades de acompanhamento, financeiro ou outro, dos familiares mais idosos ou dependentes, também irá influenciar o vosso plano financeiro de curto prazo e permitirá perceber valores e formas de encarar o valor da vida.

Dívidas e encargos

Qual o montante de dívida, desde cartões de crédito a empréstimos ou pensões de alimentos, trazemos para a relação?

As dívidas que trazemos para uma relação são da nossa responsabilidade, moral e financeira. Contudo, irão afetar a capacidade do próprio e do casal para construir  e atingir as metas do orçamento.

Se necessário, procurem um plano de renegociação da dívida que permita acomodar as necessidades do orçamento conjunto. Mais uma vez, a transparência e um diálogo construtivo são muito importantes.

Não sendo o tema mais romântico para o início de uma relação, o contrato antenupcial, no caso dos casamentos, ajuda a que logo desde o princípio fiquem claras as questões relativas ao património.

Celebrar conquistas

Depois de alguns anos de rotinas os casais têm tendência a cair numa zona de conforto que potencia conflitos. Celebrar as conquistas, periodicamente, que refletem o esforço do casal, com pequenos gestos, ou simplesmente com o assinalar de mais uma meta alcançada, reforça e aproxima a relação de casal.

O tema dinheiro é difícil. Regra geral, não tivemos acesso a uma educação financeira o que nos deixa muitas vezes inseguros. ( já agora, é fundamental educar financeiramente os filhos, dar-lhes a conhecer o valor do dinheiro, o seu papel na família, a importância do aforro, etc).

Mas a noção do nós em casal é relativa a todas as áreas, as conquistas e dificuldades a este nível são para partilhar, a proximidade e cumplicidade, o amor também se constrói assim.

African American woman is sitting and contemplating something

Não me vou aborrecer …..

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O tédio parece chato ao princípio, mas,

 caso leve a um saudável desespero,

 acaba sempre por ser fértil e criativo.

Miguel Esteves Cardoso

Aviso:

Este texto não se destina aos muitos portugueses que não estão de todo entediados na medida em que se encontram extraordinariamente ocupados, desempenhando a sua profissão no local de trabalho, em teletrabalho ou lidando com crianças, parentes ou daqueles que mais necessitam. Para estes o meu respeito!

Estar fechado em casa é aborrecido e leva a que se instale uma sensação de tédio. E o tédio pode ser avassalador. Os minutos não passam, vemos e revemos os mesmos canais e séries, lemos os infindáveis posts sobre os mesmos temas nas redes sociais, sempre com a certeza de que há qualquer outra coisa mais interessante que poderíamos ou deveríamos estar a fazer.

O tédio surge quando temos um determinado nível de energia que não conseguimos direcionar. Pode acontecer também por falta de estímulo e satisfação naquilo que estamos a fazer. Esta situação em que os encontramos, coloca-nos precisamente o desafio de encontrar uma forma de gastar essa energia e oportunidade de o fazer com significado.

Donde vêm essa energia?

Muitos de nós vamos experimentar um aumento de ansiedade, que nos predispõe à ação. Quando não temos onde gastá-la, começamos a sentirmo-nos entediados e em vez de ficarmos satisfeitos e relaxados ao assistir àquela série há tanto desejada, estamos inquietos e desconfortáveis.

Um outro fator desencadeador do tédio, é a sensação de falta de controle. Quando não gostamos ou não estamos interessados numa tarefa, mudamos, fazemos de forma diferente, ou fazemos outra coisa. Se estamos fartos de estar em casa, saímos para tomar um café, estar com amigos e voltamos revigorados e motivados para retomar a tarefa. Agora não é possível e esta falta de liberdade e controle, promove o tédio.

É como alguém me dizia: “Estou sem rumo, apenas à espera que o distanciamento físico termine”.

Mas ainda que o tédio seja muito desconfortável, não tem que ser totalmente negativo. As pessoas entediadas podem optar por sentar-se no sofá e acabar de uma vez com um pacote de batatas fritas, mas também podem ser extremamente produtivas, como Isaac Newton que, durante a quarentena imposta pela grande praga de Londres, em 1665, utilizou o tempo de isolamento para descobrir o cálculo e a gravidade.

O tédio tem uma função adaptativa para os seres vivos. Assinala-nos que estamos a deixar ir o controle sobre as nossas vidas e empurra-nos para a ação.

Então como combater o tédio?

Aceite o tédio

Parte do desconforto do tédio sempre existiu, mas estava camuflado pelo ritmo quotidiano em que o valor pessoal era medido pela produtividade.

A paragem obrigatória leva a que muitas pessoas questionem os processos rotineiros e, na ausência deles, sobra o tempo e a falta de sentido.

Contudo, quando o nosso cérebro está “aborrecido”, dedica-se a encontrar novas conexões neuronais, gerar ideias, fazer planos, torna-se criativo.

Encontre o seu ritmo

As rotinas estruturam os nossos dias e dão-nos um sentimento de coerência que potencia o propósito da nossa vida. Agora que a rotina do quotidiano, que nos obrigava a deslocar para o trabalho/escola, que era uma das mais significantes para a nossa identidade social, desapareceu, abriu-se o espaço para o tédio, a menos que outras rotinas igualmente estruturantes sejam adotadas.

Experimente algo novo

O tédio empurra muitos de nós para a necessidade de algo novo. Aproveitar esse impulso para aprender uma receita, uma atividade, uma competência, não só ajuda a curto prazo como se torna numa mais-valia para o futuro e contribuiu para um sentimento de auto-satisfação.

Deixe-se levar

A necessidade de encontrar atividades suficientemente desafiantes é difícil. Tenha em mente que o que encontre para fazer como interessante de manhã pode deixar de sê-lo ao longo do dia, ou das semanas que passam. Não se mantenha nessa atividade se sentir que precisa de uma pausa, mesmo que a pressão social assim o imponha.

Viva sem culpa os momentos de lazer

Ao ficarmos sem fazer nada, parece que desperdiçamos o tempo que até aí, mesmo no lazer, foi ocupado por imensas atividades. A modernidade tornou-nos dependentes dos momentos únicos e singulares que impedem que o tédio se instale com a intensidade da novidade constante.

Não há problema em consumir séries dos canais de streaming se for tudo o que consegue fazer no momento. Se tem prazer em dedicar-se a nada, aceite esses momentos como o seu reset mental para o que se segue.

Recorde porque estamos em casa

Precisamos de atribuir sentido ao “não fazer nada”.

Tal como a emoção, o tédio é influenciado por aquele que é o nosso pensamento do momento. Ou seja, ficar em casa só tem sentido quando pensamos ativamente no bem maior que implica. Reenquadrar a forma como pensamos acerca do que fazemos muda o nosso sentir.

Ficar em casa é a forma mais eficaz de conter a transmissão do vírus, é o meu superpoder.

Young girl enjoys the early sun by the window

Ainda não é desta que vou ceder

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Não existe forma de “dourar a pílula”. Permanecer em isolamento com a família e/ou o companheiro por perto é fonte de stress e desgaste.

Por outro lado, a gestão do medo, da ansiedade associados à incerteza da situação, pode levar-nos a perturbados e com dificuldade de regressar a um estado de equilíbrio.

Se este fôr o caso, tente pôr em prática técnicas de relaxamento e exercício físico como forma de baixar a intensidade da ativação das emoções.

Existe um exercício de relaxamento, especialmente eficaz, conhecido por “4 elementosTerra, Ar, Água e Fogo” de Elan Shapiro, que ajuda, de forma rápida, a lidar com situações de vida negativas:

Os ativadores de stress internos e externos tem efeito cumulativo ao longo do dia e lidamos melhor com o stress quando ficamos dentro da “janela de tolerância” de ativação.

Um antídoto para ativadores de stress é a monitorização frequente e aleatória do nível de stress com ações simples de redução do mesmo para manter os seus níveis dentro da janela de tolerância.

Assim, use uma pulseira no pulso (de borracha, ou de cordel) e sempre que notar a presença, faça uma rápida leitura do nível atual de stress (por exemplo, numa escala de 0 a 10, sendo 0 a ausência de stress e o 10 o nível máximo de stress) e realize 3 ou 4 breves exercícios de relaxamento/autocontrole (os 4 elementos) e então avalie novamente o nível de stress (0 a 10).

O objetivo, modesto, é reduzir o nível de stress em 1 ou 2 pontos de cada vez e fazer isso pelo menos 10 vezes ao dia em momento aleatórios, a partir de diferentes níveis de stress inicial.

Ao evitar que as suas respostas de stress se acumulem, torna-se mais hábil a permanecer dentro da sua janela de tolerância.

Terra: ponha os pés no chão e tome consciência do local onde está. Sinta a textura do sofá onde está sentado. Seguidamente, repare em 3 objetos à sua volta (ex: “uma cadeira, uma mesa, um telemóvel”). O objetivo é sair da espiral de pensamentos perturbadores e intrusivos e trazer a sua atenção para o “aqui e agora”;

Ar: Vamos usar a “respiração quadrada”:respire fundo, pausadamente (conte 1-2-3-4 enquanto inspira; 1-2-3-4 enquanto retem o ar; 1-2-3-4 expire; 1-2-3-4 suspenda a respiração (antes de voltar a inspirar, reiniciando o ciclo), usando o diafragma.;

Água: beba água ou salive. Quando está ansioso, stressado, a sua boca fica seca, porque parte da resposta de emergência ao stress produzida pelo Sistema Nervoso Simpático, é desativar o sistema digestivo. Quando começa a produzir saliva, ativa novamente o sistema digestivo, pondo em ação o Sistema Nervoso Parassimpático, promovendo a resposta de relaxamento. É por isso que se oferece água, chá ou rebuçados às pessoas após uma experiência difícil. Quando há produção de saliva, a sua mente é capaz de controlar melhor os pensamentos e o corpo.

Fogo: Vamos “aquecer” a imaginação – procure uma imagem de um local agradável, real ou imaginado, inspirador de paz, confiança, segurança, relaxamento. Descreva-o em voz alta utilizando para tal os 5 sentidos: o que ouve? O que vê? O que cheira? O que sente? A que sabe? Simultaneamente vá respirando de forma profunda e pausada.

O exercício físico deverá ser adaptado às condições do espaço de cada um, e, de momento existem vários exemplos a circular na internet. Deixo-vos um, que estando em inglês, é fácil de fazer seguindo as instruções visuais

Este exercício, cross crawl, oferece uma maneira eficaz de reiniciar o sistema nervoso e reintegrar a mente e o corpo. Pode usá-lo regularmente para descarregar e recarregar a sua atenção e energia. Gera uma ótima oportunidade para distrair do foco em excesso e também funciona colocando o corpo e a mente alinhados. Além de um desactivador do stress ou como um aquecimento para se mexer melhor, o exercício traz benefícios sócio-emocionais significativos:

• Maior autoconsciência

• Melhor discernimento do contexto

• Mais clareza de pensamento

• Melhor controle de impulsos

• Melhorias na coordenação física geral

Estas são algumas ideias para ajudar a lidar com estes momentos diferentes e ansiogénicos que vivemos. Contudo são estratégias que podemos pôr em prática sempre que sentirmos necessidade de encontrar algum relaxamento e paz interior.

Fique bem, mantenha-se seguro(a)

Autor: Catarina Mexia (Psicóloga Clínica)

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Comunicar bem em casal – agora e sempre

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Com frequência sou questionada como comunicar melhor, quando, nas consultas de terapia de casal, a principal queixa é apresentada como “não sabemos comunicar”.

Nestes dias de quarentena que vão correndo, esta é uma capacidade fundamental. O potencial de conflito encerrado num processo comunicacional deficiente é enorme, e nesta situação de proximidade constante está exponenciado.

Comunicar é essencialmente ouvir!

Esta é uma das nossas competências mais subutilizadas . Na realidade, a maioria de nós acha que está a ouvir, quando na realidade está envolvido num diálogo interno que lhe permitirá refutar o que pensa que o outro lhe disse.

Quando não há envolvimento ativo no processo de escuta, muita informação não é rececionada (verbal e não verbal) e outra não é retida.

Para nos empenharmos num processo de escuta ativa precisamos utilizar os 5 sentidos. Esta prática não só nos informa sobre o outro, mas também sobre nós mesmos. A atenção ao corpo, a presença no “aqui e agora” permite-nos a construção de um feedback genuíno e que abre o diálogo incentivando uma comunicação positiva.

Assim devemos ter presente o seguinte:

·      Ouça para além do que é dito

Muitas discussões acontecem por razões que os casais descrevem como “tão pouco importantes que já nem se lembram”. Na realidade, a maioria dos conflitos começa com a “gota de água” que faz transbordar o mal estar de necessidades não satisfeitas. Queixar-me de que o meu companheiro não participa na confeção do jantar, na realidade pode ser uma queixa que poderia ser formulada como “Estive longe de ti todo o dia, queria a tua companhia, sentir que sou especial, que sentiste a minha falta também!” ( sim, a partilha das tarefas também aliviam o cansaço do outro)

·      Atente à linguagem não verbal

Compreenda e valorize a linguagem corporal do outro e atente na sua.

Muitas vezes o mal estar que sentimos numa conversa, pode ser explicado pela incongruência entre o que é dito e o comportamento, a linguagem corporal.

Quando estamos a falar com alguém que expressa verbalmente a sua preocupação pelo que lhes transmitimos e tem o olhar fixo no telefone, nas redes sociais, o mal estar que esse diálogo nos faz sentir é legitimo. As minhas palavras dizem “Interesso-me, preocupa-me com o que dizes”, o meu comportamento revela o contrário – e isso é irritante.

Tenha atenção à forma como se expressa e ao modo como se comporta no diálogo com o outro.

·      Time-out

Um diálogo pode estar imbuído de todo o tipo de respostas emocionais, desde a alegria à tristeza passando pela raiva e a zanga.

Quando em conflito, muitas vezes chegamos a um estado de ativação neurofisiológica e emocional que nos impede “manter a cabeça fria” e estar disponível para ouvir o outro.

Aceitem como estratégia o sinal de “time out” como forma de se retirarem da conversa o suficiente (20 minutos costuma ser o tempo adequado) para acalmar e permitir que o seu corpo e as suas emoções regressem a um nível gerível.

·      Realidade única?

A empatia e a bondade são dois elementos fundamentais para uma boa comunicação. A velha questão “queres ter razão ou ser feliz?” implica um equilíbrio entre a nossa visão e a compreensão do outro e da sua realidade. Ficar preso na busca da verdade absoluta só nos bloqueia. Admitir que existirão sempre 2 versões da realidade permite-nos construir pontes, processos de negociação.

·      Negociação

A maioria das negociações termina em compromisso de ambas as partes.

Numa boa conversa, ir mais além do “bater bolas” é fundamental.

Perdermo-nos nos pormenores, no ataque ao outro, não nos deixa perceber que muitas vezes ambos queremos o mesmo, mas temos caminhos diferentes para lá chegar.

Assim, procurem partilhar as vossas necessidades para além da queixa, para poderem passar à fase da resolução. Começar por aceitar que não terão uma solução boa, mas uma suficientemente boa para ambos é o primeiro passo para construir um compromisso partilhado.

Se o meu cansaço na relação se traduz na queixa de falta de iniciativa do outro para programar uma saída a dois, e o meu parceiro se queixa da minha falta de iniciativa para partilhar o sofá nas noites de semana, provavelmente ajuda assumir que o problema é o reconhecimento da necessidade da companhia do outro e da iniciativa de cada um para o demonstrar. Então encontrar um compromisso que permita satisfazer as necessidades especificas de cada um (ficar em casa, sair para jantar), dar-nos-á uma boa probabilidade de chegar a uma solução mutuamente satisfatória.

 Não existem relações perfeitas.

Como alguém dizia, “Casais felizes não são os que não discutem, mas aqueles que sabem resolver uma discussão”.

Autor: Catarina Mexia (Psicóloga Clínica)

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Sedução e Sedutores

Don Juan e Casanova são exemplos clássicos de sedutores inquietantes, bem falantes e mal pensantes que precipitam as senhoras no mau caminho. Hoje, no mundo das SMS, da Internet e de outras tecnologias, existirá ainda lugar para sedutores?

Terá o sedutor desaparecido da nossa sociedade tendencial e se­xualmente igualitária? Não me parece. Aliás, a curta duração de muitas relações, que morrem nas suas fases mais iniciais, comprovam o domínio do reino da sedução.

Em 1995, o filme Don Juan Demar­co, de Jeremy Leven, interpretado por dois grandes sedutores do cinema, Marlon Brando e Johnny Deep, veio reanimar o persona­gem literário de Don Juan, tido como símbolo de sedução e liber­tinagem. Este personagem, cuja existência real ainda hoje é discu­tida mas largamente representada nas mais variadas formas de arte, procura representar um padrão de personalidade narcísica, sem escrúpulos, amada e odiada e que não olha a meios para conquistar uma mulher. Curiosamente, este protótipo não é descrito para o sexo feminino – tido sempre co­mo vítima do sedutor, ainda que muitas mulheres sejam mestras na arte de seduzir.

Triunfo da conquista. Actual­mente a referência ao Don Juanis­mo serve para caracterizar uma situação que muitas vezes se torna patológica para o sedutor e para aqueles com quem ele se relaciona. Trata-se de uma forma de estar caracterizada por uma forte com­pulsão para a sedução de alguém que procura enamorar-se da pes­soa mais difícil de conquistar para a abandonar em seguida. São pes­soas que não conseguem manter uma relação por muito tempo, partindo logo em busca de novas conquistas.

Para o Don Juan apenas interessa o instante do prazer e o triunfo so­bre a sua conquista, principalmen­te quando o alvo do seu interesse tem uma situação relacional e ci­vil proibida. É o aspecto do desafio que o mobiliza, fazendo com que a conquista amorosa tenha contor­nos de desporto e competição. O narcisismo destas pessoas é um aspecto que melhor as caracteri­za, ao ponto de se amarem muito mais a si mesmas que a qualquer outra pessoa.

Estes Don Juan não são obriga­toriamente mais viris ou sexual­mente activos. A sedução contínua nem sempre se dá à custa de um eventual desempenho sexual ex­cepcional, mas devido à habilida­de em oferecer sempre às mulheres aquilo que elas mais desejam. São, por isso, o protótipo do príncipe encantado, tão valorizado pelo sexo feminino desde a mais tenra infância, e têm a capacidade de perceber rapidamente os gostos e fraquezas das suas vítimas, sendo muito rápidos em satisfazer as mais diversas expectativas. Não é de estranhar, por isso, que as mulheres que se envolvem em ligações deste tipo saem muito magoadas e com uma profunda sensação de raiva e abandono.

Arte de seduzir. Para além da faceta negativa da capacidade de seduzir, geralmente instalada em personalidades imaturas, já o uso da sedução no dia-a-dia deveria ser uma arte a desenvolver e a aplicar com frequência, qualquer que seja a nossa condição. Muitos casais beneficiariam desta arte se a praticassem mais e melhor, que­brando assim rotinas maçadoras e espevitando relações mornas. O dia de São Valentim tornou-se na festa instituída para pôr em prática a capacidade de agradar ao outro, de lhe mostrar que nos importa a sua presença. É o amor com dia e hora marcada. Mas porque hoje nos casamos ou nos unimos a alguém por amor, sen­timento muito pouco racional, feito de ternura e sexo, a sedução está cada vez mais que nunca na ordem do dia.

O objectivo da sedução é obter a atenção da pessoa por todos os meios possíveis para conseguir o controlo emocional e criar uma fonte de prazer. As etapas e ri­tuais de sedução são universais, com poucas nuances, geralmente de natureza cultural. Por exem­plo, quer no mundo dos huma­nos como no animal, é sempre a fêmea que é o sujeito da sedução e o macho o sedutor. Mas o sedu­tor nem sempre é aquilo que julga­mos. Se um homem tentar sedu­zir uma mulher que não o queira, rapidamente compreenderá quem tem o poder no processo de sedu­ção. Mas quais são as famosas eta­pas de sedução?

Etapas da sedução. O primei­ro passo é prender a atenção do outro. Geralmente as mulheres valorizam os atributos físicos (ao contrário do mundo animal), enquanto os homens ostentam o seu poder e riqueza. Os homens exibem-se e as mulheres provo­cam. E vem o momento em que os olhares se cruzam. Se o olhar perscrutador do homem encon­tra o olhar receptivo da mulher, produz-se uma faísca repleta de promessas. Se a mulher sorri, revolve o seu cabelo com os dedos, o homem tem permissão para avançar. Caso contrário as suas hi­póteses são reduzidas. O olhar é o instrumento de sedução mais efi­caz no ser humano e tem o poder de decidir o sucesso ou insucesso de uma potencial relação.

A seguir há que iniciar uma con­versação. A naturalidade e curio­sidade em conhecer o outro um pouco melhor criam melhores probabilidades de gerar uma con­versação, cujo conteúdo até nem é muito importante. A manuten­ção do interesse do outro é extre­mamente importante e para tal temos que ser observadores, estar atentos, esquecermo-nos de nós. A conversação é o ponto de ruptura: a sedução passa ou acaba, o encan­tamento permanece ou parte-se. De acordo com os antropólogos, é geralmente a mulher que gera o primeiro contacto físico, através de um leve aflorar da mão com a mão, sempre de forma fortuita e ingénua, ainda que premeditada e calculada quanto aos seus fins. É aí que começa o verdadeiro teste às capacidades de sedução. Com este ligeiro toque foi dito “sim interes­sas-me, continua a seduzir-me.”

Reacender a paixão. A arte da sedução não diz respeito apenas àqueles que se querem envolver numa relação. Ela permite fazer durar um amor e reacender mo­mentos de paixão numa relação ameaçada pelo tempo e pelas crises.

A sedução e o amor necessitam de manutenção, no sentido de ha­ver uma ajuda mútua na satisfa­ção das nossas necessidades de afeição, crescimento pessoal, ne­cessidades sexuais, sonhos, pro­jectos conjugais. Em suma, a ser felizes.

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Até que a morte nos separou

Fazer luto pela pessoa com quem partilhámos a vida é um processo extraordinariamente doloroso e difícil. O sofrimento da perda é normal e vai ocorrendo em diversas fases. É delas que aqui falamos.

“Até que a morte nos separe” é a fórmula pronunciada no casa­mento católico, mas também o pacto secreto que fazemos com o outro numa relação que preten­demos com futuro. É com ele que nos habituamos a contar para nos ajudar a superar os maus momen­tos, a partilhar os bons, no fundo a partilhar tudo o que constituiu uma vida. A sua morte é um enor­me choque.

Com esta morte, acontecem tam­bém inúmeras perdas. Alguém perdeu a mãe ou o pai, a irmã ou o irmão, a filha ou o filho e assim por diante, coisa que promove uma instabilidade em toda a fa­mília, envolvendo diferentes as­pectos, entre eles a difícil tarefa de incluir novos papéis familia­res. Assim, o cônjuge que sobrevive tem pela frente uma dupla tarefa, que é de superar a perda, fazendo o luto, e reconciliar-se na vida familiar.

O luto é um processo complexo de “deixar ir” e não simplesmen­te uma emoção. Se a relação dura­va há muitos anos, implica mesmo uma redefinição de quem somos sem o outro. E esta não é uma ta­refa fácil!

Fases do luto. O sofrimen­to da perda é normal e vai ocor­rendo em diversas fases. Começa por uma reacção inicial de cho­que e “entorpecimento” emocio­nal em que nos faltam as forças e não queremos nem podemos ver ninguém — ou, pelo contrário, em que nos envolvemos num frene­sim organizativo para preencher o tempo e impedir de pensar. Não há filhos, não há emprego, não há família que nos preocupe, apenas um fortíssimo e profundo desgos­to. Nestes momentos, os amigos, a família e mesmo os grupos de apoio são fundamentais para não cair no limbo.

A seguir vem a saudade, aque­la sensação terrível que magoa e parece não ter fim. A tentativa de reencontrarmos o ser amado le­va a rever locais que partilhados, a conversar com amigos comuns, sempre na tentativa de avivar sen­sações. Trata-se de um comporta­mento por vezes levado à exaustão e que deixa amigos e família preo­cupados. Começa, nesta fase, a ha­ver dificuldade em encontrar for­ças para lidar com a própria dor. À medida que a morte se torna mais aceite, seguem-se momentos de desespero, de desorgani­zação, de afastamento. É a fase que mais preocupa os que estão próximos, uma vez nem o conso­lo parece ajudar a recuperar. Con­tudo, este é um tempo necessário ao luto: estar só, integrar a forma socialmente aceite de luto, sentir que podemos rir de boas recorda­ções são pequenos passos que pre­cisam de ser dados a sós.

Finalmente, dá-se um proces­so de reorganização, que emerge gradualmente, permitindo um re­gresso pleno às actividades fami­liares, sociais e profissionais. A vi­da começa a ter outro sentido, o ser amado encontrou o seu espaço na nossa vida e os rituais de perpetu­ação da sua memória foram final­mente organizados.

Viver a tristeza. Infelizmen­te, hoje em dia muitos de nós te­mos dificuldade em tolerar a tris­teza, assumindo que deve ser um sentimento intenso mas de rápi­da resolução, coisa que permite um retorno imediato à vida nor­mal. Trata-se, no entanto, de um percurso enganador e prejudi­cial, uma vez que é uma etapa que necessita de tempo para decor­rer saudavelmente. Especialistas na matéria apontam mesmo pa­ra um período entre um a quatro anos para realizar o luto.

Geralmente, o luto só se torna pro­blemático quando se prolonga com as mesmas características e tonali­dade emocional por muito tempo, quando é acompanhado por mani­festações de hostilidade aberta em relação a algumas pessoas, quan­do a recusa de contactos sociais e laborais se prolonga, quando, em situações quase limite, existe re­cusa em aceitar a morte.

Poucos acontecimentos nas nos­sas vidas mexem tanto connosco como a morte do nosso marido ou mulher. Geralmente não nos limi­tamos a perder o nosso marido ou a nossa mulher, mas o nosso me­lhor amigo. É normal sentirmos que perdemos uma parte de nós, uma relação amorosa intensa.

Recomeçar. A idade da viuvez pode ser importante para a for­ma de encarar a hipótese de uma nova relação. Se para os mais no­vos parece ser mais fácil optar por um novo companheiro, pa­ra os mais velhos não é tão claro que tal seja necessário ou mesmo adequado.

No que diz respeito aos homens idosos, as estatísticas mostram que voltam a casar mais vezes do que as mulheres da mesma faixa etária e, geralmente, com mulhe­res mais novas. A mulher mantém o seu estado de viuvez até à mor­te mais frequentemente do que o homem.

Quando se trata de jovens adultos,reiniciar uma relação é mais com­plicado. Encontrar um novo com­panheiro sem sentir que está a trair a memória do falecido, ou mesmo os familiares do seu lado que, ao contrário do que se passa no divórcio, mantêm uma relação próxima como sobrevivente, nem sempre é fácil.

Ser capaz de suportar a solidão sem “saltar” de imediato para uma relação como forma de evitar o sofrimento de fazer o luto não é uma boa ideia. Aquele que escolhermos para partilhar a nos­sa vida deve merecer uma rela­ção completa, em que a memó­ria do outro, ainda que presente, não seja um obstáculo para o ple­no desenvolvimento do relaciona­mento. Neste caso isso passa, por exemplo, por darmos tempo para decidir o que queremos fazer com objectos que foram da relação an­terior. Pode parecer uma preocu­pação prosaica, mas é uma ques­tão que habitualmente se coloca: “desmanchar ou não a mobília de quarto, pintar ou não as paredes, renovar ou não a casa?” Para po­dermos tomar essas decisões de forma consequente, precisamos de nos dar tempo.

 

Algumas ideias para ajudar a recuperar a morte do conjuge

Estimar as memórias Inicialmente às memórias estará mais associado o sofrimento, mas, com o tempo, a recordação do que se passou de bom fará soltar uma boa gargalhada.

Não sofrer sózinho Procurar encontrar uma rede de apoio, seja os amigos, a igreja, os grupos de apoio.

Falar dos sentimentos Os outros estão disponíveis para ouvir e falar com eles ajuda a “arrumar”o nosso mundo interior

Sentir Raiva Nem só a tristeza está envolvida no processo de luto. A raiva, a zanga com o outro que faleceu são também normais e precisam de ser sentidas.

Procurar aliados A tristeza é única e nunca ninguém conseguirá compreender a perda, mas os amigos, familiares e outros elemen­tos da comunidade serão bons aliados para “manter o contacto”.

Permitir-se “estar triste” É uma situação particularmente difícil quando há filhos envolvidos, mas também eles precisam de olhar para si e sentirem-se acompanhados na tristeza.

 

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Perfeccionismo – A armadilha perfeita

Num mundo conturbado e apressado como o nosso ainda existem muitas pessoas que ainda acreditam na perfeição e que procuram o sucesso em tudo o que fazem. Mas será essa uma atitude acertada?

A palavra perfeição vem do latim perfectio e refere-se a uma acção le­vada até ao limite e que atingiu a sua plenitude. O perfeccionismo é muito bem-vindo até ao momen­to em que começa a atrapalhar o funcionamento natural da vida de um indivíduo. As áreas de procu­ra de perfeição são as mais varia­das e vão desde o âmbito profissio­nal ao corpo e às relações. Mas es­ta realidade vem criando cada vez mais tensão, pois as pessoas vêem- se cada vez mais confrontadas com a incapacidade de corresponderem às expectativas que resultam de fasquias demasiado altas.

Absolutistas. Se superarmo-nos pode ser entendido como um desa­fio saudável que mantém os nos­sos objectivos, já quando ultra­passa determinados limites constitui-se numa doença. Os transtor­nos obsessivo compulsivos, aliás, são uma das facetas que a mania da perfeição levada ao extremo po­de assumir, de tal modo que o seu controlo escapa aos doentes. Mas sem entrarmos na área da patolo­gia psiquiátrica, as pessoas que têm uma forma de pensar mui­to rígida, com tendência a avaliar tudo numa dualidade do “bran­co ou preto”, dizem muito sobre a forma como se manifestam os seus sentimentos, mas também a sua saúde.

As pessoas que pensam em ter­mos rígidos, absolutistas (AB), tal como os perfeccionistas e os maníacos do controlo, são mais susceptíveis de sofrer de proble­mas emocionais e físicos do que as que se mostram mais flexíveis e pensam de uma forma “não absolutista”. Os AB ficam preocupa­dos se os acontecimentos não cor­rem como planearam, o que os pa­ralisa e impede de pôr em prática as suas capacidades para resolve­rem e lidarem com os problemas. Isso pode transformar-se em pro­blemas de saúde, tais como insó­nia, palpitações cardíacas, fadi­ga crónica e tensão arterial eleva­da. O contínuo estado de stress em que se encontram aumenta a pro­dução de uma hormona designa­da por cortisol, que, entre outros, provoca uma diminuição do fun­cionamento do sistema imunitá­rio, tornando-os mais vulnerá­veis a infecções.

Dois tipos. Existem dois tipos de perfeccionistas: os que estão orientados para a sua performan­ce e os que se preocupam com a dos outros. No primeiro caso o perfeccionismo pode ser extre­mamente valioso para ajudar em assuntos profissionais, o mesmo pode ser extremamente penoso quando se encontra um erro, con­siderado como perfeitamente ina­ceitável. Como muitos outros, pre­ocupam-se com o que as pessoas possam pensar de si, do seu traba­lho, contudo, perante o erro, sen­tem uma profunda humilhação, stress, insónia e isolam-se, pois têm dificuldade em ultrapassar o erro. Para estas pessoas é perfeita­mente aceitável que os outros co­metam erros, mas o mesmo é im­pensável para elas.

O segundo tipo de perfeccionis­tas sente-se bem consigo mesmo, mas experimenta frequentemente desilusão e frustração com os ou­tros, que parecem fazer tudo para o deixar mal. Para estas pesso­as parece que todos os dias existe algo de novo para se queixarem. Os outros estão sempre a falhar no que lhes é pedido e o que fazem nunca está bem feito. Torna- se tão frustrante que acabam por ser elas a fazer o trabalho sem pe­dir ajuda, só para não terem de li­dar com argumentos e desculpas. Este tipo de perfeccionismo causa problemas nas relações com os ou­tros, pois estas pessoas estão cons­tantemente frustradas pela inca­pacidade dos outros em preenche­rem as suas expectativas. Quando tentam explicar a situação a tercei­ros, mesmo que de uma forma cal­ma, geram tensão, mal-estar e, por vezes, conflito.

No casamento. Querer ser per­feito pode ser apenas uma ques­tão pessoal. Contudo, a realida­de mostra-nos que o perfeccionis­mo afecta quem está à volta. Geral­mente, o perfeccionista tem muita dificuldade em ficar satisfeito com o que foi atingido e os bons resul­tados ou conquistas nunca são as­sinalados, e aqueles que chefiam ou têm responsabilidades educa­tivas mostram uma imensa difi­culdade em elogiar os resultados dos outros, gerando desmotiva­ção, desânimo e revolta.

Outra dificuldade dos perfeccio­nistas passa por encobrirem os seus erros, na tentativa de con­seguirem manter a imagem que criaram de super-pessoas.

No casamento, os perfeccionis­tas lutam para que tudo seja per­feito e com isso podem apenas conseguir uma relação marcada por uma profunda insatisfação e tristeza. Os elementos de um ca­sal que consideram o seu parcei­ro perfeccionista têm mais ten­dência a utilizar o sarcasmo para lidarem com os problemas da re­lação. Estas reacções conduzem a menor satisfação no relaciona­mento. Geralmente as mulheres esperam mais dos seus parceiros do que o inverso e, consequentemente, expressam mais facilmen­te o desencanto e a tristeza por es­tes não estarem à altura das suas expectativas. A melhor forma de lidar com esta situação num casa­mento é procurar ajustar expec­tativas, encontrar objectivos real­mente possíveis e aceitar a imper­feição e o erro.

Para escapar ao perfeccionismo é necessário compreender e desa­fiar as crenças que estão subjacen­tes a esta necessidade de fazer tu­do muito bem. Por exemplo, mui­tas vezes as pessoas fazem depen­der a sua aceitação por terceiros da sua capacidade de corresponder e superar as expectativas que outros significativos têm em relação a ela. Geralmente são crenças en­raizadas em aprendizagens feitas na infância. Por isso é tão impor­tante os pais valorizarem, aplau­direm e conversarem, tentando compreender o processo do erro, dos feitos escolares e relacionais dos seus filhos.

Woman Using Laptop

Maldita Internet

As novas tecnologias estão a mudar a forma como nos relacionamos. Os casais acrescentaram a Internet ao seu longo rol de maneiras de se afastarem um do outro.

Sou cada vez mais procurada por casais onde não há uma relação extraconjugal consumada com um ser humano, mas com uma máquina chamada computador e um modo de estar chamado “na­vegar no ciberespaço”.

Há algum tempo atrás recebi em consulta um casal jovem casado há 12 anos e com dois filhos. Des­creveram-me uma relação conju­gal interessante e estável para am­bos até há um ano atrás, altura em que a mulher despendia cada vez mais tempo no chat do FB, desenvolvendo o que pa­reciam ser relacionamentos on-line. O marido acreditava que as relações com diversos homens se estavam a tornar progressivamen­te mais íntimas, acontecendo mes­mo o uso de calão sexual “pesado”, nada habitual no comportamento dela. A relação de casal começou a piorar com um progressivo afasta­mento: o marido começou a passar cada vez mais tempo fora de casa, o que fez aumentar a neces­sidade da sua mulher em recorrer à Internet.

Este é um caso em que o problema da Internet é secundário aos pro­blemas do casamento. O chat do FB  servia apenas como escape para não falar sobre situa­ções desconfortáveis para o casal. Contudo, nem sempre a adição à Internet assume estes contornos, havendo pessoas que, apesar de não estarem envolvidas em rela­ções amorosas, desenvolvem com­portamentos problemáticos no que respeita ao ciberespaço. É o ca­so da adição à pornografia, uma si­tuação que me foi descrita por um bem sucedido profissional na casa dos 3o anos. Despendia muitas ho­ras no computador durante e após o horário laboral, procurando sites de pornografia, fotos e filmes, uti­lizando de forma desregrada o car­tão de crédito para aceder aos conteúdos. Descrevia a situação como estando “fora de controlo” (o que o incomodava porque contrastava com a sua capacidade de decisão), já que por várias vezes tinha ten­tado suspender por si próprio este comportamento. A vontade de le­var avante o casamento com a na­morada de há dois anos parecia constituir a motivação para pro­curar ajuda.

Trabalho ou adição? Esta for­ma de adição concretiza-se numa apetência de frequentar “espaços virtuais” e de estabelecer relações igualmente irreais. Mas nem to­dos os aditos da net procuram a mesma coisa. Os jogos, as salas de conversação, os sites de porno­grafia ou financeiros, etc., podem ser apenas alguns temas que levam estas pessoas a despender, por vezes, mais de sete horas diá­rias frente ao monitor. Ou seja, en­quanto que algumas adições estão orientadas para o jogo e a competi­ção, outras preenchem necessidades sociais ou são apenas uma ex­tensão da profissão.

Quando um jovem compromete os seus estudos, uma mulher ne­gligencia o marido e os filhos ou um marido começa a isolar-se pro­gressivamente de todos para nave­gar no ciberespaço, então há uma adição patológica. Contudo, como em muitos casos de adição, pode ser difícil estabelecer o limite en­tre o normal, resultante do entu­siasmo inicial, e o patológico. Mesmo que seja muito intenso, o gosto que sentimos por determi­nada actividade não é obrigato­riamente uma forma de adição. Inclusive, há um grau de entrega a determinadas acções que podem ser consideradas extremamente saudáveis, sem que isso constitua numa adição. No entanto, sempre que os problemas ultrapassam os benefícios dessa actividade, po­de estar em causa um comporta­mento aditivo — que leva à liberta­ção de serotonina, uma substância neuroquímica que produz euforia e sensação de prazer. Embora se­ja de curta duração, este processo é muito intenso e agradável, mas gera habituação.

Combater o tédio. A vida do dia-a-dia pode ser muito monótona e os comportamentos aditivos estão muitas vezes relacionados com a necessidade de combater esse té­dio. Muitos comportamentos au­todestrutivos, como são geralmen­te os aditivos, começam como uma tentativa de combater o tédio.

As adições também podem ser en­tendidas como uma forma de ten­tarmos controlar a ansiedade e a depressão, reflectindo inseguran­ças profundas e sentimentos de va­zio interior. A Internet é cada vez mais um meio ideal para o fazer, uma vez que permite expressar emoções e sentimentos sob a pro­tecção do anonimato.

Determinar a existência de uma adição pode não ser fácil. A In­ternet é usada por muitas pessoas como uma componente essencial da profissão e determinar se a sua utilização é excessiva não pode ter apenas como critério o número de horas dispcndidas on-line. Os utilizadores normais, por muito tem­po que estejam on-line, não sentem um desejo irresistível de entrar no ciberespaço e não negligenciam as suas tarefas profissionais, relações com a família e amigos só para es­tar à frente de um computador, coisa que acontece em casos de adição.

Provavelmente, o tipo de sociali­zação que a Internet permite é o que a torna tão apetecível. Sejam as redes sociais, salas de conversação ou jo­gos on-line, as pessoas despendem tempo a comunicar, o que não é forçosamente uma adição no que respeita a comportamentos com­pulsivos, mas uma fuga para situ­ações que recusamos enfrentar no “mundo real”.

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A Pressão do Grupo

Pertencer a um grupo ajuda os adolescentes a moldarem a sua personalidade, mas também complementa a função dos pais como educadores. Importa que uns e outros falem sobre o assunto.

Recentemente uma dos nossas canais de televisão apresen­tou um programa sobre um pro­blema crescente e cada vez mais grave relacionado com o consu­mo de álcool em jovens adoles­centes. Estamos a falar de crian­ças, pois outro nome seria difícil de lhes dar quando começam a be­ber aos 12, 13 anos. Se deixarmos de lado explicações relacionadas com a moda ou os meios de ma­rketing dos empresários da noite, restam-nos algumas opções. Refi­ro-me a uma situação particular­mente importante para os jovens adolescentes, pois para eles a per­tença ao grupo pode ser uma im­portante ajuda para moldarem a sua personalidade.

Adolescentes e o grupo. Há medida que a criança vai crescen­do e entra na adolescência, o envolvimento com o grupo de pa­res (amigos, colegas da escola, do bairro, do surf, etc.) vai aumentan­do. Como pré-adolescente, inicia rápidas mudanças físicas, emo­cionais e sociais e começa a ques­tionar os referentes dos adultos e as regras parentais. A procura de conselhos junto dos pares, que o compreende e aceita, torna-se um hábito. Afinal, estes encontram-se na mesma posição e podem com­preendê-lo melhor que ninguém. Por sua vez, a experiência de no­vas situações dentro do grupo, al­gumas perfeitamente normais e inerentes ao crescimento, assegu­ra-lhes uma protecção do medo da crítica e da ridicularização. Contudo, quando mencionamos a expressão “pressão de grupo”, muitos de nós conotam negativa­mente a situação. A ideia de que alguém ou alguma coisa pode in­fluenciar o nosso filho a ter com­portamentos destrutivos ou perigosos fora de qualquer supervisão parental é muito assustadora. Contudo, a pressão de grupo po­de ser muito positiva. É ela que contribui para que os nossos filhos participem em actividades em grupo, desportivas, culturais, de entretenimento, mesmo quan­do não são os líderes desses mes­mos grupos.

Para que serve? O grupo forne­ce aos jovens um espaço protegido para experimentar novas facetas daquilo que virão a ser, permitin­do-lhes pôr em prática duas tare­fas fundamentais no seu desenvolvimento: responder à questão de “quem sou eu?”, que contribui pa­ra a construção da sua identidade, e experimentar novas formas de li­berdade, que conduzirão à cons­trução da sua autonomia. Assim, não é de espantar que os jovens gostem tanto de estar com o seu grupo de amigos.

Todavia, a convivência entre o grupo e a família nem sempre é pacífica, existindo mesmo algu­mas situações em que pode cons­tituir uma fonte de conflito e pre­ocupação.

Filho versus grupo. Os pais in­citam com frequência uma guer­ra cerrada ao grupo de pares como fonte de todos os males. Muitas vezes, no entanto, não compreendem que este afastamento é necessário e saudável e leva a que o grupo pas­se a ter uma importância decisiva na formação do filho.

Encarar esta fase como mais uma etapa da vida de uma família, en­contrar pontos comuns e renovar regras que não excluam a crescen­te presença do grupo pode ser uma tarefa difícil mas necessária para famílias com jovens adolescentes.

Família versus grupo. Em famí­lias que atravessam momentos de crise, como dificuldades económi­cas, divórcio, desemprego, etc., ve­mos com frequência que o suporte emocional do grupo se torna ainda mais importante para o adolescen­te. Lidar com os conflitos próprios da adolescência e da situação “ex­tra” obriga-nos, a todos, a man­ter a frequência e intensidade dos mesmos o mais baixo possível

Família versus gangs. É uma realidade muito actual e nem sem­pre restrita a bairros pobres e culturalmente diversificados. São factor de preocupação para a família, pois, na maioria (para não falar na totalidade das situações conheci­das), estes grupos de jovens dedi­cam-se a actividades reconhecida­mente perigosas e ilegais. Vencer a atracção do poder associado à pro­tecção do gang pode ser uma tare­fa muito difícil para a família.

Crescer com os filhos. Algu­mas destas situações podem não encaixar na nossa família, mas a responsabilidade de encarar pro­blemas que advenham desta fase normal do desenvolvimento deve ser partilhada entre diversos ele­mentos: o adolescente, a família e a microcomunidade em que estão inseridos (seja ela a escola, o bair­ro ou outros que constituam a fon­te do grupo).

Não me canso de referir para es­tarmos atentos, mas não encarar­mos o grupo como o “ser” maléfi­co que virá roubar o nosso precioso filho, destruindo todos os valores e ideias que tão afincadamente lhe procurámos transmitir. A estraté­gia mais acertada passa por cres­cer com os nossos filhos, aceitando sempre que se trata de um relação que se vai modificar ao longo dos anos.